Paola
8 de maio de 2024Pela primeira vez em muito tempo, a sensação de sobriedade me envolvia como um manto indesejado em uma segunda-feira. As cortinas de seda permitiam que alguns raios solares escapassem pelas fendas, revelando a natureza do dia lá fora. O nervosismo me dominou durante toda a noite passada; os croquis estilhaçados pelo chão da casa pareciam fantasmas silenciosos, sussurrando segredos inquietantes. Lucca, meu secretário, agia como um cúmplice involuntário, seus olhos ansiosos denunciando o peso das apostas e contribuindo inconscientemente para o meu nervosismo iminente. Estávamos em um verdadeiro jogo de azar, bastava uma peça diferente para que meu império afundasse por completo.
Os olhos azuis, agora estranhos para mim, ocupavam minha mente desde o encontro turbulento: palavras não ditas, desejo e perigo sempre entrelaçados. A cada segundo torturante que passava, eu me amaldiçoava ainda mais por não conseguir parar de pensar em Thalia. No entanto, tentava me convencer de que tudo isso era apenas a necessidade de manter meus inimigos por perto, temendo que ela me desferisse um golpe certeiro do qual provavelmente não me recuperaria.
A sugestão de convidar as famílias dos jovens era um gesto de empatia, mas também uma jogada estratégica. Eu não era ingênua; entendia o jogo do poder como ninguém. Os filhos, peões sacrificáveis, estavam prestes a ser movidos no tabuleiro.
O despertador anuncia o início do dia, revelando que acordei antes do previsto. Suspiro, levantando-me e seguindo pelo piso frio de orvalho até o banheiro. Apoio-me na pia, encarando o espelho. Nessa manhã, a chama da determinação queima mais intensamente do que o medo. Finalmente, Paola Brescovit está de volta, mais do que disposta a atropelar qualquer obstáculo. O império está em jogo, e não hesitarei em jogar todas as cartas. O futuro está prestes a se desdobrar, e estou pronta para enfrentá-lo, mesmo que isso signifique encarar meu passado.
—Isso é por você, Célia... — sussurro baixinho, fazendo uma promessa silenciosa.
Caminho rapidamente de volta ao quarto, jogando todos os papéis que ocupavam a mesa no chão. O barulho ecoa como um segredo prestes a ser revelado. Vasculho a pilha em busca de folhas em branco, e assim que as encontro, as ideias fluem para o papel quase instantaneamente. Está nascendo minha melhor coleção.
"Os quatro cavaleiros do apocalipse" ganham vida em minhas mãos habilidosas. Os vestidos contam com elementos claros e sombrios, fazendo jus à sua inspiração:
A Conquista" emerge: um vestido branco com uma cauda azul que traça os limites dos continentes, lembrando-me dos lugares onde apresentei minhas diversas obras.
"A Guerra" é vermelho-sangue brilhante, queimado nas bordas. Um colar de espinhos adorna o pescoço da modelo, fazendo alusão ao constante alerta dos militares. A modelo não pode abaixar a cabeça; caso contrário, será perfurada.
"A Fome" é negra como a noite. Um véu cobre o rosto da modelo, a ideia principal sendo que ela desapareça na escuridão da passarela. Representa o vazio daqueles que não têm o que comer, a angústia silenciosa que permeia o mundo.
Por fim, a "Morte". Uma capa multicolorida, nas cores do vestido anterior, esconde o vestido. Na passarela, a capa será queimada, revelando um vestido amarelo quase angelical. É o fim e a salvação, um contraste marcante.
Enfio os croquis na bolsa e corro para a
"Runway", o ateliê pessoal ao lado de meu escritório, onde não entro há anos. O som da máquina de costura preencherá o espaço, anunciando para todos a salvação.Paola Brescovit, a renomada estilista, está prestes a tocar as sete trombetas da moda, reivindicando seu império novamente e enterrando muitos outros.
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Amor(es) Antigo(s)
RomanceSinopse : O cenário se desenha com sombras e segredos, como se o próprio tecido da realidade estivesse desfiando. Paola Brescovit, a empresária de sucesso, esconde mais do que suas roupas luxuosas. Por trás dos cristais Swarovski, há uma trama de in...