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Acordo com uma dor de cabeça infernal. A luz do sol invade o quarto, tornando quase impossível abrir os olhos.

Esse é o primeiro sinal de que algo está errado. Eu nunca deixo o blackout aberto quando vou dormir, ou corro o risco de acordar assim que o sol nascer — coisa que, mesmo sendo uma pessoa matutina, não desejo ao meu pior inimigo.

Esfrego o rosto com as duas mãos, esticando as costas para me espreguiçar.

Meu Deus, quanto será que eu bebi? Eu jurava que não tinha sido tanto assim... E eu geralmente intercalo bebida com água, ao contrário da minha irmã. Não era para eu estar sofrendo tanto para acordar.

Pisco algumas vezes para me acostumar à luminosidade e então, com certa dificuldade, olho ao redor.

Logo de cara, percebo que não estou no meu quarto, o que me causa um aperto no coração de tanto susto. E então reconheço a parede rosa-bebê com flores lilás que ajudei a pintar, a corda de luzinhas penduradas...

É o quarto de Viviane.

Como é que eu vim parar aqui?

Fecho os olhos enquanto crio uma teoria convincente: devo ter vindo para cá depois do barzinho, meio bêbada, para fazer as pazes com a minha irmã. O que faz sentido, já que odiamos dormir brigadas.

Quer dizer, eu me lembro mais ou menos de Arthur me colocando na cama, porque eu estava naquela fase bêbada rebelde em que não quero ir dormir mas claramente preciso.

Então devo ter acordado de madrugada e vindo para cá para pedir desculpa (e receber um pedido de desculpa), e acabei dormindo aqui.

Suspiro e estendo o braço para encostar em minha irmã e acordá-la.

— Vivi... — eu chamo.

Mas meu braço bate na cama vazia.

Abro os olhos, assustada. Viviane nunca acorda antes de mim. Nunca. Ela tem uma dificuldade gigante de se levantar. Será que ela nem chegou a dormir?

Suspiro outra vez e rolo na cama para alcançar o celular dela na mesa de cabeceira.

São simplesmente 11h23.

Como foi que eu dormi tanto assim?

Espreguiço de novo e me levanto, e é aí que percebo que estou usando um pijama dela. Meu Deus, quão louca eu estava ontem?

Sacudo a cabeça. Preciso voltar para o meu quarto e possivelmente dormir mais um pouco, já que minha cabeça não para de latejar e um cansaço terrível toma conta do meu corpo apesar de eu ter dormido até quase meio-dia.

Abro a porta do quarto de Viviane e viro para a direita, pegando o corredor que leva ao meu.

Então, Viviane aparece, correndo, e se coloca na frente da minha porta, os braços abertos, as mãos segurando o batente, para me impedir de passar.

Franzo a testa, me sentindo exausta.

— O que você tá fazendo?

— Você não pode entrar! — ela diz, meio exasperada. — O pamonha tá aí dentro, Rafa.

— Vivi, para com isso. Eu tô morrendo de dor de cabeça. Não é hora de ficar implicando com meu namorado.

Estendo a mão para alcançar a maçaneta, mas ela segura meu pulso esquerdo.

— Não me diz que você não notou.

— Não notei o quê?

Ela vira meu pulso para cima e o empurra para perto dos meus olhos.

Quem é quem?Onde histórias criam vida. Descubra agora