Diferente de mim, Vanessa sempre foi uma mulher festeira. Durante nossa adolescência meus pais tiveram vários mini surtos com ela chegando extremamente tarde em casa. Eu conheço muito bem a irmã que tenho, ela poderia até parecer meio desregulada com horários e sua troca rápida de namorados, mas sua cabeça funcionava 100% bem.
Era uma hora da manhã e eu estava sentada na varanda de frente ao nosso portão, a aguardando já que a bonita fez questão de me ligar trocentas vezes me pedindo que deixasse o portão destrancado pra ela entrar.
E como uma boa irmã mais nova — quatro anos de diferença — que sou, eu obedeci. Como nos velhos tempos.
O portão range enquanto é empurrado bem devagarzinho, Vanessa surge com os sapatos nas mãos. Jogo as chaves e ela as pega no ar.
— Bom dia. — Ele me deu um sorriso como se estivesse pedindo desculpas. Igual como todas as outras vezes.
— Tem mais alguém acordado?
— Só eu.
— Ótimo.
— Veio de carro?
— Aham. Meu namorado me trouxe.
— O Carlos, né?
— O Luiz. — Ela corrigiu. — Carlos era meu conversante, Tereza, mas a gente já parou de se ver.
Como eu ia advinhar? Ela terminou com o tal Carlos faz… uma semana?
— Tá legal, vamos entrar antes que alguém acorde.
Demos a volta e seguimos em direção da porta da cozinha, já que ela fica mais longe dos quartos e teria menos chances de alguém acordar e descobrir o que minha irmã estava aprontando. Ao passar por uma das janelas, a qual eu sabia muito bem onde dava, Vanessa parou e encarou um ponto da parede de olhos arregalados. Segui seu olhar e me deparo com uma coisa preta entrando pela janela.
Vanessa cobre a boca para não gritar e eu coloco as mãos em seu ombro a acalmando.
— Você viu? Tenho certeza de que era uma aranha gigante.
— Tá escuro aqui fora, não tem como saber se é uma aranha gigante.
— Gigante pode até não ser, mas com certeza era uma aranha.
Respirei fundo algumas vezes enquanto coçava meus cabelos, eu precisava fazer alguma coisa.
— Tá bom, eu vou matá-la.
— Sério?
— É… — Peguei uma vassoura escorada o muro. — Pode ir dormir, eu dou um jeito nisso.
— Obrigada Tereza.
Vanessa morria de medo de aranhas, eu sempre tive medo também, mas após uma experiência traumatizante quando criança — onde uma aranha quase caiu em sua cabeça — eu me dediquei a tirar de vista todas as que eu via.
— Na verdade está bem tarde, por que você não faz isso amanhã?
— Não posso… O Eris está dormindo aqui. — Dei uns tapinhas em seu ombro e ela sai.
Com todo o silêncio do mundo eu andei e avaliei a janela pensando em alguma forma de entrar sem fazer barulho. Felizmente, a janela não possuía grades. E sim, Vanessa já a utilizou para sair e entrar em casa sem ninguém perceber.
Empurrei a janela de vidro para cima e, de mal jeito, coloquei minha perna direita para dentro, depois a cabeça, e por último a outra perna. O problema foi depois, onde eu simplesmente caí com tudo dentro do quarto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Raízes Amargas, Amores Doces
RomanceMaria Tereza - normalmente chamada apenas de "Tereza" ou até "Terezinha" pela sua melhor amiga - trabalha como assistente odontológica no centro de Belo Horizonte, em um consultório chamado 𝙎𝙤𝙧𝙧𝙞𝙨𝙤 𝙁𝙚𝙡𝙞𝙯, onde sua paciência é testada dia...