Capítulo 2

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Ainda sentada à mesa, olhei para Seline, que brincava distraída com os restos do bolo em seu prato. Meu coração apertou ao pensar que esse seria nosso último momento juntas por um tempo indeterminado. Eu me levantei lentamente, tentando manter a calma, e me abaixei para ficar na altura dela.

- Seline, querida, eu preciso ir agora. - Minha voz saiu mais trêmula do que eu gostaria.

Ela levantou o olhar para mim, seus olhos grandes e inocentes refletindo confusão.

- Poxa, mas nós ainda não dançamos juntas! - fez beicinho.

- Eu sei pequena, prometo que vamos dançar muito da próxima vez que nos virmos. Mas agora preciso ir.

Seline franziu a testa, claramente não entendendo a situação por completo.

- Mas você vai voltar, né? A gente vai dançar ainda.

Senti um nó na garganta e lágrimas ameaçaram cair. Abracei-a apertado, sentindo o cheiro doce de seu cabelo.

- Eu vou tentar, Seline. Eu prometo que vou tentar. E enquanto isso, você precisa ser muito forte e cuidar bem de tudo aqui, tá bom?

Ela assentiu, ainda parecendo confusa, mas abraçou-me de volta com força.

- Eu vou sentir sua falta, Yara.

- Eu também, minha pequena. Eu também.

Soltei-a com relutância e dei um beijo em sua testa. Quando me levantei, vi meu pai se aproximar, com um olhar sério e cansado. Ele colocou a mão no meu ombro, um gesto raro de afeto.

- Yara, é hora de ir.

Eu assenti, lutando contra as lágrimas que insistiam em cair. Com um último olhar para Seline, que agora segurava uma pequena boneca contra o peito, segui o segurança até a saída.

O segurança andava alguns passos de distância à minha frente, conversava com alguém no fone de ouvido. Era com certeza um dos homens do meu esposo, e aparentemente o que mandava ali, era o mais alto, mesmo com o terno era possível notar o seu porte físico robusto. Outros dois seguranças apareceram ao meu lado, nenhum deles direcionou sequer um olhar a mim.
Quando me aproximei do carro o líder deles abriu a porta, olhei para trás procurando por Erik, aparentemente não iríamos no mesmo carro.

- Onde está meu esposo?

- O chefe tem seu próprio carro.

- E porquê não posso ir com ele?

- São protocolos de segurança, senhora. E o chefe tem outros compromissos após o casamento, a senhora irá para outro lugar.

Aquilo pareceu bastar para o segurança que não tinha cara de muitas palavras, eu confirmei com a cabeça e entrei no carro. Um dos seguranças sentou no banco de trás junto comigo e se sentou na janela oposta à minha, o líder deles se colocou no banco de passageiros enquanto o outro pegou o lugar do motorista.

A viagem foi extremamente silenciosa, os homens comigo pareciam atentos a cada movimento fora do carro, em nenhum momento direcionaram qualquer olhar ou outra palavra até chegarmos ao nosso destino.

O motorista saiu primeiro, depois o segurança do banco de trás, e então o líder rodeou o carro e abriu a porta do veículo, tudo meticulosamente ensaiado, eu estava sendo transportada como uma joia preciosa. Fui direcionada até a entrada do hotel mais luxuoso de Moscou. O hall de entrada e a recepção estavam estranhamente vazios.

- Porquê está tão vazio?

- O chefe pediu para que apenas a senhora ficasse hospedada, questões de segurança.

- Ah, claro, como não tinha pensado nisso - respondi com certa ironia.

Tentei acompanhar os passos, notei que em todo lugar havia um segurança com um fones de ouvido e armas na cintura. A porta do elevador dava para um pequeno corredor onde havia apenas uma porta, deveria ser a suíte presidencial.

- Algumas roupas foram deixadas para a senhora no quarto. O resto de seus pertences já está sendo enviado para a propriedade do chefe em São Petersburgo.

- E por quanto tempo ficarei aqui? - perguntei enquanto o segurança abria a porta do quarto.

- Até o chefe resolver suas pendências. Caso precise de algo, use esse telefone - estendeu o aparelho para mim. - O contato do chefe e o meu estão aí, use apenas quando precisar, e de preferência, ligue para mim. - Como se eu planejasse ligar para Erik, pensei. - A partir de hoje eu serei responsável pela sua segurança. Boa noite, senhora.

- Qual seu nome? - perguntei antes que ele saísse.

- Gustav, senhora.

- Obrigada, Gustav. Boa noite.

A porta se fechou suavemente atrás dele, deixando-me sozinha no luxuoso espaço. Olhei ao redor, tentando absorver a opulência do lugar. A suíte era deslumbrante, com uma vista panorâmica da cidade iluminada. Mas nada disso parecia importar. Meu coração estava pesado, e o peso da responsabilidade que eu havia assumido começava a se fazer sentir.

Fui até a janela, observando as luzes cintilantes de Moscou. Senti uma mistura de medo e determinação. Eu sabia que estava presa em um jogo de poder maior do que eu jamais poderia imaginar.

- Pelo bem de Seline, pelo meu bem, para evitar uma guerra - murmurei para mim mesma, tentando encontrar força nessas palavras.

Afastei-me da janela e fui até o banheiro. A banheira de mármore parecia convidativa, e decidi tomar um banho para tentar relaxar. Enquanto a água quente enchia a banheira, tirei o vestido de noiva e o deixei cair no chão, sentindo um alívio ao livrar-me daquele corpete apertado.

Mergulhei na água, deixando a sensação de calor me envolver. Fechei os olhos e, por um momento, tentei esquecer tudo. Mas a imagem dos olhos de Erik, tão frios e impassíveis, não me deixava em paz. Eu precisava descobrir mais sobre ele, sobre a razão por trás daquela máscara, sobre o homem que agora era meu marido.

Depois de algum tempo, saí da banheira e vesti um robe de seda que encontrei pendurado na porta. Fui até a cama, mas sabia que dormir seria difícil. A mente estava a mil, cheia de perguntas sem respostas.

Fechei os olhos, tentando acalmar meus pensamentos. Precisava ser forte, por mim, por Seline, por todos que dependiam desse frágil acordo de paz.

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Desculpa pela demora para postar! O capítulo foi pequeno mas espero que tenham gostado. Até o próximo capítulo.

Mafioso MascaradoOnde histórias criam vida. Descubra agora