Começar uma pintura as vezes gerava emoções conflitantes. Medo, euforia, tédio e até raiva. Euforia por querer saber aonde aquilo iria chegar, medo por achar que não daria certo, tédio por ela não ter sido o suficiente para me estimular e raiva por ter gasto meu tempo em algo que não deu certo.
Bufei, encarando a imagem. Tinha algo faltando.
Molhei o pincel em mais um pouco do tom de verde Mineral Profundo, minha nova cor favorita da paleta de tintas da Winsor and Newton. Depois da compra absurdamente cara que Fleur fez pelo meu quadro, pude repor vários materiais artísticos que estavam faltando. Também me permiti explorar nova cores.
Esse verde era como orvalho em grama recém cortada, fresco e vibrante. E bastante difícil de usar pelo que percebi.
Cada pincelada dele na tela trazia vida e movimento na arte. Onde quer que ele entrava, roubava o foco e os holofotes. Era uma cor que atraia o olhar e apesar de estar mais próxima dos tons frios, ela conseguia ter um fundo quente.
Quase como os olhos de uma certa pessoa.
Descansei o pincel e limpei o suor em minha testa. Estava pintando a algum tempo, precisava esticar um pouco a coluna. Me espreguicei o máximo que pude e alcancei meu celular em cima da mesa de canto.
Nenhuma notificação na tela inicial.
Já fazia semanas desde que vi Fleur na exposição do Tate. Ela me disse que faria uma viagem a trabalho e precisaria ficar fora por alguns dias. Nos falamos pouco nesse meio tempo, mesmo ela me dizendo que poderia ligar caso precisasse de alguma coisa. Tentei focar cem por cento em minha arte enquanto isso, porém por mais que eu tentasse nada me agradava.
Aquela era a quarta ou quinta tela que eu começava e parava na metade, sem saber o que fazer. Eu sabia que queria usar cores vivas mas sempre acabava caindo nos mesmos tons e achava a pintura completamente monótona. Mesmo com um novo verde favorito, parecia que eu não conseguia fazer ele encaixar com os demais.
Aquilo me deixava frustrada.
" Você está a procura de estímulos, Hermione."
A voz de Minerva soou calma no meio do consultório durante a sessão daquela tarde.
Ela me encarava por detrás da xícara de chá. Sempre analítica, como se eu fosse um livro cheio de símbolos que ela precisava decifrar.
– A questão é que eu não sei qual estímulo estou procurando.
– Sua vida mudou bastante nos últimos tempos. É de se esperar que o que te empolgava antes não tenha o mesmo efeito agora.
– Eu não quero ter de redescobrir coisas sobre mim. Não tenho essa energia para gastar. As coisas...poderiam ficar como sempre foram.
– As coisas já mudaram. Mudam a todo momento. Não é algo que controlamos, apenas lidamos com isso da maneira que nos for mais confortável. No seu caso, você precisou lidar com tudo de uma vez e sem muita opção. Sua falta de energia é compreensível.
Ficamos em silêncio enquanto ela anotava algo e eu observava o movimento da rua pela janela.
– E como estão suas pinturas?
– Não estão. –Passei a mão pelos meus cabelos, os jogando para trás. – Posso dizer que ando tendo um certo bloqueio ultimamente.
– Bloqueio criativo?
– Acho que sim, não sei. Eu tenho a ideia do que quero pintar, começo a pintar e simplesmente não consigo finalizar. Parece que falta algo, sabe? Como se eu precisasse de mais alguma coisa pra continuar. Antes eu não sentia isso. Mesmo se não gostasse da tela eu a terminava. Mas agora?
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Obra-prima (Fleurmione AU)
FanfictionEra como se todos os sentimentos, todas as decepções e todos os acasos te levassem até aquele momento. Seria o destino te pregando uma peça? Ou apenas a vida te ensinando que para encontrar aquilo que quer você precisa se deixar levar pelo desconhec...