Dia chuvoso

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Orion

O tempo começou a esfriar. Das janelas do meu quarto, eu via o céu nublado, com nuvens cinzentas escondendo o sol e anunciando a chuva iminente. Ainda assim, para mim, o dia parecia lindo. Talvez isso fosse reflexo do meu estado de espírito radiante.

Não pude evitar um sorriso ao pressionar os lábios contra a borda da minha xícara de chá, relembrando a noite anterior.
Será que eu estava me tornando um bobo apaixonado? Talvez. Mas eu não poderia me importar menos.

A xícara morna aquecia minhas mãos, trazendo à tona a vaga lembrança do toque de Jayden, quando suas mãos calorosas se entrelaçaram nas minhas, um gesto que me envolveu com uma sensação de conforto e pertencimento, como se, naquele momento, tudo estivesse no lugar certo.

A chuva começou a respingar contra o vidro da janela, e me peguei observando, fascinado, as gotas escorrendo lentamente, enquanto minha mente vagava pelos sentimentos que transbordavam em meu peito. O toque do celular me tirou do devaneio, e olhei para a tela iluminada, onde o nome da minha mãe aparecia. Ainda segurando a xícara, apressei-me em atender.

"Bom dia, minha rainha", cumprimentei, sorrindo. Ela, claro, notou minha alegria imediatamente. "Ora, ora... Bom dia. O que aconteceu para você estar tão feliz assim?" perguntou, com um tom de curiosidade evidente.

Olhei novamente pela janela e suspirei; não adiantava esconder, ela sempre soube me ler, mesmo à distância.

"É... bem... tive um encontro ontem." Mal terminei a frase e ela soltou um suspiro surpreso. "Você? Como assim? Com quem?" Ouvi Marty ao fundo perguntando o que estava acontecendo. Ok, me senti levemente ofendido com a reação dela.

"Mãe! Como assim 'eu'? Credo. Você acha que ninguém se interessaria por mim?" Falei, dramático, enquanto ela ria de mim. "Não é isso, meu amor, é só que..."
"Só o que, mãe?" Encostei-me à janela. "Só estou surpresa, é isso. Você sempre afastava todos que se aproximavam de você... Mas me conta, como foi? Quem é essa pessoa?" Ela parecia genuinamente curiosa, e eu podia facilmente imaginar sua expressão só pelo tom da sua voz.

"Ah, mãe, foi incrível. Fomos ao cinema, assistimos a um filme e depois fomos dar uma volta de moto. Ele me levou a um lugar incrível, só para me mostrar as estrelas." Só de lembrar, meu coração acelerava.

Minha mãe ficou em silêncio enquanto eu tagarelava sobre o encontro, comentando aqui e ali com expressões de surpresa ou encantamento.

"E como ele é?" minha mãe perguntou, e por um momento fiquei sem palavras. Como eu poderia descrevê-lo? "hum... mãe, ele é o meu oposto." Ri baixinho antes de continuar.

"Ele tem um ar rebelde, impetuoso, do tipo que não aceita desaforo e fala o que pensa. Seu humor é ácido e ele adora me provocar. Mas, quando está comigo, é gentil, caloroso e atencioso. A gente conversa sobre tudo, mas com ele o silêncio também é confortável. É como se só estar ali já fosse o suficiente, como se eu, sozinho, já fosse o suficiente." Meu reflexo, difuso no vidro da janela, me encarava de volta.

Do outro lado da linha, o silêncio se alongou por um momento, até ser quebrado por um assobio e um suspiro. Marty e minha mãe, obviamente, estavam me escutando. Senti meu rosto arder de vergonha.

"Uau!" minha mãe disse, por fim. "Isso foi intenso", Marty completou logo em seguida. Encostei a testa no vidro frio e fechei os olhos. "Mãe, sua traidora!", reclamei, indignado. Ela riu com aquela risada melodiosa, enquanto Marty gargalhava. "Não se preocupa, garoto. Seu segredo está seguro comigo. Você sabe disso."

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