**Capítulo 3: Novas Cores no Horizonte**

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Faye passou os dias seguintes vagando pelos corredores do hospital como uma sombra. A presença de Yoko, embora distante, ainda ecoava em sua mente. Cada passo a levava longe da liberdade, mas ela não conseguia afastar a artista de seus pensamentos. As noites tornaram-se longas e solitárias, e aqueles momentos no terraço assombravam suas lembranças, desafiando sua armadura emocional.

Finalmente, em uma manhã enegrecida pela incerteza, Faye decidiu que precisava voltar ao terraço. Com cada passo em direção à porta, sentiu sua determinação vacilar, mas uma força inexplicável a impulsionou. Ao abrir a porta, o sol brilhava intensamente, refletindo nas tintas espalhadas pelo chão do terraço, que agora parecia mais vivo do que nunca.

Ao atravessar o espaço, ela encontrou Yoko imersa em sua arte, o rosto iluminado por uma expressão de puro prazer enquanto trabalhava em sua tela.

No ar havia um aroma de turquesa e amarelo-suave, cores que pareciam dançar sob suas mãos. Faye ficou ali, parada, observando a suavidade que emana de cada pincelada.

"Oi,"- disse Faye, a voz ainda tremendo, como uma folha na brisa.

"Oi, você voltou!"- exclamou Yoko, alegrando-se ao ver a presença de Faye.

“Aqui, venha ver que parte estou fazendo hoje!”- Ela gesticulou de forma animada para a tela.

"É uma paisagem – uma captura do que sinto quando o sol se põe."

Faye se aproximou, fascinada.

"É lindo,"- disse, e sentiu um calor inesperado no peito.

Ela queria entender o que fazia com que Yoko transbordasse tanta vida, mesmo em sua própria luta. Mas, antes que pudesse se perder na beleza da cena, uma sombra de preocupação cruzou seu semblante.

"Você ainda está aqui. Quais são os seus planos?"

Yoko sorriu levemente, mas não encontrou as palavras de imediato.

"Eu estou exatamente onde quero estar. Cada dia é uma oportunidade."

As palavras estavam impregnadas de uma sabedoria que fazia Faye querer se esconder, mas, ao mesmo tempo, a puxava para mais perto.

"Não posso imaginar isso,"- murmurou Faye, incapaz de esconder o receio em sua voz.

"Como você consegue ser tão positiva? E se não houver mais dias por vir?"

Yoko a encarou diretamente, a sinceridade em seus olhos era quase palpável.

"A vida é incerta, Faye. Não posso controlar como ou quando as coisas terminam, mas posso escolher como me sinto a cada dia. E eu escolho viver. Por que você não tenta fazer o mesmo?"

Faye se afastou um pouco, o medo crescendo como uma tempestade dentro dela.

"Você não entende. É mais fácil dizer isso do que realmente fazer."

Seu olhar desvia para a cidade à distância, como se lá estivesse a resposta para sua angústia.

"Eu realmente entendo,"- Yoko respondeu, com um tom suave, mas firme.

"A dor é devastadora. Mas o amor – o amor é o que nos faz humanos. Você não precisa permitir que o medo te impeça de sentir. Amar não é apenas viver feliz, é provavelmente enfrentar a perda também."

"Amar,"- Faye repetiu, a palavra soando estranha em seus lábios.

"Amar significa dor, e eu não estou disposta a passar por isso de novo."

"Isso é o que você acredita agora,"- Yoko a interrompeu, cautelosa.

"Mas o amor é tão mais do que isso. Olha para mim. Eu sou doente, e mesmo assim, eu amo cada pincelada, cada cor, cada novo dia que me é dado. Você é forte, Faye. Deve descobrir a beleza que ainda pode existir, mesmo na dor."

Faye sentia suas defesas ruírem aos poucos, e uma tempestade de emoções começou a se desenhar em seu peito.

Analisando o sorriso angelical de Yoko, uma inquietação a atingiu; de repente, ela percebeu que não poderia mais se permitir ignorar a atração que sentia.

Ainda assim, a voz da insegurança sussurrava em sua mente, lembrando-a do que poderia perder.

"Mas e se as coisas não saírem como você espera? E se eu perder outra pessoa que amo?"

"Essa é uma possibilidade,"- Yoko disse simplesmente, como se a resposta não precisasse de adornos.

"Mas você não tem como saber se não tentar. Por que você sempre se coloca onde a dor é mais intensa? Que tal olhar para onde a esperança pode vibrar?”

Faye não tinha resposta.

Oportunidade e dor se entrelaçavam em sua mente, e a única certeza que tinha era que se afastar de Yoko era tão doloroso quanto a ideia do amor em si.

"Faye," - Yoko disse, seu tom tranquilo cortando através das preocupações.

"A vida é uma bela confusão. Vamos pintar isso juntas, quer ver?"

A surpresa desafiou Faye.

"Pintar juntas? Eu não sou uma artista."

"Não importa. Nós podemos nos divertir só com isso,"- insistiu Yoko, pegando um pincel e colocando uma gota de tinta azul na mão de Faye.

“Um toque seu. E se você não gostar? Bem, podemos sempre cobrir com uma nova camada. A vida é assim!”

Faye hesitou, mas algo em Yoko a fez soltar um sorriso tímido.

“Você é insistente, sabia?”

“Sim, eu sei, e você é surpreendente,”- Yoko rebateu, piscando.

“Vamos lá, livre-se da sua armadura. Aqui, nós podemos fazer coisas maravilhosas, mesmo que sejam só algumas borradas.”

O impulso de Faye foi se afastar, mas, ao mesmo tempo, encontrou alegria na ideia de se conectar com a artista sem medo.

O pincel entre suas mãos se tornou um símbolo de novas possibilidades – um ato de rebeldia contra sua solidão.

"Está bem,"- disse Faye, o medo se dissipando ao ver o olhar encorajador de Yoko.

"Eu vou tentar.”

E assim, as duas jovens mergulharam na pintura, cada cor trazendo à tona novas emoções e revelando camadas do que havia dentro delas.

Enquanto as tintas se entrelaçavam, Faye sentiu seus medos começarem a se dissipar no ar.

O tempo passou, e, mesmo que a sombra da dor estivesse ali, um novo propósito começou a brotar entre as cores de um vínculo que prometia resistir, mesmo nas dificuldades que viriam.

Mas, no lado de Faye, uma nova luta era começada – a batalha contra o amor que crescia em seu coração, um amor que talvez a levasse a um lugar mais brilhante do que jamais conheceu.

E ao lado de Yoko, ela finalmente se deu a liberdade de dançar com a dor e a beleza da vida, um passo de cada vez.

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