- two;

4K 396 344
                                    


"ela tem olhos iguais aos céus mais azuis;
como se eles pensassem na chuva"
Sweet Child O' Mine- Guns N' Roses

Roberto Nascimento;





Meu trabalho é o trabalho mais estressante do mundo e isso é certeza, parceiro. Mas, é o trabalho dos meus sonhos e eu sou muito bom no que faço. Sem modéstia nenhuma.

A operação no Morro do Turano tem me consumindo por inteiro e sendo honesto, eu tô de saco cheio de ser cobrado pelo meu batalhão, pelo coronel e até por mim mesmo. Minha mente não descansa, meu corpo anseia por combate e a minha coisa favorita da vida ainda é colocar a bandidagem no lugar deles: no caixão.

Não existe nada que me convença o contrário, pra mim, bandido bom é bandido morto. Sem choro e nem vela. Família todo mundo tem. A bandidagem tem seu preço, centenas de crianças armadas até os dentes no morro é uma parada difícil de engolir, mas eu nunca vi medida socioeducativa regenerar ninguém.

E, para piorar a porra da minha situação de merda, fui ferido na última operação em que participei. Não foi nada grave, um tiro de raspão disparado por um finado vagabundo. Mas, graças a essa porcaria, me obrigaram a cumprir a um atestado médico longo para um caralho. Estou nessa merda de situação porque aparentemente minha reação após quase tomar um tiro na cabeça não foi "adequada"; na opinião de meia dúzia de ativistazinhos não se pode mais largar bala em sementinha do mal que tenta matar policial.

É muita cobrança, um falso moralismo do caralho pra quem se mistura com vagabundo sustentar. Todo mundo quer dar um tapinha na verdinha pra relaxar, mas ninguém sobe morro pra apaziguar quando morador tá sendo esculachado por guerra de facção, correndo risco de morrer ao sair de casa. Nessas horas, todo mundo ama o BOPE.

Além disso, Mathias estava agindo na emoção, dificultando ainda mais o meu trabalho e, nesse caso, a gente não pode dar mole. O Governador do Rio pediu a favela adestrada e o meu batalhão vai largar o aço em qualquer um que latir errado.

Viro meu corpo quando ouço a voz de Rafael, meu filho. Havia me esquecido completamente que esse moleque viria aqui hoje. A ligação com Mathias estava rolando, mas quando ele apresentou a tal garota, amiguinha de faculdade dele, a barulhada operacional deu uma abafada. E de repente, nada.

Isabela...

Isabela.

Uau.

Desci meus olhos por seu corpo, medindo a garota por alguns segundos, até pararem em seu rosto. O conjunto todo da obra é muito bem apresentado. A menina é bonita pra um grandíssimo caralho. Mas, a primeira coisa que, de fato, prendeu minha atenção foram os olhos azuis intensos que brilhavam de um modo único, difícil desviar o meu olhar deles.

A voz de Mathias no telefone, me tira do meu leve devaneio e eu me viro para frente, sentindo toda a tensão dessa operação voltar. Tive que bater cabeça com meu encarregado, mais do que eu gostaria. Policial do BOPE tem que saber onde pisa e como pisa. Mathias é um cara cabeça, essencialmente treinado e pronto para a guerra, mas quando se trata de crianças, ele perde a razão.

Com muito custo, Mathias concordou comigo e se comprometeu a fazer o que eu mandei. Encerro a ligação, puxo o ar profundamente e solto de uma vez. Pego a mão de Rafael, abraçando meu filho.

Mais uma vez, deixo meus olhos medirem a garota, agora mais de perto.

Os olhos azuis em um tom intenso prendeu minha atenção, de novo. Ela parece um anjo de tão linda, nem respondi quando Rafael se mandou. Minha primeira reação foi apertar a mão de Isabela que se encaixou perfeitamente a minha, ela é toda delicadinha, mas eu conheço a turminha do meu filho. Um monte de filhinho papai metido a socialista.

meu sogro - capitão nascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora