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"você está acelerando, acelerando
e acelerando muito
e o som foi assustador;
você estava aproveitando uma parte disso
você vai me acertar como um relâmpago."
white mustang - lana del rey

Isabela Belmonte;

Minha vida se tornou um tormento, desde que resolvi fazer essa porcaria de trabalho para a faculdade. Sendo sincera, eu deveria ter feito o básico.

Lido bem com o básico, amo o básico, eu sou básica! Quero dizer, por mais que eu tente não tomar partidos e critique ambos lados, a polarização política em torno desse trabalho nunca vai me deixar em paz.

Quer dizer, nem tudo foi de todo ruim. Inevitavelmente, pensei bastante nas coisas que o Capitão Nascimento havia dito e, em como ele acreditava e defendia o seu lado. Ele é um homem bastante convincente, podemos dizer assim. Em português claro: se um homem muito forte e gostoso que porta armas de guerra te diz que o trabalho dele é te proteger... bem, você acredita, não?

— Amiga, consegui com a Fabiana de irmos até a ONG dela entrevistar algumas pessoas. - Luana diz sem desviar os olhos do seu celular. — Ela disse que o pessoal lá tem consciência social e que vai ser tranquilo, mas pediu para irmos durante a parte da tarde porque a noite o bicho tem pegado fogo lá.

— Pera aí, gente? É nem morta que eu subo aquilo lá, tá tendo maior confusão porque estão tentando apaziguar. - Ana Beatriz, minha outra amiga e companheira de grupo retruca. — Imagina tomar bala perdida?

— Para de ser assim, Bia. - respondo, revirando meus olhos e cruzando os braços. Ana Beatriz se supera. — Se a Lua disse que nos aconselharam a ir à tarde, vamos à tarde.

Luana e eu olhamos para Bia na mesma hora e ela bufa, antes de abanar a mão como se estivesse se dando por vencida. Quanto antes eu acabar com esse trabalho, mais tempo vou poder passar tranquilamente. Eu só preciso da nota. Só a porcaria da nota e mais nada.

Fabiana, a diretora da ONG que vai nos ajudar é conhecida da minha melhor amiga. Ela é uma mulher esperta, engajada nessas questões sociais e tem o respeito da comunidade; não é uma loucura grande demais confiar nela.

— Vocês estão ficando loucas pra caralho, gente. - ouço a voz de Rafael e na mesma hora, viro-me para olhá-lo. — Vocês querendo subir à favela, só podem ter pirado mesmo. Vocês tem noção do que tá rolando lá em cima?

— Não, mas você tem, né? Teu pai tá lá batendo em morador todo dia. - Luana retruca, antes que nós pudéssemos responder ou abrir a boca. — Quero dizer, eu sei que é o trab...

— Vai se foder, Luana! Olha a merda que você está falando, meu pai não é bandido não. Pelo contrário, ele tá fazendo o dele. - Rafael explode em resposta, dando alguns passos na direção de Luana.

A discussão entre eles se acalorou, minha única reação foi entrar na frente e tocar o seu peito, impedindo-o de avançar mais ainda. Luana e Rafael são pessoas totalmente opostas, em absolutamente tudo. Realidades e ideologias, vez ou outra elas se encontram e nunca acabam bem.

— Já chega, Rafa. Chega. - aumento o meu tom de voz, usando pouca força para fazê-lo recuar. — Tá tudo bem, ela exagerou, mas você também não precisa surtar assim.

— Essa tua amiguinha que é toda cheia de militância e frescurinha. Faz o seguinte, subam vocês naquela merda, mas quando o caldo engrossar, não contem com o batalhão do meu pai para tirar vocês de lá não, hein? - Rafael fala por uma última vez, antes de afastar as minhas mãos dele com um pouco de brutalidade e nos dar as costas.

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⏰ Última atualização: Jul 29 ⏰

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