Sob o brilho imponente e incontestável do sol, uma multidão se prostrava, aguardando ansiosamente a execução de um traidor. Estavam todos divididos quanto às acusações feitas contra o outrora herói de guerra: General Viktor.
À medida que um tumulto começava, os guardas se mobilizavam para abafar a situação, conforme as ordens do Padre Killian, que já havia previsto este acontecimento.
— Por favor, peço que todos se acalmem. Sei que é um choque termos um símbolo manchado pela mais alta traição. Confiamos cegamente neste homem e em seu juramento de proteger os interesses da nação, mas não imaginávamos que a nação a que ele se referia era outra — dizia o padre calmamente, enquanto expressava seu desprezo pela figura que ali jazia. — E não me traz nenhum prazer ter que encerrar seu destino hoje — finalizou o padre, encarando o general.
Viktor, no entanto, mostrava sinais de esperança, mesmo diante desse possível fim. Ele percebeu que a semente da dúvida estava plantada nos corações dos "comuns", e era disso que ele precisava. Reunindo toda a determinação que restava dentro de si, ele lançou um último olhar para Gab'in Nha antes de falar:
— É aí que o senhor se engana, padre. Meu destino nunca esteve em suas mãos para que pudesse dar um fim a ele. Vivi pela espada e planejo morrer por ela. O povo simples sempre foi meu alicerce, e isso não mudou. Minha lealdade é rígida como aço — declarou Viktor, enquanto olhava para a multidão. — E já que os homens aqui têm suas próprias lealdades e mancham a balança da justiça, deixo meu destino nas mãos dos velhos e novos deuses. EU INVOCO MEU DIREITO A UM JULGAMENTO POR COMBATE! — gritou o General, com um sorriso debochado em seu rosto.
A multidão entrou em polvorosa novamente, com muitos incrédulos diante do que acabaram de ouvir. Para o choque do padre, ele não poderia recusar aquela reivindicação sem expor a conspiração que havia armado. Os guardas que seguravam Viktor olhavam para Killian, como se aguardassem ordens, mas pareciam confusos.
— P-pois bem, você receberá sua chance de absolvição no coliseu. Seu julgamento se dará amanhã, quando os primeiros raios deste mesmo sol surgirem — respondeu Killian, vacilante em suas palavras. — Levem-no de volta para a cela.
Viktor respirou aliviado. Ele havia conseguido o que queria: comprou o tempo necessário para pensar melhor em como administrar a situação e semear discórdia entre as figuras de poder dessa trama.
Horas depois...
Sikeratos acordava em sua cama com severas dores de cabeça. O que acontecera mais cedo ainda estava nebuloso em sua mente.
— Que bom que acordou, Sikeratos. Fiquei preocupado que o ferimento pudesse ter sido mais grave. De toda forma, temos sérios problemas para discutir — disse Killian, sentado ao lado da cama.
— Do que você está falando agora? Já temos quase tudo formalizado, temos os meios de converter a opinião pública a nosso favor. O que poderia dar errado? — Perguntou Sikeratos, irritado, levando a mão à cabeça.
— Detesto ser o portador de más notícias, mas Viktor se mostrou irredutível. Ele escapou da execução certa de hoje — disse Killian, com incômodo na voz.
— COMO VOCÊ DEIXOU ISSO ACONTECER? — gritou Sikeratos, agarrando o pequeno padre pela gola da batina.
— O maldito invocou um julgamento por combate, e ele tem bastante experiência nisso. Ele mesmo foi campeão da Casa Rodericus diversas vezes. Eu não poderia recusar sem arriscar ser descoberto — explicou o padre, enquanto se soltava. — Mas nem tudo está perdido. Viktor está claramente enfraquecido pelo tempo que passou encarcerado, e o campeão que tenho em mente certamente será um trunfo — finalizou Killian, ajeitando a batina.