Capítulo Vinte

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Quando finalmente Enzo parou de me beijar, o mundo parecia ter ficado em suspenso por um instante. Eu me ajeitei no banco ao seu lado, tentando recuperar o fôlego e organizar meus pensamentos. A intensidade do momento ainda pairava no ar, tornando o silêncio que se seguiu quase ensurdecedor. Enzo ligou o carro novamente, e voltamos para a cidade em um silêncio confortável, cada um perdido em seus próprios pensamentos. A viagem de volta pareceu interminável. As paisagens passavam por nós como um borrão, mas na minha mente, tudo estava cristalino. Cada toque, cada olhar, cada palavra trocada ecoava dentro de mim. Quando finalmente chegamos à universidade, o sol já começava a despontar no horizonte, tingindo o céu de tons alaranjados. Ao nos despedirmos, a estranheza tomou conta. Não sabíamos onde colocar as mãos, como agir, como se a magia daquele momento anterior tivesse nos deixado desorientados. Pela primeira vez, percebi que a paixão que por anos me prendeu me fez perder a melhor parte de um primeiro amor: o nervosismo, o coração acelerado, o frio na barriga. Sentir-me confortável com Enzo era bom, mas agora eu entendia que poderia me permitir sentir mais do que isso. Poderia me sentir ansiosa por ele também. Ele se inclinou e deu um beijo suave na minha testa, um gesto terno que fez meu coração disparar mais uma vez. Seus olhos encontraram os meus, e ele sorriu, um sorriso que continha uma mistura de carinho e nervosismo.

─ֺ──۪ Não fique tão nervosa, dona Maya. Eu também estou nervoso. ─ֺ──۪  Essas palavras, ditas com tanta sinceridade, fizeram meu peito se aquecer. Sorri de volta, sentindo uma nova onda de emoções me inundar. Enzo apertou minha mão antes de se afastar, e enquanto ele se dirigia para o lado do alojamento masculino.

Quando abri a porta e vi Riley ali, imediatamente percebi o nervosismo em seu rosto. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela se virou e correu para mim, me abraçando apertado, como se buscasse proteção. Todos os problemas da minha vida pareciam tão complexos, mas, ao parar para pensar, percebi que sempre tive a solução bem ali: minha melhor amiga. Riley sempre esteve ao meu lado, assim como seus pais, que também se tornaram meus pais. E, claro, Shaw, que entrou em minha vida e se tornou o melhor pai que eu poderia ter. Minha mãe que finalmente estava em paz com seu marido Shaw. poderia ter seguido em frente há tanto tempo. Eu queria contar a Riley que finalmente perdoei Josh. Ele não era mais o amor da minha vida; apenas meu primeiro amor, alguém que passou. Queria dizer que perdoei meu genitor e que não precisava mais carregar tanto ódio dentro de mim. Queria compartilhar que Enzo me fazia feliz, que ele estava comigo agora, e que, pela primeira vez, alguém segurava minha mão sem medo. Eu queria contar tudo isso, mas, em vez disso, desabei a chorar de alívio. Pela primeira vez em toda a minha vida, eu podia ver com clareza como eu era feliz e sortuda por cada pessoa que entrou e saiu do meu caminho. Riley me apertou mais forte, sem precisar de palavras. Seu abraço dizia tudo: ela estava ali para mim, como sempre esteve. Senti uma onda de gratidão inundar meu coração. As lágrimas que escorriam pelo meu rosto eram de alegria e libertação. Finalmente, eu podia deixar para trás todos os fardos que carreguei por tanto tempo.

─ֺ──۪ Tudo vai ficar bem, Maya. Eu estou aqui. ─ֺ──۪  E, naquele momento, eu soube que estava tudo bem. Eu tinha a minha família escolhida, tinha amor, tinha amizade. E isso era tudo que eu precisava para seguir em frente, feliz e em paz.

Ouvi a porta do quarto se abrir e passos pesados se aproximando. Não precisava me virar para saber que, quando fui finalmente abraçada, não era só Riley que estava ali, mas também Lucas e Farkle. O cheiro familiar me transportou de volta à nossa infância, quando explorávamos o mundo juntos. Sabia que perderíamos a primeira aula, mas não importava. Ficamos ali por cinco, dez, talvez mais minutos, sem precisar de palavras.Quando finalmente nos afastamos, nos sentamos no chão. Lucas foi o primeiro a quebrar o silêncio.

─ֺ──۪ Eu sinto falta da janela, ─ֺ──۪  disse ele, referindo-se à janela do quarto de Riley, onde costumávamos nos sentar.

─ֺ──۪ Eu também  ─ֺ──۪ respondeu Farkle,  ─ֺ──۪ mas acho que não era a janela que fazia tudo especial. Eram vocês.

Eu abracei Farkle de lado, lembrando que, na infância, provavelmente teria batido nele por algo assim. Mas agora, podia aceitar qualquer demonstração de carinho.

─ֺ──۪ Quer nos contar? ─ֺ──۪  perguntou Lucas, a preocupação evidente em sua voz.

─ֺ──۪ Sim,  ─ֺ──۪ comecei, respirando fundo.  ─ֺ──۪ Eu fui até a casa do meu pai e disse que o perdoo.

─ֺ──۪ Como você se sente, Maya? ─ֺ──۪  perguntou Riley, seus olhos cheios de compreensão.

─ֺ──۪ Em paz, ─ֺ──۪ respondi.  ─ֺ──۪ Eu me sinto em paz e aliviada.

─ֺ──۪ E agora, qual é o plano? ─ֺ──۪  perguntou Lucas, sempre prático.

─ֺ──۪ Viver, Lucas, disse com um sorriso.  ─ֺ──۪ Agora eu sei que preciso viver e seguir em frente, sem perder nenhum de vocês. Aceito tudo o que a vida me trouxer.

─ֺ──۪ Maya, você nunca vai nos perder, ─ֺ──۪  disseram os três em uníssono.

Caímos na gargalhada quando isso aconteceu, e então apenas ficamos ali, conversando sobre as aulas, nossos planos e nossas famílias. Naquele momento, percebi que, independentemente do que o futuro trouxesse, eu nunca estaria sozinha. Com eles ao meu lado, eu podia enfrentar qualquer coisa.

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