Capítulo 01 - 10 %

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 10 % Maiara e Maraísa 

Rio de Janeiro, Lapa , Dias atuais

06h 40 — AM

— Só isso, Pri? — Roberta disse com um fio de voz. Nem se quisesse conseguiria disfarçar sua frustração ao se deparar com o valor da diária que recebeu da loira alta através de seu aplicativo bancário. Virou a noite trabalhando no Sapa's Bar, um bar que Priscila Daroit e sua esposa Leía, possuíam na zona central da cidade. Serviu mesas, espantou bêbados, sujeitos inconvenientes, quase quebrou a fuça de um idiota que se meteu contra uma garota a força e Priscila apenas pode lhe pagar duzentos e cinquenta reais. A quantia era bem— vinda, mas não resolvia nem um décimo de seus problemas.


— Betinha, te falei que não conseguia pagar muito e ainda tá acima do que a maioria paga. — Priscila se defendeu. — Se pudesse até pagava mais, mas gastei uma fortuna com a reforma... Ainda teve essa viagem do Darlan para competir... — Darlan era um garoto de 18 anos, filho do primeiro casamento de Léia. Priscila o criava desde os dez anos e o considerava seu filho também, assim como Kisy, filha mais velha de Léia. —Tu tá sabendo que estou apertada.


Em resposta, Roberta apenas suspirou desacorçoada. Ela sabia que a amiga falava a verdade. Por conta de um problema de vazamento e estouro de cano, Priscila gastou uma boa quantia com o bar e Roberta sabia mais que ninguém o quanto um atleta sem um bom patrocínio, como era o caso de Darlan, podia pesar no orçamento. No passado ela viveu situação semelhante.


Dinheiro, o mal da humanidade! Aquela parecia ser uma questão que atrasava a vida de quase todos em sua volta. Antes da pandemia não era um problema tão urgente. Desde adolescente Roberta Ratzke Montibeller possuía renda própria. Quando criança, orientados pela escola, José Roberto e Vera, pais de Roberta, a matricularam no karatê. Segundo a professora da garota, esporte poderia ser uma solução para amenizar seu comportamento agitado.


Vera insistiu para que a filha fizesse aulas de ballet, mas Roberta não era tão obediente como sua irmã mais nova, Rosamaria. Sua paixão eram as artes marciais e convenceu o pai a matriculá-la no caratê. Na adolescência, Bernardo Rezende, o treinador de Roberta, a convenceu migrar do caratê para o jiu-jitsu e, como ele previa, Roberta se deu muito bem. Aos 18 anos lutava profissionalmente. Ganhou status, dinheiro e aos 23, quando estava em seu auge físico e prestes a ganhar projeção internacional participando de seu primeiro mundial, a pandemia surgiu em seu caminho.


Parada, Roberta perdeu patrocínios e contratos. Sofreu com algumas lesões e ficou estagnada por meses. Para não ficar completamente na inércia, bancou sua comissão técnica com o dinheiro que ganhou dos contratos, mas sua carreira, cheia de potencial, foi encurtada. Sofreu uma lesão grave no joelho. 


Por mais que tivesse ficado sem sequelas que impedisse de treinar, Roberta não possuía mais o rendimento de uma atleta de ponta. O dinheiro que conseguiu juntar durante a carreira gastou para pagar uma dívida que contraiu de um empréstimo com um agiota. O único bem que sobrou para Roberta, além de seu apartamento, era o carro que até um mês atrás lhe dava o sustento. Trabalhava como motorista de aplicativo. Perdeu o veículo em um assalto quando foi levar um cliente no aeroporto Galeão e o carro estava com o seguro vencido. Ao saber da notícia da perda do carro, Ana Beatriz, sua esposa, decidiu deixar o apartamento que dividiam próximo do bairro da Lapa, no Morro de Santa Teresa.


— Tá foda, Pri... Tô pagando aluguel de carro para não ficar parada... Se fosse pelo menos parcela de um carro meu...

Cobaia - Juberta; RosattazOnde histórias criam vida. Descubra agora