Acasos

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Orion

Jayden me guiava rapidamente em direção à saída, desviando da multidão que ainda se aglomerava no local, sem me dar chance de recusar a carona. Deixamos nossos amigos para trás, com expressões atordoadas. Eu andava automaticamente, sem prestar muita atenção ao redor.

Enquanto tentava controlar a respiração, não conseguia tirar os olhos de suas costas. Fui completamente pego de surpresa pela sua gentileza. Afinal, os boatos sobre ele não eram bons – todo o campus comentava sobre o calouro arrogante de cara fechada, que não poupava esforços para afastar quem tentasse se aproximar. Contudo, desde que o conheci, ele foi extremamente cortês, me fazendo questionar até que ponto as fofocas da faculdade refletiam a realidade.

Conversar com ele era fácil e natural. Meu sangue parecia correr rápido demais, e eu não sabia se era por causa da bebida ou pela presença dele à minha frente. Esperava que fosse pela bebida. Ele exalava confiança a cada passo, como se o mundo lhe pertencesse. A leve brisa que soprava do lado de fora fez seus cabelos loiros balançarem suavemente, em contraste com seu porte.

Chegamos ao estacionamento, e ele parou diante de uma moto esportiva preta. Combinavam perfeitamente, ambos se fundindo à noite. Ele vestia calças pretas rasgadas nos joelhos, uma camiseta escura que moldava seu corpo e um casaco, também preto, que parecia quente demais para a estação. Ele parecia ter uma aversão a cores, pensei, exceto pelo loiro de seus cabelos e o colorido de seus olhos. Tudo naquela aura de mistério e rebeldia combinava perfeitamente com ele – até demais, para o bem da minha sanidade. Santo Deus, se esse fosse o diabo, agora eu entendia Eva perfeitamente.

Ele se voltou para mim, e eu fechei a boca rapidamente, sentindo meu rosto esquentar ao perceber que tinha sido pego o encarando. Jayden, porém, não parecia se importar. Ele me entregou um capacete, que pegamos com uma garota entediada na recepção. 
– "Você mora nos dormitórios da faculdade?" – perguntou. Sem conseguir achar minha voz, apenas confirmei com a cabeça. 
– "Certo, então vamos lá." 

Coloquei o capacete e subi na moto atrás dele. Ele girou a chave, e o ronco do motor ecoou na noite. Aceleramos, e, momentaneamente desequilibrado, agarrei-me a ele por reflexo. O contato fez uma corrente elétrica percorrer meu corpo. Jayden virou a cabeça, exibindo um sorriso de lado que mostrava uma pequena covinha no canto do lábio. 
– "Se você está com medo de cair, é melhor se segurar direito." 
Determinado a manter o pouco de dignidade que me restava, me afastei um pouco. 
– "Foi mal, não estou acostumado com essas coisas." 
Ele apenas balançou a cabeça, abafando um som indignado sob o capacete. Não consegui segurar o riso, lembrando da nossa conversa sobre o ciúme dele.

A cidade já estava silenciosa àquela hora. Fechei os olhos para sentir a brisa fria tocar minha pele. Eu gostava daquela sensação de paz. Jayden, à minha frente, parecia concentrado na estrada. Chegamos rápido ao meu destino. Ele parou a moto em frente ao prédio dos dormitórios, e eu desci, tirando o capacete e tentando arrumar meu cabelo desordenado. 
– "Muito obrigado por me trazer até aqui." – disse, estendendo o capacete de volta para ele. Jayden apenas me olhou, sem pegá-lo de imediato. 
– "Você está gostando da faculdade?" – a pergunta saiu do nada, como se ele quisesse continuar nossa conversa. Fiquei surpreso, e devo ter demonstrado, porque ele pigarreou e pegou o capacete, tocando meus dedos de leve, o que me fez sentir uma nova onda de eletricidade percorrer o corpo, pela terceira vez naquela noite. Ele percebeu.

Tentando amenizar o clima, respondi sinceramente: 
– "Estou, sim. Sempre foi meu sonho." 
Isso pareceu aliviar a tensão, e seus ombros relaxaram um pouco. 
– "Você está cursando Direito?" 
– "Sim, mas não era meu sonho no início." – Ele disse a última parte quase em um sussurro, mas eu ouvi. Arqueei a sobrancelha, curioso. Sua pele ficou levemente rosada. 
– "Ah, é? E qual era o seu plano inicial?" 

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