Uma garra de latão segurava firme entre suas pinças uma pedra brilhando em um branco quente.
— Toma cuidado, Hilda — disse a voz preocupada de Greta. — Vai devagar.
— Não! Tá doida?! Se eu demorar demais, esse troço vai derreter minha mão! — respondeu a irmã, tensa. Dava para sentir na sua voz o suor escorrendo pelo rosto. Suor quente e suor frio.
Um par de mãos enluvadas abriu rapidamente uma portinhola de cobre em três camadas (uma de pivotar e duas deslizantes) e a garra se aproximou, trazendo a pedra. O nicho por trás das portinholas abraçou o objeto incandescente e, assim que Greta o viu confortável lá dentro, fechou e trancou tudo tão rápido quanto abriu.
— Pronto! — anunciou.
As duas irmãs ergueram os óculos de solda para a testa e se afastaram alguns passos com as mãos na cintura. O farto rabo de cavalo cor de mel de Hilda e o cor de imbuia de Greta miraram lado a lado o manequim metálico parado de pé, de frente para elas, no centro da casa.
Estavam os três — robô e humanas — em um espaço quadrado cercado por três degraus, como uma piscina de madeira rasa e sem água. Cozinha, área de serviço, oficina e "quarto" (duas redes de dormir), tudo era visível de onde estavam — todos dispostos sobre a área elevada ao redor —, bastando girar em torno de si mesmas para fazer um tour completo.
O tour da tralha.
Rodas dentadas, caixas de madeira pesadas com ferramentas, tubulações ziguezagueando pelo teto piramidal, chapas metálicas apoiadas contra a parede de alvenaria e madeira, lâmpadas e baterias elétricas empilhadas, lonas jogadas aqui e ali, mesas cheias de parafusos e restos de peças...
Acima, presos na viga central lááá no alto, vários modelos de aeronaves à vapor giravam lentamente, presos em suas cordinhas. Pareciam libélulas de cobre e latão. Por fim, atrás das duas redes, uma escada caracol de ferro subia sua espiral até perfurar o teto e sair ao ar livre. Dali entrava luz suficiente para contribuir com a iluminação da casa, em conjunto com a imensa janela circular ocupando toda uma parede.
— Está tudo pronto? — perguntaram as madeixas cor de mel de Hilda, seu braço mecânico apoiando a garra de latão na cintura, sobre a grossa camada do avental térmico.
— Vamos ver... — Greta puxou uma lista do bolso. — Válvulas reguladoras de pressão. Ok. Integridade da caldeira. Ok. Sistema de computação eletromecânica. Ok. Gerador elétrico. Ok. Pedra de Gelo. Ok. Pedra de Calor... Ok — as duas irmãs disseram ao mesmo tempo, apontando para a portinhola. A lista baixou e Greta disse:
— É, acho que é isso. Vamos ao teste final.
As irmãs se aproximaram das costas do robô, onde havia alguns mostradores de pressão e temperatura, e, confirmando estar tudo em ordem, Hilda girou uma válvula. No mesmo instante, o chiado de vapor encheu a casa, estalos elétricos se fizeram ouvir e o robô se moveu. As duas irmãs recuaram. A máquina se sacudiu de leve e esticou a coluna, como se pronta para receber ordens.
Greta e Hilda se puseram de frente para ela e os olhos de vidro assistiram às irmãs mirarem seu rosto em busca de sinais de problemas.
— Vamos testar uma ordem — disse Greta. — Robô, erga o braço.
Houve uma rápida sucessão de cliques metálicos, como uma caixa registradora calculando, e o robô ergueu um braço. As irmãs sugaram o ar em espanto, sorrindo radiantes.
— Robô — chamou Hilda —, erga uma perna.
Outra sucessão de cálculos e o robô ergueu uma perna. Queixos caíram e as inventoras foram à loucura. Soltaram gritos de animação e chegaram a pular abraçadas gritando "êêêê!". Os sistemas de equilíbrio e de processamento estavam funcionando perfeitamente, o motor de Carnot também e o gerador elétrico, mais ainda.
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Steampunk - Hilda e Greta
PertualanganDuas irmãs, um robô à vapor e desafetos demais para a saúde de qualquer um.