E se...

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     Alastor não percebeu o tempo passar, quando se deu conta de que estava observando Lúcifer há quase uma hora, deixou o livro no braço do sofá, se levantou, com o menor em seus braços, e caminhou em direção ao quarto. Deitou o rei em sua cama e foi para a cozinha. Aquilo não era uma coisa normal do radialista, ficar encarando uma pessoa dormindo. Ficar encarando o governador do Inferno dormindo... 

     Com uma caneca de café nas mãos, Alastor foi até a varanda. Se sentou no chão e começou a bebericar o líquido escuro lentamente. Já passava das três da manhã, ele deveria estar dormindo, mas estava completamente sem sono — o café, ingerido em excesso, contribuia muito para sua insônia. Mais uma vez, seus pensamentos o deixaram alheio a tudo. Estava pensando no loiro. De novo. Quando o sol começou a nascer, o moreno se levantou, entrou novamente em casa e fechou a porta.

     Alastor se arrastou até a cozinha, não havia terminado de beber o café. Nem terminaria, estava frio há muito tempo. Joga o que restava na pia e lava a caneca. Seca e guarda de volta no armário de cima. Depois de alguns segundos encarando a parede, o radialista vai para a sala. Senta no sofá e pega o livro que estava lendo antes, finalmente conseguindo focar em alguma coisa.



     Por volta das oito da manhã, Lúcifer acorda. Passa alguns segundos encarando o teto. Havia mesmo dormido no mundo humano? Na casa de um humano. No colo de um humano. Deduziu que Alastor o havia levado para o quarto depois de um tempo. Ele se levanta e, lenta e silenciosamente, se dirige até a sala. 

     Alastor ainda estava lendo. Parecia interessado no livro. O loiro decidiu não interromper e foi para a cozinha. Pegou uma maçã, sentou no balcão e começou a comer, olhando para a janela, vendo a cidade um pouco mais movimentada do que estava acostumado. Mesmo passando dias com o moreno, não costumava prestar atenção no mundo lá fora. Após terminar de comer, Lúcifer joga o miolo da maçã no lixo e vai lavar as mãos, que estavam grudentas. Seu olhar se volta novamente para a janela. 

     O radialista encosta o ombro no batente da porta e sorri, percebendo o quão impressionado Lúcifer estava com a vista da cidade. Ele se aproxima do menor, parando ao seu lado com o quadril encostado no balcão.

     — A vista daqui de cima é bonita, não é? — O loiro se vira para Alastor, claramente não havia percebido que estava ali. Isso era atípico.

     — Realmente. É bem bonito. Eu poderia passar uns dias tendo essa vista de manhã. — Lúcifer desvia o olhar. — Mas eu deveria voltar... Não posso simplesmente ignorar meu posto para sempre...

     Alastor concorda com a cabeça. Eles passam mais um tempo conversando. O rei repreende Alastor por não cuidar direito de seu sono. O radialista rebate, dizendo que Lúcifer fazia o mesmo. Como resposta, o loiro diz que dormir não é uma coisa tão essencial para si, que é quase uma escolha, já que tecnicamente não estava vivo. Para encerrar aquela discussão, o moreno afirma que se dormir é uma coisa que Lúcifer podia decidir, ele não teria simplesmente apagado em seu colo durante a madrugada. Sem mais argumentos, o menor decide mudar de assunto. 

     Antes de atravessar o portal e voltar para o Inferno, o loiro manda Alastor ir tomar banho e dormir por algumas horas. O moreno revia os olhos.

     — Eu vou vir puxar seu pé durante a noite. Aí, sim, você não vai dormir. E apagar completamente quando não aguentar mais ficar acordado. — O olhar do ex-arcanjo era sério, ele não parecia estar brincando. Alastor acena com a cabeça. Logo em seguida, o loiro entra no portal, que logo se fecha. O radialista decide obedecer.



     Um portal se abre no escritório de Lúcifer. Ele sai, e se joga no divã que havia no cômodo. O portal se fecha. Minutos depois, a porta se abre. Era Lilith.

E se... (RadioApple)Onde histórias criam vida. Descubra agora