Yuanfen

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Kornkamon's pov

Yuanfen (n.): um relacionamento por forças do destino. A enorme força de ligação entre duas pessoas.

"Tic tac, tic tac, tic tac, tic tac", o barulho do ponteiro do meu relógio de pulso, que estava na mesa de cabeceira ao lado da minha cama, soava alto para mim em meio ao silêncio do meu quarto escuro e vazio. As paredes em tons claros de azul, contrastavam minimamente com as paredes em branco gelo, que se intercalavam. O inverno havia chegado mais cedo e furioso ao sul da Tailândia e junto com ela a neve, que embranquecia a paisagem de Rangsit àquela altura do ano.

Eu estava na casa dos meus pais para o feriado do natal a uma semana, período em que as aulas em Chulalongkorn eram interrompidas e, embora eu sentisse falta de estar com eles e a maior parte daqueles dias tivessem sido momentos felizes para mim, estar sozinha em meu quarto, sem Yuki filosofando sobre a vida e sobre a minha vida, era esquisito e vazio.

Virei-me de lado na cama, agarrando o travesseiro e fechei os olhos, tentando encontrar, em algum lugar, o sono. Entretanto, pela vez infinita depois de dois meses, não encontrei o sono em minha mente, mas sim, Samanun. E com ela, as lembranças dos dois meses mais confusos e conturbados da minha vida.

Flashback. – Dois meses antes.

- O que aconteceu, Mon? – Yuki perguntou, assim que eu entrei no quarto e olhei para ela e Tee, que estavam sentadas na cama da garota negra. – Você está chorando?

Suspirei pesadamente e deixei a lágrima presa em meus olhos escorrer por meu rosto e sem responder nada, caminhei até a minha própria cama. Tee e Yuki atravessaram o pequeno espaço entre a cama de Yuki e a minha e sentaram-se ao meu lado.

- O que houve, Mon? – Tee perguntou, segurando a minha mão.

- Ela foi idiota com você, de novo? – Yuki perguntou e eu senti o peso da palavra "idiota" cair perfeitamente sobre mim.

- A idiota fui eu. – respondi, sentindo meus ombros pesarem demais, como um reflexo das lágrimas pesadas que eu segurava em meus olhos.

- Nos conte o que aconteceu. Desde o começo. – minha amiga disse, deixando claro que queria saber exatamente tudo.

Assim, contei às duas, pelos próximos cinco minutos, o que havia acontecido desde que eu abrira a porta do quarto para Sam. Tee, que já sabia do início da história porque Yuki já havia contado, não ficou de fora em entender coisas que nem eu entendia.

- Espera, então você está fazendo esse drama todo porque dispensou a professora Samanun? – Tee perguntou, sendo objetiva e direta.

- Eu não acho que ela esteja fazendo drama... – Yuki me defendeu.

- Está sim! – Tee afirmou e eu sabia que ela teria razão se meus motivos para estar fazendo drama fossem somente aqueles. – Se está arrependida por ter dito não, é só ir atrás da professora e dizer que quer. É simples, não tem segredo. – ela declarou.

- Meu coração está me dizendo para fazer exatamente isso. – falei, cansada de tentar esconder o que sentia. – Mas a minha razão está dizendo totalmente o oposto. Eu não posso, simplesmente, me jogar de cabeça nisso. Eu não posso me jogar em qualquer tipo de relação ou seja lá o que for isso, com Samanun. Eu não posso! – exclamei.

- Por que? – Tee e Yuki perguntaram juntas.

- Porque eu sei que não teria volta. – respondi imediatamente.

- Por que isso é ruim? – Tee perguntou e Yuki apernas revirou os olhos, já sabendo a resposta.

- Porque isso implicaria em muitas perdas, em muitos corações machucados além do meu. Porque meus pais jamais aceitariam. Porque toda a minha vida viraria de cabeça para baixo. – deixei sair de minha boca as questões que me atormentavam. – Eu sei o que você vai dizer... "Mon, amar não é errado. Mon, você não pode deixar de amar e de viver porque está presa a conceitos arcaicos" – eu disse, fazendo aspas com os dedos. – Mas é muito difícil se desprender desses conceitos arcaicos quando eu fui criada com eles correndo dentro das minhas veias. Seria como se você descobrisse que não é Tailandesa, que na verdade nasceu, sei lá...em marte e todas as pessoas ao seu redor dissessem que é errado nascer em marte, mas algumas pessoas não acham errado você ter nascido em marte.

Wonderfall | MONSAMOnde histórias criam vida. Descubra agora