NA MANHÃ de 22 de janeiro de 1797, Viena jazia silenciosa, com suas ruas cobertas por uma grossa camada de neve, cujos flocos dançavam perante o sopro dos ventos glaciais que varavam a cidade e se chocavam contra a Hofburg. Centro do poder dos Habsburgo desde 1282, a antiga fortaleza medieval havia sido modificada, ampliada e modernizada, e acabou por se transformar em ícone da confusão de povos e línguas que era o império que de lá se governava. Até hoje ainda é possível verificar que cada um dos séculos e dos soberanos imprimiram nela a sua marca. Do estilo barroco ao Secession,¹⁰ o local impressiona por sua arquitetura e sua história.Naquele domingo, há mais de duzentos anos, aguardava-se o nascimento do quinto filho do imperador Francisco ⅠⅠ do Sacro Império Romano-Germânico e de sua segunda esposa, Maria Teresa das Duas Sicílias, sua prima-irmã, já que ambos eram netos da imperatriz Maria Teresa.
A criança, uma menina gorducha, chegou ao mundo às sete e meia da manhã e foi batizada no mesmo dia. Porém, devido ao clima que congelava a cidade, o batismo não seria na imponente Igreja de Santo Agostinho, frequentada pela corte, mas sim na antecâmara do próprio palácio, às seis da tarde.
Segundo relata o jornal, Wiener Zeitung, de 25 de janeiro:
"Para o batizado se reuniu a alta nobreza, de ambos os sexos, em grande gala, na vasta antecâmara. Logo em seguida, precedido pelos dignitários da corte, dava entrada no salão, Sua Majestade, o Imperador, acompanhado por cinco Arquiduques e cinco Arquiduquesas. Seguia o Primeiro Marechal da corte, o Príncipe de Starhemberg, acompanhado por dois Camaristas Imperiais, os Príncipes de Schwarzenberg e de Ligne, carregando sobre uma almofada dourada a recém-nascida. Sua Majestade e Suas Altezas Imperiais dirigiram-se para os genuflexórios preparados para a ocasião. Ao lado dos mesmos colocou-se, como de costumes, o Núncio Papal, num oratório especialmente aprontado. O Primeiro Marechal da corte se colocou com a recém-nascida arquiduquesa diante do altar, que se encontrava debaixo de um baldaquim. A madrinha foi a arquiduquesa Maria Clementina, noiva do Príncipe Herdeiro de Nápoles. A pequena arquiduquesa recebeu os nomes Leopoldina, Carolina, Josefa [grifo do autor]. Após a cerimônia se entoou o Te Deum, ao som dos tambores, enquanto os canhões, colocados sobre os muros de cinta da cidade, salvaram três vezes. Realizou-se, da mesma maneira, como na vinda, o cortejo na volta, dirigindo-se para os grandes salões da Imperatriz. Em seguida Sua Majestade o Imperador e Suas Altezas Imperiais apareceram na grande antecâmara da Imperatriz, na qual se realizou a solene cerimônia das felicitações pela Alta Nobreza que ali se havia reunido". ¹¹
Vale ressaltar aqui o nome do bebê e a ordem em que ele surge inicialmente Leopoldina Carolina Josefa. Tanto no jornal de 25 de janeiro quanto no extrato da certidão de nascimento da arquiduquesa, feito em 1909,¹² bem como no Protocolo das Funções Episcopais, feito em latim pelo cardeal Migazzi, encontram-se referências de que Leopoldina era, indubitavelmente, o primeiro nome escolhido e usado pela menina recém-nascida.
Futuramente, durante as tratativas de casamento dela, seu nome seria embaralhado pelos portugueses de tal forma que, a chegar à América, seria saudada como princesa Carolina. A confusão chegou a ponto de a letra "C" surgir entrelaçada com o "P" de seu marido, fazendo, hoje, os museólogos confundirem peças comemorativas de seu casamento no Brasil com pertences de sua sogra, d. Carlota Joaquina.
Vistas dos edifícios que compunham a Hofburg em 1797, ano de nascimento de Leopoldina.
Crédito da imagem:
JANSCHA, Lorenz. Die Burgbastei mit dem Kaffehause nach Janscha. Viena, circa 1800. Água-forte.Notas:
¹⁰ Art nouveau austríaco.¹¹ Apud Bragança, A Imperatriz Dona Leopoldina, sua presença nos jornais de Viena, p. 546-547.
¹² Ibidem, p. 547.
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D. Leopoldina | A história não contada
Não FicçãoA mulher que arquitetou a Independência do Brasil copyright © 2017 Paulo Marcelo Rezzutti copyright © 2018 CJT