Capítulo 02

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Nosso encontro com a cliente estava marcado para às 23:00 horas, em um escritório para reuniões que tínhamos em um galpão antigo do meu pai. O local era bem remoto, o que sempre ajudou em fazer nossos negócios ali. Era um ambiente escuro, com uma mesa grande com várias cadeiras e algumas poltronas. Nós também tínhamos algumas regras para esses encontros: sem armas, completa discrição e tudo acordado via contrato. Eu e Antony usávamos máscaras e nomes de trabalho, por questões de segurança, mas os clientes podiam optar se eles queria usar ou não.

Eu e Antony chegamos por volta de 22:50, ele com seu traje todo preto, luvas de couro, bandana preta amarrada no rosto, boné preto e óculos de grau. Eu usava uma calça cargo preta enfiada dentro dos coturnos de cano médio, luvas de couro preta personalizada com garrinhas pra não machucar minhas unhas, blusa de manga longa e gola alta, no rosto uma bandana preta com uma Fenix cravada no canto direito e o cabelo amarrado num rabo de cavalo alto com trança.

Os clientes chegaram cinco minutos depois de nós, era um casal, entramos e nos sentamos à mesa. Trocamos alguns cumprimentos e demos início às negociações:

- Bom, precisamos de todas as informações que vocês possuem, o resto nós coletamos - disse Antony, ou melhor, naquele momento ele era "o corvo".

- O que acontece é que esse desgraçado se tornou um grande problema nas nossas vidas. Ele é filho do Sebastian, o dono de um cartel da cidade vizinha. Ele teve a brilhante ideia de abrir uma boate para o filho, no nosso bairro, atrelada a seus negócios. Além de estar destruindo nosso trabalho, as brigas por território estão cada vez piores, perdemos 3 do nossos no último mês. Sem esse moleque no nosso caminho, nossas vidas poderiam voltar ao normal - a mulher falava com uma mistura de raiva e desespero.

- Então vocês querem o "muleque" morto, certo? - perguntei olhando fixamente nos olhos dela.

- Já tentamos de tudo, roubos, arrombamentos, depredação, ameaça e nada funcionou. Se pra tudo voltar como era antes é preciso que ele morra, que assim seja feito - ela falou tentando amenizar o peso do que ela estava pedindo.

- Olha minha senhora, pode ser direta conosco, eu e Fenix estamos nesse ramo a muito tempo, não precisa de rodeios - Corvo falou sério enquanto encarava a parede. Logo em seguida, virou a cabeça pra mulher e perguntou de forma seca - você quer ou não quer ele morto?

- Quero! - ela respondeu.

- Certo, vou preencher os papeis enquanto Fenix finaliza as informações com você - Corvo disse se virando pra papelada.

- O que você trouxe de informações adicionais? - questionei indo em direção a ela.

- Esse é ele - ela disse enquanto me mostrava uma foto do alvo - o nome dele é Dylan.

No mesmo instante eu só consegui pensar "Nossa, que desperdício". A foto era de um cara muito bonito, aparentava ter próximo da minha idade, de pele clara, cabelos castanho claro, ondulado e levemente desgrenhado, tinha grandes olhos verdes por trás de um óculos redondo preto. Ele esboçava um sorriso largo, exibindo o rosto comprido e marcado e o nariz alongado. Ele parecia alto e de porte médio definido. Realmente seria um trabalho interessante.

Finalizamos todas as negociações, eles nos passaram tudo que tinham, assinaram e foram embora.

No dias que se seguiram, eu e Antony fizemos nossa pesquisa de campo pra saber tudo que precisávamos sobre o Dylan e organizar nossos próximos passos. Descobrimos que Dylan tinha 29 anos, era dono da boate Ashes and Flames, morava na mesma rua da boate numa casa relativamente pequena, porém luxuosa. Filho do grande dono de cartel Sebastian Daves, possuia uma conta bancária bem cheia e estava seguindo os passos do pai. Acompanhando sua rotina, Dylan era um cara que fazia sua corrida matinal quase todos os dias, ia na academia, frequentava o café ao lado de sua casa e no restante do dia ou estava em casa ou na boate.

Antony e eu decidimos que a melhor forma de me aproximar seria trabalhando na boate. Ele tinha alguns contatos que trabalhavam com documentações, infiltração e armação, que sempre que eu precisava me infiltrar que fosse pra emprego ou de qualquer outra forma eles davam um jeito. Cerca de dois dias depois eles entraram em contato informando que conseguiram uma vaga de Bartender e que já haviam me inscrito, era só comparecer na entrevista no dia seguinte às 13:00. A boate do Dylan, por ser uma empresa de fachada para mascarar os trabalhos do pai, por questões de segurança ele não tinha nenhum funcionário da equipe do pai, somente pessoas de fora, o que deixou tudo mais fácil. Entrevista marcada, agora só me restava esperar.

O restante do dia tinha sido tranquilo e a noite também. Acordei no dia seguinte e fui tomar café com Tony, ele já tinha preparado a mesa com pães e café preto, me sentei e servi meu copo:

- Bom dia nanica - ele disse bagunçando meu cabelo enquanto passava por trás da minha cadeira pra se sentar ao meu lado.

- Eu não sou pequena, você que é um poste - eu disse sorrindo.

- Preparada pra conhecer seu "trabalho" novo hoje? - ele disse com ar de provocação enquando segurava o riso.

- To tranquila, já fui bartender em outros 2 trabalhos e modestia parte eu sou muito boa - dei de ombros.

- Eu to falando do bonitão do seu possível novo chefe - ele disse sem conter a risada.

- Ah Tony, não me pertuba não - sorri - bonito ou não ele é trabalho e eu sou extremamente profissional - fiz ar de esnobe enquanto ele deu uma risada - vamos terminar logo isso que daqui a pouco eu preciso sair.

Terminamos o café conversando coisas aleatórias e logo em seguida fui pro meu quarto. Li e reli o meu currículo que eles entregaram na boate e depois tomei um banho. Fiquei um tempo descansando e ouvindo música até dar a hora de me arrumar. Coloquei uma calça de alfaiataria preta, um all star branco e uma camiseta preta, cabelos soltos e quase nada de maquiagem.

Sai um pouco mais cedo de casa, passei na rua para comer e cheguei na boate 20 minutos adiantada. Me apresentei na entrada e me levaram até uma sala onde eu ficaria pra aguardar. Alguns minutos depois mais duas garotas chegaram. Fiquei aguardando e não muito tempo se passou e um homem alto de terno veio até a porta e me chamou. Ele me conduziu pelo corredor até a sala de Dylan e me disse pra entrar. Entrei e fechei a porta atrás de mim.

- Boa tarde - disse assim que a porta fez o barulho de que tinha fechado.

- Boa... - ele hesitou por um momento assim que bateu os olhos em mim, ergueu as costas e completou - ...tarde. Sente-se, por favor - apontou pra cadeira a sua frente.

- Obrigada - eu disse enquanto me sentava. O cheiro da sala era uma mistura do perfume dele e Whisky, estranhamente combinou. Olhei melhor pra ele e era ainda mais bonito pessoalmente, vestia uma camisa social branca desabotoada em cima, os cabelos como se recem lavados e uma corrente fina de prata no pescoço. Desviei o olhar quando percebi que ele não parava de me encarar.

- Você já tem alguma experiência? - o olhar dele estava tão fixo em mim que quase podia me atravessar.

- Sim, já trabalhei em outros 2 locais - disse formal.

- Tem algum problema em trabalhar no turno da noite? - ele quase não piscava.

- Sem problema algum - eu tentava manter o tom sério.

- Tem disponibilidade de horário, caso eu precise de você? - perguntou. Sem tirar os olhos de mim ele puxou o telefone do gancho que tinha em sua mesa e discou um número.

- Tenho sim - respondi.

- Certo - com o telefone já no ouvido ele falou - Josh, na minha sala! - desligou e se virou pra mim - fique de pé e dê um passo pra trás.

Assim o fiz. Ele me olhava de cima a baixo vasculhando cada centímetro do meu corpo, quando finalmente terminou sua "analise" ele pousou os olhos ma minha boca e deu o esboço de um sorriso. A porta se abriu, chamando a atenção dele, e o mesmo cara que havia me levado até ali estava de volta.

- Acredito que o M vá servir nela. Leve-a pra assinar os papeis e pegar os uniformes - Dylan disse olhando pra Josh.

- Tem mais duas garotas aguardando, o que faço? - Josh questionou.

- Manda pra casa! - ele tirou os olhos de Josh e me encarou - Eu já achei quem precisava.

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