AMIGO É PRA ESSAS COISAS

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Por Pedro


A tensão aumentava os batimentos do coração do garoto que corria apressadamente pela rua mais larga da cidade de Tomodachi. Os passos maiores que as pernas; a respiração ofegante; os dentes trincados pela adrenalina. — Vamo! Vamo! Falta pouco — sussurrava uma voz determinada. Os grandes muros marrons que protegiam aquela imensa estrutura se aproximavam muito rapidamente, assim como seus altos portões gradeados. — Vai! Vai! Vai! — Estava quase lá. — Só mais um pouco... Espera... Não! "PAH"A batida do portão quase colidiu com a testa que tentou cruzá-lo desesperadamente. Pedro se atrasara de novo para a aula. — Mas, Gilberto, foi menos de dois segundos! — Apelava dramaticamente para o inflexível porteiro. — O relógio está marcando sete horas, quinze minutos e sete segundos, meu caro — declamava convictamente Gilberto, apontando com o dedo indicador o relógio gigante acima de sua cabeça. — Mas nem chegou a ser tecnicamente um atraso. — Tentou negociar. — Claro que foi. As aulas começam às sete horas, e você sequer conseguiu chegar antes de se esgotar o tempo de tolerância. Essas são as regras. Nem um segundo a mais — falou, irredutível. — Então me deixe ao menos falar com a diretora, ela vai me entender — implorou o garoto. — Por favor! — Não posso sair do meu posto. — Foi a última palavra de Gilberto, provocando em Pedro um grande bico de irritação. O porteiro, grande e engravatado, esticou um dos braços para alcançar a grade que dava acesso aos corredores da escola e a fechou. Após isso, escancarou o portão, como se estivesse muito satisfeito. — Você sabe como funciona, já que atrasa todo dia — ironizou, fazendo sinal para que ele entrasse. — Você pode esperar a primeira aula acabar ali no pátio.A claridade matinal do décimo primeiro mês de dois mil e quinze tocava os balanços do pátio da Escola Ori, que estavam sendo lentamente movidos pelo empurrar dos ventos forasteiros. O relógio gigante, que ficava pendurado no topo do lugar mais alto do colégio, a Torre Shiren, como era conhecida em toda a cidade, marcava exatamente sete e meia da manhã. Seus grandes e negros ponteiros podiam ser vistos claramente por quem passava naquela rua, até mesmo, ainda que mais foscamente, pelos passantes das ruas circunvizinhas. O soar do seu toque também podia ser ouvido, mas apenas no interior do colégio.Fazia trinta minutos que o som do grande relógio soara pela primeira vez naquele dia. Esse primeiro som significava que as aulas estavam para começar, portanto os estudantes deveriam se dirigir às suas respectivas salas. Os alunos que chegassem após isso só poderiam atravessar para o corredor principal, onde estava a maioria das turmas, às sete e quinze, porém, os que chegassem ainda mais tarde só poderiam entrar quando a primeira aula chegasse ao fim. Estas eram regras do Colégio Ori.


Existia um único garoto naquele extenso pátio; estava em pé diante de um muro completamente rabiscado das mais diversas cores, coçando o queixo, tentando ocupar sua mente ociosa. O garoto se chamava Pedro. Aos dezoito anos estava cursando seus últimos meses como aluno do ensino médio e poderia ter ficado sentado esperando a primeira aula terminar, já que fora o único aluno que se atrasara naquela manhã, se não fosse tão inquieto, a ponto de passar o tempo inteiro rondando pelo pátio, dialogando consigo mesmo.Seus cabelos negros escorriam sobre seus olhos castanhos; sua pele delicada, como a de um bebê, o fazia ser bastante cobiçado; seu costume recorrente de chegar tarde para todo tipo de compromisso que se podia imaginar o tornara famoso, por sua dificuldade imensa de acordar cedo, e por sua mania de sempre deixar tudo para resolver em cima da hora.Seus pés não conseguiam ficar confortáveis. Esfregava os dedos dentro daquele par de tênis sem meias como se quisesse arrancá-los dali, pois achava muito desconfortável qualquer calçado que fechasse seus pés; preferia usar sandálias, para ao menos poder vê-los, mas o que gostava mesmo era de ter os pés completamente nus, tocando o chão gelado da cerâmica de casa, a terra macia e o lago frio do parque que gostava de visitar. Antes que Pedro desse outro bocejo, ouviu o arrastar do portão, seguido do "bom-dia" de Gilberto, o porteiro da escola, que sempre ficava na mesma posição, e não saía de lá nem para fazer suas necessidades, pois segundo ele, "não podia sair do seu posto". Pedro virou seu corpo completamente para ver quem era. Um garoto de cabelos loiros e lisos, aproximadamente na altura dos seus ombros, cruzara o portão. Tratava-se de Max, amigo de Pedro, que entrou sem sequer responder ao cumprimento do porteiro. — Atrasado também? — brincou Pedro, aproximando-se do garoto. — Acho que é a convivência com você — respondeu Max. — Fiquei esperando você ontem lá em casa, e nada. — Pois é, precisei levar minha bicicleta na oficina. — Tá vendo? Isso é pra você aprender a não dar carona pra tribufu de duzentos quilos — falava Max, pejorativamente, da menina que tinha uma paixão platônica por Pedro. — Não fale assim dela, Max! Amanda tem um grande coração — amenizava Pedro. — Com certeza. Tão grande que a bicicleta não aguentou o peso dele — falou, deixando Pedro desconfortável. Apesar de serem amigos, Pedro não aprovava a forma agressiva como Max falava das pessoas, pois sempre tentava, de alguma forma, ridicularizá-las ou, quando tinha oportunidade, humilhá-las. Apesar das discordâncias de comportamento, Pedro tentava evitar o embate, mas, vez ou outra, os dois acabavam discutindo. Pedro tentava mudar de assunto, falar de provas, aulas ou programas de televisão, mas Max sempre voltava a maldizer as pessoas. Os dois não dividiam a mesma sala de aula, já que Pedro estudava na turma "A" e Max na "B", mas haviam se aproximado devido a uma excursão da escola para outra cidade, que fizera Pedro se compadecer da solidão do rapaz, já que, embora matriculado desde o início do ano, ainda não havia feito nenhum amigo.

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⏰ Última atualização: Jul 30 ⏰

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