[2] ☄️the curious gleam of your eyes

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Era sua primeira vez sentada em uma estrada.

O chão sólido coberto por algumas pedrinhas era menos desconfortável do que um dia acreditara. A brisa era mais agradável dali e também não havia nenhum cheiro podre impregnando suas narinas e apesar da corrente de excitação de tocar e observar todas as coisas, a sua inusitada companhia roubou-lhe a atenção toda para ela.

Seus olhos cinzentos continham aquele brilho perigoso de curiosidade, afinal também era sua primeira vez vendo criaturas enormes tão de perto. Apenas as imagens que continham nos livros perdidos em sua enorme estante não faziam jus à imagem real. Ela se recordava perfeitamente da primeira vez que encontrou as imagens, achara as criaturas magníficas, mesmo que sempre descritas como aterrorizantes e perigosas em todas as páginas que eram citadas. Seus caracteres ainda eram interessantes, no fim se encontrou mais intrigada do que assustada, portanto seus olhos cinzentos admirados quase não piscavam, temendo perder uma única ação do animal majestoso.

Olhos bicolores.

O robusto animal de pelagem esbranquiçada, que tinha as extremidades pontudas pintadas em um preto ônix, era dono de belos olhos bicolores.

A enorme criatura pendeu a cabeça para o lado, sentando sob suas patas, as orelhas pontudas atentas e o fucinho negro tremendo, parecendo tão curioso sobre si, quanto a si mesmo estava.

Sorriu, achando aquela ação simplesmente adorável, totalmente oposta a descrição que continha em seu livro. E com um sorriso arteiro, espalmou suas mãos sobre o solo e também tombou a cabeça para o lado, imitando o animal.

Tire estas feras de perto de mim!

— Você fede a medo. É óbvio que iria atraí-los.

Tetri retornou lentamente à posição anterior, sentindo a dor aguda em seus músculos, no entanto a ignorando prontamente, endireitou a postura e torceu a boca, formando uma careta que era escondida pelo véu, lembrando-se novamente do motivo de estar agora sentada em uma estrada desconhecida sob os olhos atentos de um lobo. Ela havia tentado ignorar as presenças secundárias, pois ainda não sabia direito o que pensar sobre elas, todavia, lá estavam elas, logo atrás do lobo, entretidas em uma calorosa discussão. Era barulhento e Tetri apreciava o barulho, pois o silêncio era entediante, no entanto a mistura nova em seu paladar podia ser levemente atordoante.

E então a voz de Anabel retornou em sua cabeça.

O-o que está acontecendo, por que paramos? — Ela fora a primeira a se pronunciar. Sua voz estava trêmula, e seus olhos inquietos, encaravam todos os pontos possíveis dentro da carruagem como se buscasse resposta. Isto fora o suficiente para alarmar a todas, que ameaçavam derrubar lágrimas a qualquer instante.

Tetri recordava-se de franzir a testa e concentrar-se no som do lado de fora. Vozes, uma provável discussão e um corpo caindo. O último acontecimento fora o responsável pelas seguintes lamúrias assustadas de suas amas, que abraçavam-se e rezavam em tom alto e clamavam pela ajuda dos Celestiais. Os cascos dos cavalos batendo contra o chão fora o segundo motivo. Estavam andando novamente.

Naquele momento sua mente dividiu-se em dois pensamentos extremos, um deles sendo o correto, o já pré-estabelecido antes mesmo de sua idade adulta, acabar com aquilo tudo com um simples levantar de mão, talvez nem isso, e assim libertar a todas, entretanto havia algo ali no fundo que clamava atenção e lhe dizia que não havia liberdade em retornar. Por consequência sua mente se encontrou em uma bagunça completa, poucos pensamentos pareciam se encaixar, e sua cabeça doía quase como um castigo.

E então o móvel parou novamente.

Ainda com o cérebro recebendo marteladas, Tetri atentou-se ao que acontecia do lado de fora, mentalizando quanto tempo ainda tinha e no final suspirou, preparando-se para a queimação que lhe alcançou em cheio a cada marca que acendia. Sabia que o que faria agora não era o plano original já pré-estabelecido em sua mente, mas era o que ela queria fazer agora. Tetri tentava se concentrar com toda a sua força, ainda que até mesmo seus ossos lhe torturassem naquele tempo. Sua mente gritava alto em alerta. Estava ficando cada vez mais forte e a essa altura já lhe causava hematomas internos. Apertou os dentes contra os lábios, precisava suportar. Os luzeiros que permaneciam fechados até agora abriram-se inundados pela nevasca brilhante tendo os seus alvos muito bem formados. Lumes arregalados e molhados, lábios trêmulos e corpos encolhidos, estas eram as senhoras que lhe acompanhavam naquele momento lhe encarando em sua glória. Não havia admiração ou encanto, era puro pavor ao ter a confirmação de que a dama realmente era o perigo eminente. Não havia sequer mais voz em suas gargantas para implorar, no minuto que aquela mão machucada coberta por marcas estendeu-se, todas já estavam prontas para o seu fim, apenas esperavam que os Celestiais tivessem pena de suas almas já tão atormentadas em vida. Como uma última reza, todas uniram as mãos e cerraram os olhos.

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⏰ Última atualização: Jul 22 ⏰

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