O para sempre, sempre acaba

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Paola 
11 de dezembro de 2023

As luzes do hospital piscavam como estrelas distantes perdendo seu brilho, formando sombras borradas as paredes azuladas.Minhas mãos trêmulas mal seguravam o celular, mas ainda assim mantinha meu olhar na tela, esperando os números em branco brilhante mudarem. O relógio, a cada segundo, anunciava o meu desespero. Mal sabia eu que os próximos minutos ficariam cravados em mim para sempre.

As cenas de Célia caindo no chão sem ar se repetiam incessantemente na minha cabeça, como uma constante lembrança da última visão que teria de minha amada esposa. Seu rosto completamente agoniado, assumindo uma coloração azulada, me causava calafrios com a constância que se tornavam mais visíveis em minhas lembranças. (In)felizmente, tudo foi interrompido pelo rangido da porta, anunciando a saída de alguém.

A figura do médico emergiu das sombras, com luvas ensanguentadas tirando a máscara,  antes pendurada em seu pescoço, uma ânsia quase instantânea me atinge assim que seus olhos cansados vão de encontro com os meus. Uma parte de mim não queria realmente saber o veredito final. É vergonhoso admitir, Paola Brescovit nunca, em vinte anos de carreira, demonstrou fraqueza alguma, mas agora queria continuar para sempre agarrada a um último fio de esperança, rezando para que que isso seja só um pesadelo horrível que vai passar.

— Eu fiz tudo o que pude... - sua voz não passava de um sussurro rouco, carregado de impotência

O aparelho celular escorrega de minhas mãos se estilhaçando no chão, causando um estrondo que chamou a atenção de todas as pobres almas que, assim como eu, esperavam por seus familiares. O desespero toma conta de mim. Meus joelhos batem contra o chão violentamente, ao mesmo tempo que lágrimas se formam em meus olhos. Balbuciei palavras sem sentido algum, buscando algum conforto em meio as lágrimas que caiam

[...]

Dirigi até em casa imprudentemente, esperando que Deus tivesse misericórdia o suficiente para me reencontrar com minha amada, mas todos os carros pareciam desviar apavoradamente de mim. Em um resquício de sanidade, temi que mais alguém cheio de vida por aí fosse machucado e estacionei o carro na parte de fora do luxuoso condomínio. Caminhei, sem esperança alguma, até a casa que costumava chamar de nossa.

Seu cheiro doce de baunilha ainda pairava no ar. O macarrão, intocado por nós, estava quase tão frio quanto o corpo daquela que o preparou. Agora o lugar que tanto amava era apenas um borrão de tristeza. Me arrastei pelas escadas indo até o quarto de hóspedes; não conseguiria me juntar aos lençóis embolados onde passamos a tarde toda jogando conversa fora.

Me joguei na cama completamente desolada, afundando junto ao colchão de mola. Começo a soluçar, tão intensamente quanto no hospital. E foi em meio à mais pura tristeza que adormeci aquela noite, com o vazio recente da perca me atormentando. Todo o suspense, agora fora substituído pela certeza da solidão, eu estava sozinha no mundo e, com certeza, nunca mais seria a mesma.

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