Ineffable

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Kornkamon's pov

Ineffable (adj.) : Incrível demais para ser expresso em palavras.

Eu já não sentia a minha mão. Durante a semana inteira havia passado todo o meu tempo livre fazendo réplicas do desenho que Samanun havia me ordenado que fizesse, caso quisesse permanecer em sua turma.

Na terça feira, assim que chegara da aula do professor Newton, havia feito o trabalho que o próprio nos dissera para fazer e depois de duas horas trabalhando no resumo crítico de um artigo a respeito da obra de Piet Mondrian, comecei a fazer o primeiro desenho de cem.

Já eram quase uma hora da manhã quando terminei o primeiro desenho. No início eu achara que meus traços sairiam retíssimos, exatamente como os do desenho que havia me sido entregue, mas o resultado final estava horroroso. Nem se aproximava do desenho original, muito embora eu devesse reconhecer que eu havia feito de certa forma um bom trabalho, não era, nem de longe, um trabalho excepcional como o que eu tinha em mãos e alguma coisa dentro de mim me dizia que se eu não entregasse desenhos perfeitos para a professora Samanun, seria penalizada por isso de alguma forma. Àquela altura eu já não sabia mais o que esperar dela, mas era previsível que coisas boas nunca seriam.

No sábado daquela mesma semana, trinta e oito desenhos depois, com a mão direita ardendo de dor nos músculos e no pulso, com uma bolsa de gelo quase que constantemente sendo colocada em minha mão e um leve desespero por achar que, definitivamente, não conseguiria acabar os cem desenhos até a aula de terça feira, eu me encontrava debruçada em minha prancheta, dentro do dormitório, com a mão enrolada em um pano gelado, com lágrimas nos olhos, pensando em desistir da vida e de tudo, acompanhada por Yuki que desde a terça feira decidira que ficaria acordada comigo para não me deixar sozinha e que naquele momento estava deitada em sua cama resolvendo os cinquenta exercícios de matemática aplicada que o professor Solomon havia nos passado para entregar na segunda feira.

- Você deveria ir reclamar com o coordenador, Mon. Eu sei que não quer, mas eu ainda acho que resolveria alguma coisa. - Yuki falou, pela milésima vez.

Levantei a cabeça e olhei para ela.

- É sério Mon, eu vou com você. E se quiser, podemos chamar Nita, tenho certeza que ela vai também. - Ela disse, tirando os óculos do rosto e colocando-os na cama.

- Não, Yu. - respondi, sem me dar ao trabalho de explicar de novo o motivo.

Já havíamos tido aquela conversa muito mais que dez vezes. Eu não iria reclamar da professora Samanun para o coordenador. Ele até poderia resolver a questão dos cem desenhos e me dispensar daquilo, mas só pioraria o fato de que ela me perseguiria ainda mais nas aulas. Além do fato de que, no fundo, eu achava que ele não faria realmente nada, porque ela era professora e tinha total autonomia para avaliar os alunos como bem entendesse durante as aulas. Talvez houvesse um pouco de orgulho da minha parte em não querer fracassar... Talvez.

- Tudo bem, tudo bem, mas pelo menos dê um tempo disso, você ainda não parou de desenhar desde terça feira. Mal dorme. - Yuki argumentou, tentando me convencer, outra vez a parar de desenhar feito uma louca.

- Se eu não continuar, não vou conseguir acabar. - Disse simplesmente, desenrolando a toalha gelada de minha mão e em seguida, secando-a com uma toalha seca.

- Você é uma teimosa. - Yuki bufou, largando a lista de exercícios do professor Solomon em cima de sua cama e caminhando até mim, parando exatamente às minhas costas. - Nossa, isso tá incrível! - falou, olhando para o meu desenho.

- Mas não tão incrível quanto isso. - Apontei para o desenho que eu estava reproduzindo.

Yuki revirou os olhos.
- Está incrível à sua maneira. - Ela argumentou.

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