Enquanto eu a observava do canto da sala, a sensação de desejo era quase opressiva. Ela estava em plena vista, no centro de um grupo de pessoas, mas parecia alheia ao mundo ao seu redor, como se a luz da cena fosse direcionada apenas para ela.
O vestido justo que usava esculpia cada curva de seu corpo com uma perfeição que parecia quase irreal pois o tecido revelava mais do que escondia, e cada movimento seu fazia com que ele se ajustasse e se moldasse à sua forma com uma sensualidade palpável.
Mas era o brilho de confusão e inquietação em seu olhar, como se sentisse a minha intensidade e não soubesse como reagir a isso, que mantinha a minha atenção totalmente nela. E enquanto ela tentava se recompor, com um misto de desconforto e curiosidade visível no seu rosto, decidi me aproximar. Cada passo meu parecia calculado, medido, como se a proximidade dela fosse um jogo que eu estava jogando com maestria. A sala ao redor de nós se tornava uma paisagem distante enquanto eu me aproximava, e o som das conversas e risos parecia diminuir.
Observei com arrogância o impacto do meu sussurro em seu corpo, uma leve contração que indicava surpresa e uma súbita aceleração do seu batimento cardíaco. O termo "Bailarina" saiu de meus lábios com um tom que misturava ironia e desafio, uma forma de reconhecimento de sua graça, mas também um lembrete de que minha observação era mais do que meramente apreciativa. Seus olhos se arregalaram por um momento, e eu percebi a luta interna enquanto tentava manter a compostura.
Eu não estava apenas perturbando seu momento de tranquilidade; estava jogando com suas emoções, controlando a narrativa que ela pensava entender. E com um sorriso que tentava ser natural, mas que revelava um toque de nervosismo, ela respondeu. - Sim, tudo está perfeito.
Permanecendo em silêncio por alguns instantes enquanto meus olhos, mais uma vez, analisavam cada centímetro da sua fodida beleza, avaliando e procurando por uma falha que eu sabia que não existia, senti meu corpo se tornar tenso quando a presença do meu irmão mais velho tirou meu foco, fazendo-me lembrar o meu lugar na situação.
- Bom, mas na próxima vez que for convidada para alguma coisa em minha casa, tente parecer mais como uma mulher decente e não como a porra de uma prostituta. - As palavras escapam dos meus lábios com um gosto amargo, mesmo que eu ainda mantivesse minha postura indiferente diante dela.
Sua reação foi imediata e dolorosa. A cabeça dela baixou, e eu pude ver a luta para conter as lágrimas. Algumas escaparam, deslizando pelo rosto dela, mesmo enquanto tentava, em vão, manter a compostura. A cena diante de mim era um misto de satisfação cruel e uma sensação desconfortável que eu tentava não reconhecer.
- Me deixe em paz. - Seu sussurro trêmulo arrancou um sorriso cruel dos meus lábios, enchendo o meu peito com uma sensação vitoriosa.
Eu sabia que o comentário tinha ido longe demais, mas o desejo de afirmar minha superioridade era mais forte do que qualquer empatia que eu poderia sentir. Observando-a, havia uma parte de mim que se sentia perturbada pela vulnerabilidade dela, mas a maioria de mim estava mais preocupada em manter o controle e a fachada que eu havia construído.
- Me poupe desse teatro, Grayson. - Continuei, não poupando minhas palavras cruéis quando o meu olhar cruzou com o de Ivarsen do outro lado do salão. - Qualquer um consegue notar sua intenção a quilômetros de distância. - Rosno antes de tomar um grande gole da bebida em minhas mãos.
- E qual é o problema, Gunnar? - O inconfundível tom debochado de Fane se fez presente, fazendo eu apertar o copo de cristal em minhas mãos diante da sua interrupção indesejada. - Se isso é se parecer com uma puta, então o céu deve estar cheio delas. - Alfinetou com um sorriso cínico ao passar seu braço ao redor da cintura estreita de Finn. Maldito desgraçado.
Sentia um desdém crescente pela forma como meu irmão parecia colocá-la em um pedestal, tratando ela como uma princesa intocável. Era como se ele visse qualquer crítica a ela como uma ofensa pessoal, algo que precisava ser combatido com fervor.
Para mim, isso era um exagero, uma demonstração de fraqueza que não tinha lugar em nosso círculo.
A frustração se acumulava dentro de mim, misturando-se com a raiva de saber que ele estava sempre lá para protegê-la, enquanto eu era deixado à margem. Eu me perguntava se essa necessidade constante de defendê-la era apenas uma forma de compensar algo ou se havia uma razão mais profunda que eu simplesmente não conseguia entender. E pelo bem dele, esperava que não fosse a última opção.
- Sua abordagem cavalheira é apreciável, irmão. - Pontuo quando recupero minha postura, tentando conter o impulso de arrancar suas mãos daquilo que não lhe pertence. - Continue assim que em breve conseguirá tê-la em sua cama, esse é o plano, certo? - Indago com um sorriso cínico enquanto o encaro, ignorando a mulher encolhida que permanece em silêncio, visivelmente perturbada.
- Me tire daqui. - Ela intervém quando o olhar de Fane se torna mortal, deixando claro que ele não hesitaria em começar uma briga para defendê-la.
- Vá descontar as suas frustrações em outra pessoa, Gunnar. - Meu irmão mais novo rebate, perdendo a sua áurea debochada. - Não fode. - Rosna antes de levar Finn para longe, obviamente se aproveitando da situação para mantê-la por perto.
E em instantes o meu pensamento vagou para o passado recente, para aqueles momentos desconfortáveis em que eu havia deixado meu descontentamento por Finn transparecer. Cada palavra ácida, cada crítica velada que havia dirigido a ela, foi respondida por Fane com uma proteção feroz.
Sempre que eu passava dos limites e a tratava com desdém, ele estava lá, defendendo-a com uma veemência que eu nunca esperaria dele.
Esses momentos de defesa constante de Fane apenas acentuavam a sensação que eu sentia agora enquanto os observava. Era como se, ao invés de ver o que realmente estava acontecendo, ele estivesse protegendo Finn de uma maneira quase obstinada, como se ela fosse uma vítima indefesa em um jogo que ele mesmo estava ajudando a manipular. E agora, cada intervenção dele, cada palavra que eu escutava sobre como eu estava sendo injusto com a Grayson mais nova, parecia um prelúdio para o que estava se desenrolando.
Mas apenas uma verdade permanecia: A presença dela não passava de uma pequena perturbação que eu precisava neutralizar, e eu estava determinado a manter a situação sob controle, sem demonstrar que qualquer fraqueza ou emoção pessoal poderia desestabilizar meu equilíbrio.
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THE LEGACY LEFT - DEVIL'S NIGHT
RomanceCada escolha, cada passo, é uma dança delicada entre redenção e condenação. Mas o sangue que flui em suas veias é uma tinta indelével, e os pecados dos pais são como sombras que nunca desaparecem completamente. Assim, eles seguem adiante, carregando...