Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 03

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Sorria, mantenha a postura

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Sorria, mantenha a postura.

As palavras da professora ecoam na minha mente enquanto ajusto os pés na marcação do chão. O estúdio está envolto em uma luz suave que parece cruelmente implacável, revelando cada pequeno erro, cada falha. Meus músculos estão tensos, e o cansaço se instala em cada parte do meu corpo, mas não há espaço para fraqueza. Não aqui e agora.

Os espelhos que cobrem as paredes capturam cada movimento meu, cada expressão forçada que tento esconder atrás de um sorriso brilhante. A professora circula pela sala, seu olhar crítico e atento, como se procurasse qualquer deslize para uma nova repreensão. Sua presença imponente faz o ambiente parecer ainda mais opressivo. O som do piano toca ao fundo, uma melodia que deveria ser tranquilizadora, mas que apenas reforça a pressão sobre mim.

Agora a música exige uma perfeição minha que parece sempre fora do meu alcance.

Quando levanto uma perna em uma extensão que parece infinita, o suor começa a escorrer pela minha testa, fazendo-me fechar os olhos por um breve instante, imaginando que a dor nas minhas articulações é apenas uma ilusão, que posso ignorar. Mas a realidade é implacável. Cada vez que um erro é notado, é como se eu tivesse falhado não só para mim mesma, mas para todos que esperam algo extraordinário de mim.

A professora me interrompe novamente, ajustando meu braço com uma precisão que parece não considerar o meu desconforto. "Mais elegante", ela diz com uma frieza que esmaga qualquer desejo de protestar. Eu forço um sorriso, tentando esconder o fato de que estou à beira das lágrimas. Minha mente se enche de pensamentos caóticos: e se eu não conseguir? E se tudo isso for em vão?

O calor da sala é quase insuportável agora. Cada vez que levanto as pernas, sinto a pressão das expectativas aumentando, como se o peso do mundo estivesse apoiado sobre mim. O cheiro de suor e de esforço permeia o ambiente. Meus olhos se encontram com o reflexo no espelho e vejo uma garota tentando desesperadamente corresponder ao ideal inatingível que todos parecem ter para mim. Sinto que, se eu não for perfeita, toda a minha dedicação não valerá a pena.

Quando finalmente paro para descansar, a sala parece se expandir ao meu redor, um espaço onde a pressão e as expectativas se acumulam em uma nuvem densa. Fecho os olhos, tento respirar fundo, mas a sensação de inadequação não se dissipa. Sinto a pressão nos meus ombros, no meu peito, na minha mente.

Enquanto observo as outras bailarinas, cada uma lutando suas próprias batalhas silenciosas, percebo que estou cercada por um mar de expectativas semelhantes. Em algum lugar, atrás do sorriso e da postura perfeita, cada uma de nós carrega o peso do desejo de ser a melhor, de alcançar o ideal.

- Finn, querida? - Sou tirada dos meus desvaneios quando a voz serena de Winter ressoa, chamando a minha atenção. - Acho que podemos encerrar por hoje. - Ela pontua com um sorriso gentil no rosto, e só agora percebo a ausência da professora na sala.

THE LEGACY LEFT - DEVIL'S NIGHTOnde histórias criam vida. Descubra agora