2• Bonnie

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Recomeços deveriam vir acompanhados de um aviso.

  Atenção: mudar de vida não impede memórias antigas de inundaram seu cérebro, resultando em ataques de pânico, desconforto social e um misto de todos os sentimentos possíveis e imagináveis, começando pela depressão, passando pela gratidão e explodindo em surtos de raiva. Nenhuma emoção é ignorada.

  Fazia três dias que eu dormia no quarto de hóspedes da minha irmã, e Damon não tinha me procurado nenhuma vez. Eu me esforcei o máximo para não externar os pensamentos confusos que passavam pela minha cabeça. Não queria que minha aflição tivesse um impacto na vida da minha irmã e de Bailey—eles não mereciam isso. Eles mereciam a versão de mim que sentia apenas gratidão, não a garota triste que eu venho sendo durante o último ano. Esse era o problema com o Damon—ele via minha tristeza e me mostrava que aquele era um lado meu que não merecia amor. Por isso eu me esforçava cada vez mais para não deixar essa parte de mim transparecer. Eu não queria que o luto continuasse me afastando das pessoas.

  Eu queria que elas ficassem comigo.

  Finja até virar verdade, Bonnie.

  Já foi provado que sorrir bastante faz com que as pessoas achem que você está feliz. É um fato científico. Desde que cheguei a casa de Shivany, eu sorria tanto que minhas bochechas estavam até doloridas. As vezes, eu ia ao banheiro só para deixar o sorriso desaparecer por um segundo ao de devolvê-lo ao meus lábios.
  Até agora, ninguém tinha comentado sobre meu fingimento, o que significava que meus sorrisos eram dignos de um Oscar.

  —Ta, não olha! -pediu Shivany enquanto me guiava pelas ruas de uma cidadezinha chamada Havenbarrow.

  A cidade ficava a apenas quinze minutos de sua casa, e ela disse que era o lugar mais fofo do mundo. Nos últimos dias, ela não parava de tagarelar sobre o quanto a cidade era fofa.

  Eu não conseguiria olhar nem se quisesse, graça a bandana que cobria meus olhos. Fazia um tempo que estávamos andando, e eu tropeçava toda hora enquanto Shivany tentava não me deixar morrer.

  —Essa venda é realmente necessária? -perguntei, um pouco confusa com o comportamento estranho da minha enquanto ela me guiava.

  No instante em que estacionamos o carro, Shivany me mandou fechar os olhos. Então me levou para uma aventura.

  —É! Agora, fica quieta e continue andando. Estamos quase lá. Espera! Para! Carro! -guinchou ela, me puxando para trás.

  —Ai, caramba! -gritei, fazendo Shivany dar uma gargalhada.

  —Brincadeira. Não estamos nem perto da rua. Só achei que seria engraçado.

  —Ah, comi senti falta desse seu senso de humor.

  Meu tom era irônico, mas senti falta do senso de humor dela de verdade. Eu havia sentido falta de basicamente tudo relacionado a minha irmã,e, desde que pedi sua ajuda, ela estava sendo um anjo para mim.

  —So vamos virar mais uma vez para a esquerda -disse ela com as mãos nos meus ombros. Então me girou para a direita. —Quis dizer direita, direita! Tá, mais uns passo para frente...dois passos para trás.

  —Nós estamos fazer a coreografia "Oppsites Attact", da Paula Abdul? Porque, se for isso, preciso trocar de sapato -avisei.

  —Calada, mulher. Chegamos. Só vai um pouquinho para a esquerda. -dei um passo para o lado. —Mais um pouquinho. -deslizei meus pés outra vez. —Ta ótimo, ótimo. Agora, um pouquinho para a direita.

Southern Storm- KlonnieOnde histórias criam vida. Descubra agora