Dúvidas

187 18 22
                                    

     Alastor estava sentado na areia da praia. A brisa batia em seu rosto. Perdido em pensamentos, o moreno observava o horizonte. Havia matado um homem. Não havia motivo nenhum, apenas o desejo de ouvir a pessoa suplicando por misericórdia. O desejo de sentir o sangue da vítima cobrindo seu corpo por completo. 

     Mas, mesmo tendo feito o que tanto ansiava, o vazio em seu peito permanecia ali. Ele estava sozinho. Uma das coisas mais queria era alguém para conversar sobre sua segunda vida — aquela que escondia do mundo, aquela em que matava pessoas e comia a carne de seus corpos por puro prazer. 

     Mesmo aparentando não ter sentimentos, o moreno se sentia sozinho maior parte do tempo e queria ter uma pessoa que não o julgasse ou ameaçasse denunciá-lo à polícia — por mais idiota que aquele desejo parecesse.

     Alastor queria descobrir o que acontecia com suas vítimas após deixarem o mundo terreno. Se perguntava se havia alguma coisa após a morte, ou se simplesmente tudo acabava no momento em que seus corações paravam de bater. Mas, de uma coisa tinha certeza, se existisse um lugar para onde as pessoas iriam depois de morrer, e fosse baseado em suas ações, Alastor sabia que não iria para um lugar bom. 

     Uma risada de criança contrasta com o único som daquele lugar — o som do mar — e Alastor desvia o olhar do horizonte, tentando entender de onde vinha aquele barulho. Já era tarde, nenhuma criança deveria estar andando pela praia àquela altura da madrugada. O moreno se levanta, caminhando lentamente até o mar, deixando o terno na areia. Seu corpo estava coberto de sangue, se tinha alguém por ali, era melhor que não soubesse o que havia feito.

     A água gelada do mar toca na pele quente de Alastor, fazendo o sangue da vítima sair lentamente de seu corpo. Ele fecha os olhos e passa a mão pelo rosto, arrastando-as até o cabelo. O som da risada da criança ressurge, junto com a voz de algum adulto, dizendo que ambos deviam voltar para casa.

     — Charlie, por favor... Sua mãe vai querer me matar se a gente não voltar logo. 

     Alastor abre os olhos e vê um homem baixo caminhando pela areia. O moreno caminha de volta para a areia. Ele caminha até um coqueiro que havia na praia e senta novamente na areia.

     A risada dessa vez parecia mais próxima, como se estivesse atrás de si. Em questão de segundos uma garotinha sai correndo de trás de outra árvore, indo na direção do homem. Alastor sorri, a menina parecia estar se divertindo com a situação. Ele volta sua atenção ao horizonte.

     Minutos depois, o homem aparece novamente. Dessa vez, caminhando calmamente e sem a garotinha. Alastor não percebe a aproximação. Nem mesmo percebe o desconhecido se sentar ao seu lado.

     — Uma noite interessante para reflexões profundas, não? — Uma voz suave rompe o silêncio. Alastor olha para o lado, vendo o homem de mais cedo, percebendo que seu cabelo era formado por mechas douradas e que seus olhos, vermelhos, pareciam emitir uma espécie de luz própria.

     — Quem é você? — O moreno pergunta, tentando desviar o olhar daqueles olhos e disfarçar a surpresa.

     — Um observador. — Responde o homem, virando o rosto para observar o mar. — E também, alguém que pode responder suas perguntas. Alguém que entende seu desejo por respostas. Me chamo Lúcifer Morningstar.

     — Lúcifer? — Uma risada baixa escapa dos lábios de Alastor. — Tipo, um dos anjos caídos, o Rei do Inferno? Quem começou toda uma rebelião porque queria ser mais forte que Deus? Olha, eu sei sobre a bíblia, mas não sei se acredito nessas coisas. — O moreno desvia o olhar dos fios que pareciam ouro, deixando os olhos completamente focados no horizonte outra vez.

E se... (RadioApple)Onde histórias criam vida. Descubra agora