A Lei Sálica foi a primeira tentativa dos povos germânicos em consolidar por escrito suas leis. Isso teria ocorrido entre 481 e 511, durante o reinado de Clóvis Ⅰ. Além de recomendar que uma das formas de se comprovar ou não a culpabilidade do réu era colocar a mão dele em água fervente e depois de três dias verificar o estado da pele, a Lei Sálica instituía que a propriedade e as dívidas só poderiam ser herdadas por homens. Com o passar dos séculos, um dos poucos dispositivos da primitiva Lei Sálica que ainda continuavam em vigor era a questão da herança masculina em detrimento da mulher. Se ela não podia herdar propriedades, que dirá suceder ao pai, esposo ou irmão como chefe de uma dinastia.Devido a esse problema, o imperador Carlos ⅤⅠ, sem conseguir um herdeiro masculino legítimo, decretou em 1713 a Pragmática Sanção, pela qual declarava sua filha, Maria Teresa, sua sucessora. Em seguida, fez os príncipes dos territórios do Sacro Império e os monarcas de países vizinhos concordarem com a decisão. Enquanto o imperador viveu, todos mantiveram a promessa; quando morreu, o pacto foi quebrado, com Baviera, Prússia, Saxônia, Espanha e França não reconhecendo Maria Teresa como herdeira da coroa de seu pai. Esses Estados e reinos partiram como abutres sobre as partes dos territórios dos Habsburgo que lhes interessavam, iniciando a Guerra de Sucessão Austríaca, que durou de 1740 a 1748.
Ficou famosa a cena em que Maria Teresa, disposta a tudo para restabelecer o prestígio e o poder da dinastia e manter-se no trono, suplicou diante dos húngaros, em 1741, ajuda na Guerra de Sucessão tendo nos braços seu herdeiro, José, com quatro meses de idade. No final da guerra, a imperatriz, bisavó de Leopoldina, manteve-se no trono, mas não com a herança intacta. Parte de seus territórios foram absorvidos pela Prússia e pela França. Além disso, a dinastia "pura" dos Habsburgo terminava nela. Com seu casamento com o duque de Lorena, Francisco Estêvão, a dinastia passou a ser conhecida como Habsburgo-Lorena. O marido acabou sendo eleito imperador do Sacro Império Romano-Germânico, mas na realidade quem governava era Maria Teresa.
Imperatriz Maria Teresa, bisavó de d. Leopoldina (circa 1740).
A imperatriz levou a monarquia dos Habsburgo a se modernizar para os novos tempos que a aguardavam. Os nobres passaram a ser tributados, e, além da administração, o Exército também foi modernizado e ampliado. Ela própria instituiu o combate contra a varíola no império, recebendo em seu palácio 65 crianças para junto dela e de seus filhos serem vacinadas. Um dos seus planos mais ousados foi impor a educação ao seu povo, à força se necessário. Qualquer criança, menino ou menina, ao completar 6 anos, deveria ser matriculada numa escola, onde estudaria até os 12. O responsável que não cumprisse a lei seria preso.
A política austríaca dos casamentos dinásticos foi elevada a alto grau quando Maria Teresa conseguiu casar as filhas com três membros da casa dos Bourbon: o rei da França, o rei da Sicília e o duque de Parma. Somente uma das filhas de Maria Teresa, Maria Cristina, a sua predileta, conseguiu escapar de um casamento dinástico e convenceu a mãe a deixar que ela se casasse por amor. De todos os seus filhos, Maria Antonieta, a trágica rainha da França, seria a mais lembrada, até por ter se deixado levar pela frivolidade secular da corte francesa em detrimento da educação que recebera como uma Habsburgo.
Apesar de tudo o que Maria Teresa teve que enfrentar para suceder ao pai, ela conseguiu legar um Estado e um Exército moderno para seus sucessores. Isso até que os mesmos ventos que derrubaram sua filha do trono francês e a cabeça dela de seu pescoço vieram varrer os alicerces dos demais tronos europeus.
O segundo filho de Maria Teresa a ocupar o trono austríaco foi Leopoldo ⅠⅠ, avô da arquiduquesa Leopoldina. Assim como a mãe, ele era um déspota esclarecido, um dos diversos governantes europeus que tentaram implementar as ideias iluministas e revolucionar de maneira positiva sua nação, uma "revolução" que partia do trono ao povo. O Iluminismo foi um processo social, político, cultural, econômico e filosófico que visava, entre outras coisas, ao uso da razão como o melhor caminho para se alcançar a liberdade, a autonomia e a emancipação do povo, dando a este amplo acesso à educação.
Leopoldo ⅠⅠ, imbuído pelo espírito de seu tempo, viu com horror as ideias iluministas acabarem degringolando em 1789 durante a Revolução Francesa. Mais preocupado ficou quando seu cunhado Luís ⅩⅤⅠ foi obrigado a jurar obedecer à Constituição imposta pela Assembleia da França. Esse ato rompia definitivamente com a ideia, tão profundamente cultivada por gerações de Habsburgo, de que os reis haviam sido colocados em seus tronos e de lá governavam por direito divino.
Era o colapso do que ficaria conhecido como o Antigo Regime. O novo regime, o do povo, na realidade o da burguesia, fez irromper em diversos pontos da Europa, como nos Países Baixos, então controlados pelos Habsburgo, e em diversos locais da Itália, movimentos descontentes com o sistema absolutista. Muitos governantes, visando à garantia da ordem em seus domínios, acabaram aliando-se com a aristocracia e retrocedendo em suas reformas anteriores.
Em 1791, o avô de Leopoldina e o rei da Prússia fizeram a chamada Declaração de Pillnitz, na qual condenavam os acontecimentos na França e ameaçavam o país de invasão caso algo ocorresse com a Família Real francesa. Isso resultou não só com a França decretando guerra contra eles, mas, em última análise, com a deposição e a prisão dos seus reis. Maria Antonieta, tia-avó de Leopoldina, foi acusada, entre outras coisas, de conspiração contra a França. Declarada culpada, sem que houvesse provas, foi levada à guilhotina em 16 de outubro 1793.
Crédito da imagem:
MEYTENS, Martin van. Atelier: Imperatriz Maria Teresa. Viena, circa 1740. O.S.T.
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D. Leopoldina | A história não contada
Phi Hư CấuA mulher que arquitetou a Independência do Brasil copyright © 2017 Paulo Marcelo Rezzutti copyright © 2018 CJT