Prólogo

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O ruim de se estar no fim do poço é que quanto mais você tenta com toda sua garra escalar as paredes, quanto mais você cria esperança, maior é o tombo. Mas nós somos seres humanos, e como seres humanos, somos animais que quando acuados encontramos apenas duas soluções: fugir ou atacar. E eu prometi pra mim mesmo que estava cansado de fugir.

Porque eu já havia fugido por muito tempo; dos meus traumas de infância, dos meus ideais quando jurei que seria diferente do meu pai tanto na carreira militar quanto no casamento; do medo que eu sentia de reconhecer que eu estava prestes a virar um fracassado como ele.

Até então, como um animal acuado eu tentei fazer barulho, tentei mostrar minhas garras e minhas presas, tentei parecer maior do que era, e isso, traduzindo para um contexto humano queria dizer que eu fingi muito bem ser forte.

É assim com todo animal: Quando com medo, inicialmente, ele tenta se mostrar maior, mais feroz. Mas ele não é o primeiro a atacar, ele se protege dessa forma, enquanto recua um ou dois passos imperceptíveis. Ele procura todas as formas possíveis de fugir daquela situação. Nenhum animal acuado realmente quer lutar e eu estava dessa forma: Fugindo, me escondendo dentro de uma personalidade desenvolvida pela sociedade que me cercava e pela forma como eu a li e a traduzi em meus comportamentos.

Mas quando um animal acuado sente que precisa lutar, ele para de apenas ameaçar e vai pra cima de vez. E ali, após meses tentando fugir, eu entendi que ou eu lutava, ou eu perderia a única centelha quente de humanidade que havia dentro de mim.

- O que você não entende, Cecília, é que eu sou capaz de qualquer loucura pra ter você de volta! Qualquer coisa, basta você me pedir! 

Exagerado! - Capitão Nascimento.Onde histórias criam vida. Descubra agora