CAPÍTULO 1

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Eduarda

Vejo muitas pessoas entrando de forma automática no avião como se fizessem isso com frequência. Consigo encontrar minha poltrona e, por sorte, fica ao lado da janela. Estou curiosa para a vista lá do alto.

A maioria dos lugares já está preenchido, por isso sei que em alguns minutos já iremos partir. Então aproveito para me acomodar, pegar meus fones e já escolher algo para assistir, ajudando o tempo passar e me distrair do leve medo que estou por viajar de avião. Gostaria tanto de ter uma companhia para me sentir mais tranquila.

As comissárias passam pelo corredor dando alguns avisos, pedindo a colaboração de todos para que permaneçam em seus lugares e com o cinto de segurança sempre preso, além de verificar caso alguém precise de algo a mais, antes de se achegarem aos próprios assentos.

Observo um último passageiro entrar correndo com sua bagagem de mão por medo de perder o voo. Um homem bem alto e elegante, que porventura se acomoda ao meu lado, a única poltrona sobrando no avião. Espero que não seja uma pessoa antipática.

O rapaz recosta sua cabeça no encosto da poltrona e fecha os olhos, suspirando. Decido não dizer nada, primeiramente, porque ele parece querer um momento de silêncio e segundo por simplesmente não o conhecer. Nesse caso, dou o play na série que escolhi, O Atirador – que por coincidência é uma das minhas favoritas – já que ficarei pelo menos 11 horas dentro desse avião.

Me arrepio toda vez que começo a assistir essa série, as primeiras falas do ator são sensacionais e prendem minha atenção no mesmo instante.

Sempre me perco na empolgação de filmes e séries de ação, na emoção de acompanhar qual o próximo passo do protagonista ou qual ato de rebeldia que pode colocar em risco as pessoas. Adoro, principalmente, essas histórias de snipers. Como conseguem ser tão bons mesmo a quilômetros de distância?

Focada no meu mundo interior, não percebo de imediato quando uma voz tenta chamar minha atenção.

– Bob Lee é esperto demais para se deixar vencer, não é?!

O homem sentado ao meu lado está tentando iniciar uma conversa ou é impressão minha? Achei que ele não fosse falar nada, muito menos que falasse português de forma meio estranha, mais para um sotaque italiano.

– Me pergunto como ele se deixou ser enganado. – Respondo me virando para encarar seu rosto e encontro ele na mesma posição de antes, olhos fechados e cabeça encostada.

– O fato intrigante é como ele é capaz de tudo para proteger a família e, ainda assim, consegue ser um dos melhores atiradores. Uma pena o que acontece com a esposa. – Neste instante o rapaz desconhecido abaixa sua cabeça e percebe que o estou encarando.

Fico sem fala por alguns minutos, porque estou hipnotizada nos olhos verdes meio acinzentados que, até o momento, não tinha percebido. Preciso dizer algo para ele não notar minha reação esquisita.

– Espera aí, você está mesmo me contando o que vai acontecer na série?! – O encaro séria e o mesmo parece se assustar.

– Não foi a intenção contar um spoiler, pensei alto demais. – O coitado deve estar se sentindo sem graça.

Começo a sorrir e ele fixa o olhar no meu sem entender nada.

– A sua sorte é que já assisti a série toda umas três vezes e a cada vez parece melhor ainda, sou fã de carteirinha. Concordo que foi mesmo uma pena. – Ele sustenta meu sorriso e tende a relaxar um pouco, estendendo a mão de forma meio desajeitada para mim.

– Sou o Vincenzo, prazer!

Retribuo o seu gesto e acabo respondendo.

– Meu nome é Eduarda Medeiros e o prazer é meu! – Solto sua mão mais rápido do que pretendia porque, juro, senti aquele leve choque que às vezes sentimos quando encostamos em alguém. – Você por acaso não é brasileiro, é? – Não consigo me conter quando o negócio é curiosidade.

– Na verdade, não. Sou da Itália, mas suponho que você seja do Brasil. – Que bom que é carismático!

– Eu sou e daqui do Rio mesmo.

Não sei se devo dizer algo agora em seguida, ele apenas balança a cabeça assimilando. Esse é um daqueles momentos em que ninguém diz nada e apenas concorda.

Antes de se iniciar um silêncio constrangedor, sou salva por uma comissária que passa ao nosso lado no corredor com algumas opções para comer.

Ainda bem!

Primavera na ItáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora