[1] ☄️fear in the eyes

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V.E.N.I.T.E.R.Y.A

Julho, Terceira Lua Do Mês, Verão.

- Snafore, 500.a.q.S

(500 Anos Após a Queda De Snoomon)

Em Snafore sua marca representa quem você é, quem você vai ser e o que você deveria fazer pelo resto da sua vida. Elas selam seu destino no minuto em que você completa 16 anos, tendo o poder de decidir o valor da sua existência e seu papel perante a sociedade - e os juízes não eram exatamente imparciais. Em forma de número seu preço era gravado exatamente na pele fina do pulso e a partir desse momento sua identidade desaparece.

No entanto, houve uma época em que isso era diferente, uma época onde uma marca era uma benção, um presente cedido pelos Celestiais e que concediam uma graça especial, também assumiam formas e pintavam a pele, ou ao menos eram o que diziam as histórias. Pouco se sabia sobre o significado das marcas de fato, pelo menos naquele século, já que sua narrativa não combinava com os interesses da elite, deste modo não eram todos que tinham o conhecimento sobre este fato curioso, a maioria por não ter acesso a tal informação, a outra por não encontrar a importância, mas havia Tetri, e Tetri sabia.

Tetri se considerava uma especialista nas marcas de Veniterya, o dito mundo oculto. Ela poderia responder sobre suas curiosidades, detalhes e cada significado apenas em olhá-las e apesar de ser sua fascinação ela não fazia aquilo por diversão ou curiosidade, na verdade a chavinha que virara o ponto exato de sua incitação fora o questionamento, algo que ela nunca deveria carregar consigo.

Tetri aprendeu que ser curiosa e questionadora era ruim. E ela tentou suprir essas suas duas características nos livros, era por onde conhecia o mundo. E sua coleção favorita eram as 12 marcas de Veniterya, um livro completamente antigo com algumas páginas danificadas e um gosto leve de leite - livros antigos costumavam ter tal gosto característico - em algumas partes quase ilegível, mas o portal de histórias tão cativantes quanto ela imaginava ser aproveitar um dia de sol. E tudo bem, talvez ela exagerasse um pouco ao dizer-se especialista, apenas talvez Tetri não fosse tão entendida quanto gostaria de ser, ainda que de fato houvesse estudado sobre todas elas, havia informações que ela não tinha e talvez nunca tivesse, no entanto Tetri tinha um propósito que ia além de ser mestra em marcas abençoadas. Os poucos que haviam tido contato com aquele livro acreditavam ser estorinhas tolas, mitos e lendas de povos antigos que agarravam-se ao lúdico para não focarem na realidade das guerras e Tetri até poderia acreditar nisso também se não fosse pelo escorpião.

Um escorpião, era isso que Tetri carregava em inúmeras partes do corpo, de diferentes formas e tamanhos, envolto por outras marcas, um tipo de flor extinta e símbolos desconhecidos, como se viessem de alguma escrita antiga e o verdadeiro propósito de sua procura. Tetri nunca encontrara uma única descrição, falatório, mito, lenda, imagem, nada, mesmo revirando todo aquele livro, buscando outros registros, nada. Não existia a marca do escorpião. Não saber era algo que a deixava inquieta, formigando com a maldita praga da curiosidade impregnada na pele e isto fazia com que seus pensamentos girassem, seu imaginário trabalhasse e suas perguntas crescessem, o que era ruim, muito ruim, e era exatamente por isso que sua curiosidade nunca a levava a um bom lugar.

No final só a restava aceitar que suas marcas não lhe traziam respostas. Mas elas representavam quem ela era. Alguém que desde o nascimento viera manchada.

Tetri após alguns anos começou a associar medo a algo que fede, às vezes ela acreditava tão fortemente nisso que ela conseguia sentir aquele odor horrendo que sempre vinha acompanhado da nuvem que ondulava entre flashes brancos e o cinza obscuro. E agora era um desses momentos. O cheiro impregnava seu nariz enquanto seus longos e brilhosos fios esbranquiçados eram modelados. 

Formas Escuras de LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora