O QUE É BOM, SE TORNA RUIM.

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"No oitavo dia, ele viu que tudo era bom e mergulhou o mundo em caos absoluto."


O vento denso se espalhou por minha face, enquanto meus olhos fitavam a superfície extensa e deserta

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O vento denso se espalhou por minha face, enquanto meus olhos fitavam a superfície extensa e deserta. Dou um passo à frente e senti toda a aura forte que emanava de mim, do interior para o exterior, afetando a condição lógica, fazendo com que os animais sobrevoassem ao meu redor. Cerrei os olhos e dobrei um joelho para ficar no nível de um corvo, cujos globos oculares negros, contendo íris igualmente negras, desviavam o olhar freneticamente de um lado para o outro sobre meu rosto.


Elevo os dedos à altura do capuz negro que escondia minha face, fazendo com que o pequeno corvo, de penas negras, me enxergasse com mais clareza. Acompanhei minha aura obscura afetar sua condição, e ele soltou um grunhido de dor ácida. Ao tentar bater as asas, fitei-o este com força. Analisei o pássaro explodir, e seus olhos negros saltaram de seus globos oculares. O sangue do animal espirrou em meu rosto; o quente se misturou ao gelado, e eu achei graça.

— O que é bom, se torna ruim. — afirmo, limpando o sangue dos dedos. Ergo os pés e caminho, passo a passo.

Inclino os olhos para o céu, que aos poucos se torna escuro, de um vermelho rubro e forte. Bato um pé sobre a pedra e abro os braços. De pé, em um prédio improvisado, olho a pequena cidade do alto, com o queixo erguido enquanto meus olhos a analisam.

— Então você irá se chamar Cliffor. — Levo as pontas dos dedos à boca, sugando o sabor do animal. — Cliffor e caos ornam muito bem. E quem pisar aqui será amaldiçoado. Terá seus olhos arrancados, ossos quebrados, tal como a pequena ave.

No silêncio absoluto que reluta contra os barulhos dos pássaros, desço lentamente os degraus de pedra do prédio, assim, trazendo o capuz preto em direção ao meu rosto e cobrindo-o novamente. A cidade ao redor é deserta, suas ruas vazias e sem vida. Enquanto caminho no vão aberto da pequena cidade, cada passo ressoa como um eco sinistro, me equilibrando em uma realidade distorcida pela minha presença maligna.

A luz da lua lança sombras grotescas sobre os galhos de algumas árvores grandes, que parecem se contorcer em resposta ao poder que emana dos meus olhos, fitando-as. À medida que avanço, a própria essência da cidade parece se transformar: as linhas retas se torcem, os edifícios parecem se inclinar para mim, sinto meu corpo querer flutuar, é como se tudo estivesse se curvando à minha vontade.

O vento uiva baixinho, como se sussurrasse segredos nefastos nos ouvidos dos espíritos que aqui estão presentes. Avisando, silenciamente, as coisas absurdas que cada um que ousar pisar seus pés em Cliffor, irá presenciar. Não há sinais de vida humana, apenas a presença opressiva do meu ser, tingindo tudo com uma aura de distorção e desespero. A cada respiração, o ar parece mais pesado, a atmosfera engolindo meus pensamentos sórdidos lentamente.

As palavras que não eram ouvidas ressoando da minha boca, podendo ser ouvidas por nenhum ouvido humano, ecoava na minha própria mente, a cada caminhar que eu dava. Sem pressa. Uma voz rouca zumbia em um sussurro, corroendo minha mente com promessas sombrias. O sorriso se formou em meus lábios, meus olhos, esses que brilham sob a luz da lua, queimavam-os com uma chama que acendia intensamente com um desejo insaciável pelo caos e a destruição.

Tudo começou distorcer-se da realidade ao meu redor. O concreto rachava sob meus pés pouco a pouco, as sombras se contorciam como se fossem vivas. A escuridão seguia meus passos, uma presença sinistra que envolvia tudo o que meus olhos fitavam.

— Tudo aqui, desde as árvores até o vento que sopra tão forte, irá presenciar a obscuridade insana que esta cidade irá se tornar. — Puxo com firmeza, amassando entre meus dedos o capuz preto, ressoando minha voz grave. — Tudo. Eu sinto, tudo em mim arde de desejo para que comece e termine em ruína, a pequena cidade de Cliffor.

Com a voz baixa, ecoei as palavras que a voz na minha mente me comandava. As árvores secavam instantaneamente, o ar se tornava denso e pesado com um aroma de decomposição. Minha presença era como um câncer, corroendo a essência da cidade, transformando-a em um reflexo distorcido de meus piores pesadelos.

Observando tudo ao redor, calado, num silêncio sepulcral, caminhava, como uma figura solitária envolta na escuridão que eu mesmo emanava. Cada passo era um avanço em direção ao abismo, cada palavra sussurrada uma sentença para aqueles que ousassem cruzar a entrada daqui. A cidade vazia era uma tela, e minha promessa pintava com os tons mais profundos do medo e da escuridão.

O ruído das pedras sob meus tênis ecoava conforme eu avanço em direção à entrada, crescendo em intensidade. Inclino o queixo para cima, os olhos semicerrados enquanto observo o denso vermelho se espalhando pelo céu devastado, obscurecendo cada centímetro de Clifflor. Um passo à frente, e o vento chicoteou o tecido grosso do capuz que envolve meu rosto, e com precisão dirijo os olhos para a poça d'água.

Inspiro o ar brutalmente e encaro minha face se desenhar pouco a pouco na água cristalina e transparente. As íris dos meus olhos negros, como os globos oculares. Um rosnado escapa pelas veias da minha garganta enquanto observo a água evaporar das pedras, levando consigo o reflexo dos meus olhos. Sinto o capuz bater contra minhas costas e acelero o passo, exalando a podridão que emana de mim, contaminando a cidade e atraindo corvos. Ergo o queixo para o céu, testemunhando as aves explodirem em um frenesi de asas e um lamaçal de sangue que paira sobre a superfície, acima da minha cabeça.

Os pelos negros caem ao vento, o ruído dos ossos quebrando ecoa como a mais melancólica das músicas em meus ouvidos, inflamando meu ser. Avanço um passo à frente, vislumbrando os trilhos enferrujados do trem à entrada. Ergo os olhos em direção à grande porta.

— E no oitavo dia, o Maligno resolveu tirar férias em Clifflor! — Canto a plenos pulmões, dando um passo para fora da pequena cidade.

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