Capítulo 1: O Encontro no Terraço

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⚠️ATENÇÃO⚠️

⚠️CONTÉM GATILHOS DE DEPRESSÃO/SUICÍDIO⚠️
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O vento batia suavemente no rosto de Faye enquanto ela contemplava a cidade lá embaixo. O hospital, um labirinto de dor e esperança, era a sua casa há meses. As janelas refletiam o céu azul, quase irônico em contraste com sua tristeza. Faye estava cansada de lutar, de tratamentos que a deixavam exausta, de esperanças que se desvaneciam com cada nova conta médica que chegava, como as sombras que se arrastavam pelo chão do seu quarto.

Era um daqueles dias em que o sol brilhava, mas a luz parecia nunca alcançar seu coração. Com o olhar perdido, ela pensava em como havia chegado até ali. A solidão era sua companheira constante. Aquela sensação de que não tinha para onde voltar, de que nada a esperava além das paredes frias do hospital, a afligia cada vez mais. Ela sentia que estava num ciclo vicioso de desespero e angústia, sem conseguir se livrar dele.

Sensações esmagadoras tomavam conta dela, e Faye já estava prestes a deixar tudo para trás, quando uma voz suave interrompeu seu desespero. Faye se virou e viu uma garota sentada no terraço. A jovem estava envolta por pincéis e tubos de tinta, uma verdadeira artista em meio ao caos. Yoko, como se apresentou, parecia um raio de sol em meio à tempestade.

“Você sabe que não é assim que se deve sair de cena, não é?” - disse Yoko, com um sorriso caloroso.

Os olhos dela brilhavam de uma forma que Faye não via há muito tempo. Havia algo nela que contrabalançava a tristeza do lugar, como se carregasse cores que ela mesmo não sabia que ainda existiam.

Faye permaneceu em silêncio, absorvendo cada palavra, mas resistindo a se abrir. Não era da sua natureza. Conhecer pessoas novas era um peso, um fardo que ela não queria carregar. Uma barreira invisível a separava dos outros, como se fosse um vidro inquebrável que a protegia, mas também a isolava. A ideia de permitir que alguém se aproximasse era aterrorizante. Afinal, quem estaria disposto a amá-la em sua condição? Para Faye, o amor era um luxo que não se permitia, não mais.

Yoko, percebendo a resistência de Faye, decidiu não forçá-la.

“Às vezes, a vida nos apresenta desafios inesperados. Um pincel aqui, uma tela ali. Não precisamos nos esconder da paleta de cores do mundo,” - Yoko disse com um olhar compreensivo.

“A arte tem essa capacidade de trazer uma nova perspectiva, mesmo nos dias mais cinzentos.”

Faye desviou o olhar, focando novamente na cidade com suas luzes piscando ao longe.

“O que você está pintando?” perguntou, apenas para quebrar o silêncio opressivo, mas sem muita vontade de se aprofundar.

Yoko sorriu, como se a pergunta fosse um convite.

“Estou tentando capturar a beleza das coisas simples, como a luz do pôr do sol refletindo nos prédios. Eu acho que, mesmo na dor, há algo que vale a pena ser visto.”- Seu tom era leve, quase ingênuo, e isso irritava Faye um pouco. Como alguém poderia ser tão otimista em um lugar como aquele?

“Eu vou morrer em um ano. E você?”-

Faye lançou a pergunta com um tom frio, sua frustração transbordando como um copo prestes a transbordar. Com isso, esperava encerrar aquela conversa e voltar à sua solidão.

Yoko sorriu mais uma vez.

“Acho que não podemos medir a vida em anos, Faye. Podemos não saber quanto tempo teremos, mas isso não significa que devemos deixar de viver e de sentir.” - O brilho nos olhos de Yoko se intensificou.

“O que importa é o que fazemos com o tempo que temos."

Aquelas palavras ecoaram na mente de Faye, mas ela não estava pronta para aceitá-las. Não naquele momento, não naquele lugar. O desespero em seu coração só crescia e, para ela, a dor era apenas uma companhia fiel. Ela se recuou em sua armadura emocional, afastando Yoko mais uma vez, como se não quisesse que ela visse suas fraquezas.

“Você é apenas uma criança,”- Faye disse sem pensar, sua voz cortante.

“A vida não é algo bonito como um quadro. É cheia de dor e desgraça. E eu não quero que você venha aqui me trazer ilusões.”

Yoko não se deixou abalar.

“Talvez isso seja verdade, mas também temos a chance de encontrar beleza mesmo nas coisas ruins. Às vezes, a dor nos ensina a ser mais fortes. Meus projetos não são sobre escapar da realidade, mas sobre enfrentá-la.”

A conversa arrastava-se e, embora Faye quisesse afastar Yoko, havia algo nessa jovem artista que a intrigava.

Uma pequena centelha de esperança, talvez?

Mas ela não queria acreditar nisso.

Se deixasse que Yoko se tornasse especial, se deixasse que qualquer um se aproximasse, sentiria o peso da dor da perda quando o tempo chegasse.

O céu começou a escurecer enquanto o sol se escondia atrás das nuvens, como se refletisse o estado de espírito de Faye.

Um pensamento aterrorizante a atravessou enquanto ela contemplava a cidade sob o manto da noite.

E se ela se permitisse amar?
E se permitisse ser amada?

As possibilidades eram esmagadoras.

E assim, no coração de Faye, a batalha entre se trancar em seu mundo sombrio e abrir-se para Yoko e suas cores continuava.
Mas o medo da dor final, aquele que poderia vir de uma conexão verdadeira, empurrou-a para mais perto do abismo.

Faye não sabia que, enquanto se distanciava, Yoko já havia deixado uma marca em seu coração. Uma marca que ela se recusava a reconhecer. E à medida que o vento soprava, levando os sons da cidade para longe, uma parte dela desejava que Yoko ficasse, mesmo sabendo que era uma ilusão.

“Até logo, Yoko,”- Faye sussurrou, sua voz quase perdida no vento, mas a coragem dentro dela lutava contra a vontade de se aproximar.

O futuro permanecia incerto, e ela se questionava se poderia realmente mudar.

A noite caía, e Faye estava mais sozinha do que nunca, a escuridão invadindo não apenas o céu, mas também sua alma.

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