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— Como eu tô?

Arthur morde os lábios e franze a testa, me analisando de forma intensa, levando a questão super a sério.

— Hum... — Ele estende a mão e coloca minha trança para frente do corpo. — Bom, vocês são idênticas, e ela te vestiu hoje, então o estilo tá certo. Mas ela é mais mandona que isso.

Dou uma risada curta.

— Como alguém poderia saber se eu sou mandona ou não só de me olhar?

Ele coloca a mão em cada um dos meus ombros, endireitando-os, e então ergue meu queixo.

— Agora você só precisa olhar pras pessoas como se elas fossem vermes inferiores, aí fica perfeito.

Reviro os olhos, espantando a mão dele para longe. Não tenho tempo para brincadeiras. A prova começa em menos de dez minutos.

Arthur acaricia minha bochecha.

— Vai dar tudo certo.

Fecho os olhos e solto o peso do rosto na mão dele.

— A Viviane me mete em cada furada...

— Ela é assim. — Ele me puxa para perto e beija meu rosto. — E você a ama assim mesmo. Agora vai lá e tira um dez pra sua irmã.

Ele sorri e, segurando meus ombros de novo, me vira na direção do prédio de exatas.

Respiro fundo, tentando conjurar para mim a confiança da minha irmã gêmea. Mantenho a coluna ereta, o queixo erguido... mas isso dura só alguns passos. Assim que entro no prédio, já me sinto ansiosa de novo. Abaixo a cabeça e decido que a melhor coisa é passar despercebida. Entrar, fazer a prova, sair. Fingir que isso nunca aconteceu. Negar até a morte.

A sala de Estatística Aplicada é a mesma de três semestres atrás. Me sinto um pouco como se estivesse entrando em um portal para o passado: as mesmas mesas velhas de madeira, as cadeiras meio bambas, a janela que só abre até a metade. O professor — que já deveria ter se aposentado — está de braços cruzados na parede oposta à porta, observando todos que entram. Ele me encara com um desprezo não familiar que de início me assusta, me fazendo pensar, ansiosa, no que eu posso ter feito de errado. Repasso todos os meus passos dos últimos dias, já me sentindo culpada por um pecado que nem sei qual é.

Mas então me lembro que, tecnicamente, hoje sou Viviane. É, acho que ele a odeia mesmo.

Volto a abaixar a cabeça e me sento em uma cadeira bem no fundo da sala.

— O que houve? — alguém me pergunta de repente, me causando um sobressalto.

Olho para cima, e tem um cara me olhando com uma expressão preocupada. Ele é super bonitinho, com cabelos estilosos, olhos castanhos brilhantes, barba por fazer e o queixo bem marcado. Quem é ele? Será que é um crush da minha irmã? Por que Viviane nunca me falou dele? Meu Deus, ela não me conta nada?!

Fico tão distraída com essas questões que esqueço que o sujeito está esperando uma resposta.

— Tá nervosa? — ele pergunta então.

Mordo os lábios e assinto. Bom, estou de fato nervosa, embora não pelo motivo que ele imagina. Decido que é melhor não dizer nada em voz alta, para não correr o risco de desmascarar a farsa.

O garoto dá uma olhada rápida na direção do professor, como se para se certificar de que ele não está prestando atenção, então coloca a mão no meu ombro.

— Você vai bem, confia. Estudou pra caramba.

Assinto mais uma vez, o que o faz franzir a testa. Seus olhos vão parar no meu pulso esquerdo. Arregalo os olhos, colocando a mão para cobri-lo, embora já esteja com um relógio por cima da tatuagem. Meu coração começa a bater mais forte. Meu rosto fica completamente quente e vermelho. Fui descoberta.

Quem é quem?Onde histórias criam vida. Descubra agora