Capítulo 01

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Jogue as suas asas! Solte suas feraaa-

O som do despertador ecoava pela quitinete. 4:30 da manhã.

"Ainda me pergunto como não mudei o som desse trem, sinceramente..."

A garota se levantou e desligou o alarme, cansada e descabelada logo seguiu para o banho. Ao sair, já vestida, conferiu o telefone brevemente.

"Mas que porra? Quê que essa garota 'tava me ligando desde as três da manhã? Menina, eu durmo!" O telefone toca novamente, enquanto a garota tenta arrumar os cabelos - uma chaleira com água já fervendo no fogão e um pão sendo esquentado na misteira ao mesmo tempo.

"Eu não vou te atender, sua bêbada!" A garota exclamou ao ouvir novamente uma ligação, olhando para o telefone com a mesma indignação que planejava olhar para a amiga ainda hoje. Paula, seu anjo da guarda desde que havia chegado ao Rio, parecia estar precisando é de um anjo pra si. A garota tinha o péssimo hábito de beber aos domingos tal qual fosse sábado, o que sempre resultava em ligações implorando pela carona de alguém para a levar até a faculdade ou em casa.

Carolina já foi pega vezes o suficiente nas suplicas de sua amiga, hora de passar esse b.o pro próximo nome na lista de contatos!

Shiiiiii

A chaleira apitou, e em um frenesi, se levantou a moça para desligar o fogo e passar seu tão necessário café - que inclusive já estava acabando. 'Tenho que pedir para mamãe me enviar mais, isso aqui só vai durar até o próximo mês e olha lá!'

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Sua morada na cidade maravilhosa não tinha nada muito próximo do "maravilhosa". A sorte que teve ao conseguir um emprego antes mesmo de vir para o Rio não foi passada pra sua visita as inúmeras imobiliárias nos bairros da região. Das duas, uma: ou os alugueis que cobravam eram absurdos, ou então as condições da estrutura eram de dar dó. Sério. Muitas vezes considerou até permanecer no hotel onde estava, se não encontrasse nada.

Em uma visita que decidiu fazer a um desses, por desencargo de consciência, esperando que as vezes as fotos só eram muito ruins, teve o desprazer de achar uma rachadura tão grande na parede do quarto, que nem mesmo o senhor dono do apartamento pôde desculpar a situação.

Acabou ficando com um dos primeiros locais que chegou a visitar - uma quitinete, tal qual uma caixa de fósforos, mas próxima o suficiente do ponto de ônibus para que pudesse fazer o trajeto a pé.

Trajeto este que fazia agora, ainda não beirava as seis da manhã, os pássaros apenas começando a cantar, mas as ruas já se viam cheias de pessoas e a cada padaria que passava o cheiro de café quente tomava conta. Carolina chegava quase ao ponto de ônibus, passava em frente a uma praça, onde uma comoção se formava logo cedo.

"Olha aqui, sua pirralha, eu não tô com paciência pra essa falação hoje não, beleza?" gritou um homem ao longe, farda preta em todo seu corpo, já logo empurrando uma das meninas do pequeno grupo que se encontrava reunido na praça.

"Ei! Me solta, seu imbecil! Você sabe quem é meu pai? Eu vou acabar com essa sua carreira de lixo! Porco fodido!" E logo atrás vieram os gritos da garota, Carolina não fazia ideia de quem eram aquelas figuras, mas era impossível não reconhecer caveira estampada no camburão parado atrás da cena - inclusive, de onde outros dois homens observavam a cena, abordando o resto das garotas. Eram ali todos policiais do BOPE.

Alguns pacotes foram entregues para os homens, e as meninas pareciam desejar mais que tudo poder fugir dali, enquanto a outra parecia competir com o policial, e ver quem ganhava na competição de gritos e ofensas.

"Escuta aqui, sua mimadinha, eu não me importo de qual saco você saiu, 'tá me ouvindo? O que eu ligo é pra saber de onde a senhorita tirou tanta maconha pra abrir a merda de uma boca na praça!" E com isso, a pequena multidão, que se amontoava cada vez mais perto da cena, imediatamente travou, todos em choque. Em segundos, todos pareciam então notar o cheiro distinto de maconha no ar, especialmente forte perto das garotas.

Orgulho | Capitão NascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora