Ela não é louca!

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Cecília sentiu quando os dedos de Roberto fincaram ainda mais na carne de sua cintura. O olhar dele havia mudado e agora não eram apenas escuros de raiva; Havia algo indecifrável na forma como eles se moviam, inquietos, indecisos. Bastou um segundo pra que eles brilhassem, mas ela ainda não sabia o que exatamente se passava na mente do marido. Era obscuro, frio e quente ao mesmo tempo. Se lhe oferecessem um milhão de reais para assistir o que Roberto pensava, Cecília provavelmente recusaria a oferta com medo.

Ele poderia ter se tornado um maníaco. Talvez estivesse tão transtornado por causa das coisas que ela havia dito que ponderava até mesmo acabar com a vida da esposa.

- Você vai se arrepender do que tá falando... - o sussurro entredentes dele, a meio centímetro de distância dos seus lábios, fez cada poro do corpo de Cecília arrepiar.

Naquele momento Cecília era um cervo, uma presa. Cada som parecia insuportavelmente alto aos seus ouvidos, cada movimento era notado como se ela tivesse algum tipo de sexto sentido. Roberto a estava caçando. Mas o mais assustador para a mulher é que havia algo nela, um desvio de caráter ou um traço tóxico talvez, que a instigava, que a fazia desejar ver até onde ele iria. O poder do seu esposo sobre seu corpo e mente era muito forte.

Roberto a entocava cada vez mais, vagarosamente, como se um segundo pudesse durar uma eternidade. O ar parecia rarefeito para Cecília, como se alguém simplesmente tivesse desligado o tanque de oxigênio do mundo. O peito subia e descia rapidamente, os lábios tremiam. Ela sentia vontade de gritar, mas o grito estava preso.

Ele a empurrou tão lentamente até que ela estivesse completamente sentada e encostada no sofá que a mulher nem ao menos notou. Ou será que estava tão fora de órbita assim, pra não ter se dado conta? Ela não sabia. Mas o via ali, ainda segurando sua cintura com força, ainda por cima dela.

Ouviu um barulho. Tecido esfregando contra o couro do sofá. Sentiu algo entre suas pernas. Identificou o joelho de Roberto. E então ela entendeu tudo!

E quando entendeu, sua mente pareceu acordar de um transe. Cecília nem conseguia dizer a quanto tempo estava ali, mas sabia que não ficaria mais nenhum segundo.

- Eu sei o que está tentando fazer. - a voz quase não saiu. Tomou fôlego, mentalizou e se forçou a sair daquele cárcere emocional.

Ele a apertou mais contra o sofá. "Droga, preciso sair agora!" ela pensou.

- Não vem com os seus joguinhos de sedução que eu não vou cair nessa hoje, Roberto! - conseguiu! Se desvencilhou! Antes que ele a alcançasse novamente, correu até o quarto - Pra mim já deu!

Roberto a seguiu, devagar, após o transe passar. Entrou no quarto e a encontrou colocando uma mala de mão de tecido na cama.

- Onde caralhos você tá indo, Cecília? - perguntou, sondando o quanto podia se aproximar.

- Vou passar a noite na casa da minha mãe. - jogava roupas freneticamente na mala - Daqui uns dias eu apareço com os papéis do divórcio, fique tranquilo!

"O que?" o marido pensou. O rosto quente, o ar voltando a faltar. Não podia, não conseguia acreditar no que estava escutando. A agarrou o braço com força, fazendo com que ela o olhasse.

- Divórcio? Tá maluca? - "Nem por cima do meu cadáver!" - Não vou te deixar ir pra lugar nenhum!

Ele não confessaria, mas a palavra nunca dita antes naquele relacionamento o havia assustado. Cecília, sua amada esposa, não teria coragem, certo? Roberto não tinha certeza.

Exagerado! - Capitão Nascimento.Onde histórias criam vida. Descubra agora