Capítulo 14

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St. Augustine, Flórida

Casa de Brenda Murphy

Meu pesadelo foi sem dúvida o mais estranho até o momento. Aquilo tudo foi tão vívido que pareceu que eu realmente estava vivendo aquele dia. Mas o mais importante: será que eu estou ficando louca? Primeiro o acontecimento no hospital que todos dizem que eu surtei, mas não lembro de nada; depois as aparições bizarras do Marcos na minha casa, e agora esse sonho. Sem contar os pesadelos com aquela bendita lenda que Joyce vem me contando há semanas.

Sento na cama, afastando esses pensamentos da mente e puxo os lençóis para o lado. Sinto uma leve brisa fria nas pernas descobertas que provavelmente veio do outro lado da porta que está meio aberta. Ouço barulho de panelas batendo e alguma coisa fritando, isso só faz com que meu estômago ronque ainda mais alto.

Com uma enorme vontade de voltar a dormir, saio da cama e vou ao banheiro que fica bem do lado do meu quarto e de frente para o quarto de Brenda, todos conectados por um corredor longo e largo que acaba na sala. Fecho a porta quando adentro o cômodo e vou direto para a pia.

Meu rosto reflete no espelho limpo e eu paro para me observar. As olheiras que marcavam meus olhos sumiram, dando um ar mais saudável ao meu rosto; a expressão de constante cansaço também desapareceu, junto com a má postura que me deixava meio corcunda. Bastou apenas um mês vivendo com Brenda para eu perceber o quanto estava esgotada.

Escovei meus dentes, tomei uma ducha rápida e vesti meu moletom cinza e um casaco de yale vermelho. Por incrível que pareça está um dia frio na cidade mais ensolarada da américa, então o agasalho vai me manter quentinha durante o dia. Deixo meu quarto logo após arrumar minha cama e deixar o resto do quarto minimamente organizado e vou para a cozinha. No meio do corredor de paredes amarelas é possível sentir o cheiro forte de bacon e ovos fritos.

Viro a direita no fim do corredor e entro na cozinha, onde Brenda está cantarolando alguma música que eu não conheço enquanto mexe os bacons e os ovos na frigideira com uma espátula.

- Bom dia, querida! - ela cumprimenta assim que nota minha presença - dormiu bem?

Passo por trás dela e pego dois copos de vidro no armário. Ao passar de volta, deixo um beijo em seu ombro e vou buscar o leite na geladeira.

- Sonhei com algo essa noite. Não foi um pesadelo, disso eu tenho certeza, mas foi estranho. Mas fora isso, dormi feito uma pedra.

- Então não ouviu nada?

Paro imediatamente o que estava fazendo assim que as palavras saem da boca dela. Já vi isso antes. Eu sonhei com isso. Já tinha tido Déjà vu antes, mas tenho certeza que esse não é o caso; eu sei o que vai acontecer depois.

- Marlon esteve aqui, não foi? - digo, repassando o começo do sonho na cabeça.

Brenda está pondo os ovos nos pratos de porcelana, mas para e me encara com estranheza.

- Sim, esteve. Achei que você estava dormindo quando ele veio aqui dizendo que estavam acontecendo coisas estranhas...

- Que estavam acontecendo coisas estranhas... - completamos em uníssono.

Largo os copos e a garrafa de leite na mesa e me afasto um tanto assustada comigo mesma. Afinal, que diabos está acontecendo?

- Helena, querida, você está bem?

- Você chamou a polícia para ele, não foi? Porque ele disse que só sairia quando falasse comigo...

Minha cabeça dói um pouco. As lembranças do sonho estão ficando contorcidas na minha mente e sumindo aos poucos; me restam poucas coisas a lembrar do que aconteceu, então preciso ser rápida.

Filha Do Mal (Pausado) Onde histórias criam vida. Descubra agora