Surrealismo

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Surreal.

Aquele que denota da estranheza, que transgride a verdade sensível, que pertence ao domínio do sonho ou da loucura.

É fácil entender o porquê eu gostar tanto do movimento artístico surrealista.

Ele têm como base se desapegar da realidade, deixar-se guiar por seus impulsos mais fortes,  registrar na arte tudo o que lhe vier a cabeça sem se apegar ao que é lógico.

Para alguém como eu, cuja realidade é apenas um oceano gelado tentando a todo custo me atrair e afogar, o toque do surreal é completamente sedutor.

Me desprender de tudo e todos a minha volta, pelo menos enquanto produzo pinceladas em uma tela, é o meu momento de paz em meio a guerra.

A exposição Surrealismo Além Da Fronteira que estava ativa no museu Tate Modern acompanhava a interpretação do surreal por diversos artistas com nacionalidades distintas. Com base na vivência de cada um, a forma como eles se desprendem da realidade era diferente, gerando artes diferentes. Umas gritantes, outras brandas. Você não consegue prever qual vai ser a próxima que lhe chamará a atenção.

O museu estava cheio de pessoas interessantes. Vi jovens, velhos, adolescentes com seus smartphones em mão e adultos tirando fotos entre as peças. Cada um vivendo a arte de seu jeito.

Eu vestia um vestido preto simples, botas e uma jaqueta Jeans duas vezes maior do que meu tamanho. Mas como Gina amava me falar "Oversized é trendy!".
Não me sentia necessariamente bonita usando aquelas roupas, porém era melhor que o pijama que normalmente optava em casa.
Comparado as demais pessoas que estavam ali, bem arrumadas e atraentes, eu era apenas normal.

Comum.

O comum é bom, significa que pelo menos alguma parte da minha vida estava voltando aos eixos.

Antes eu era aquela garota que não ligava para moda, mas fazia questão de estar bem arrumada. Maquiagem quase nula, porém delineado perfeito. Gostava de estar preparada para qualquer ocasião, então vestia roupas que seriam bem aceitas seja qual fosse a necessidade social.

Mas isso era antes.

É assustador o quanto você pode mudar quando sua cabeça não está bem.

O motivo do esforço extra que coloquei ao escolher essas roupas tinha nome, sobrenome e acabara de entrar pelo saguão principal do Tate.

Fleur Delacour era o exato oposto de uma pessoa comum. Tudo nela exalava extraordinário. Magnifique, como ela gostava de pronunciar com aquele sotaque elegante.

Assim que sua figura surgiu, de macacão preto e um longo sobretudo creme, pude notar diversas cabeças se virando para observa-la. Não podia culpa-los, era difícil não faze-lo. Tal como seus olhos são atraídos para um Caravaggio, os olhos deles acompanhavam cada movimento de Fleur.

Ela caminhava decidida, com aquela aura de quem sabia exatamente aonde queria ir, ignorando a todos e centrada em um único objetivo, que era eu. Ao se aproximar, um sorriso em seus lábios rosados.

Bonjour, Hermione!
– Olá, Fleur!

Recebi o costumeiro beijo duplo como cumprimento e pude notar o perfume cítrico e suave que ela carregava pelo corpo. Ainda me sentia desconfortável com aquele gesto porém já não o estranhava tanto.

– Fico feliz que aceitou meu convite hoje... principalmente depois do que aconteceu no café.

Fleur levantou uma das mãos em um gesto automático de quem diz "Sem problemas."

Obra-prima (Fleurmione AU)Onde histórias criam vida. Descubra agora