Capítulo 06 - Mentiras

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— Cara... Mas... Como ela fez isso contigo? — Carolana questionou Roberta. — Que treta! A expressão da advogada era de completo pânico pela amiga, contrariando a tranquilidade de Clarinha. Ela se encontrava sentada em um bebê conforto sobre a cama de Roberta enquanto observava movimentos que fazia com seu pé. A tarefa era puro entretenimento a bebê que mexia os dedinhos enquanto as duas adultas conversavam e não tiravam os olhos de sua pessoa.


Manhã de segunda-feira. Já haviam se passado três dias desde o fatídico momento que Roberta se descobriu como responsável por Clarinha. Roberta batizou aquele período como o final de semana mais perturbador dos últimos tempos. No primeiro dia com a garota, Roberta acordou toda mijada, já que Clarinha nem fralda reserva tinha. Sem saber o que fazer, apelou para sua vizinha, uma senhorinha de idade que possuía meia dúzia de netos e uma cachorrinha Yorkshire que Doritos era apaixonado.


Roberta tocou a campainha da mulher com o intuito de pedir para ela ficar de olho em Clarinha enquanto tomava um banho e ia ao mercado comprar fraldas. Quando a mulher abriu a porta e a cachorrinha veio lhe recepcionar toda feliz, usando uma calcinha para cachorras no cio. Roberta mudou de ideia.


— Será que a senhora poderia me emprestar uma fraldinha dessas?


— Da cachorra?


— É... Eu tive um imprevisto! — De certa forma não era mentira, já que Clarinha em sua vida de maneira tão presente era algo realmente imprevisível.


— Tudo bem... Espere um minuto...


A mulher se afastou em direção ao quarto e Roberta pode soltar a respiração. A tal senhorinha gostava bastante de comentar sobre a vida alheia, se soubesse que havia um bebê em sua casa, com certeza gostaria de saber a história toda. Em pouco tempo Santa Teresa, Lapa e arredores estariam cientes da novidade. Foi assim que sua família soube quando Bia saiu de casa.


O plano de Roberta era localizar a ex-esposa, devolver Clara e esquecer da ex. Finalmente sua ficha parecia cair em relação ao casamento acabado. Roberta estava agoniada. Queria viver seu luto pelo fim, beber até cair para afogar as mágoas, chorar ouvindo Alcione, atacar sua aliança na enseada de Botafogo e ver suas esperanças se afundarem junto dos coliformes fecais dos moradores da zona sul carioca, queria simplesmente poder ser dramática e sofrer e até esse direito Bia lhe tirou.


Tinha que ser forte para cuidar de uma sobrinha que nem era sua e caso negasse colocaria em risco sua família e também Júlia, que acabou sendo ameaçada por Guga no embalo. Julia... Sentiu um aperto no peito ao se lembrar da garota. Há duas noites atrás ela havia feito tão bem. Há fez sentir tão leve e tudo se estragou com aquela situação de Guga, Bia e Clarinha. Enxergava em Júlia uma garota em busca de afirmação, alguém divertida e perspicaz. Amaria conhecê-la em outra situação. Até nisso Bia a atrapalhou. Jamais a perdoaria.


— Aqui está a fraldinha... — A senhorinha fofoqueira lhe tirou de sua bolha pensante. — Engraçado, eu achei que seu cachorro era macho...


— Ele é... — Roberta respondeu no automático. — Quer dizer... Era... — A mulher franziu o cenho confusa. — Eles nascem com tantas dobrinhas, como a gente vai saber, né? Obrigada pela fralda e dá uma licencinha...

Cobaia - Juberta; RosattazOnde histórias criam vida. Descubra agora