Capítulo 2

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— Eu juro, Ron, ele me trata como se eu fosse um pedaço de vidro — Harry disse, tomando um gole de sua cerveja amanteigada. — Ou pior! Algum ingrediente de poções incrivelmente raro. Eu não aguento mais, eu juro.

Ron voltou para sua pequena sala de estar, sentando-se no sofá azul gasto em frente à cadeira de Harry.

— Se você está tão farto dele, por que não o deixa? — Ron perguntou, confuso. — A menos que... Ah, isso não é uma daquelas coisas em que você não pode deixá-lo porque ele cuidou de você? É uma foda de dar dó, não é?

Harry revirou os olhos.

— Sim, é, mas não do jeito que você está pensando.

Ron franziu a testa, mas continuou.

— Então, o que você vai fazer?

Harry deu de ombros e tomou outro gole.

— Não faço ideia. Mas não pode continuar assim.

Houve silêncio entre os dois amigos por alguns momentos enquanto ambos refletiam sobre o problema.

— Sabe, não seria tão ruim se fosse ele. Se ele tivesse mudado por causa da guerra para que ele fosse... eu não sei... mais legal. Mas é só comigo. Ele ainda age como ele agia quando era nosso professor com todos os outros. Ele é apenas... do jeito que ele é comigo... comigo. — Harry disse, tentando explicar uma situação horrível e falhando.

Ron pareceu entender, no entanto, e assentiu.

Harry colocou a cabeça entre as mãos.

— Eu o amo, Ron. Eu amo. Se não amasse, não ficaria com ele agora, mas -

Ron mordeu o lábio, mas assentiu. Harry normalmente tentava poupar seu amigo de quaisquer detalhes sobre seu relacionamento com Severus, mas ele estava frustrado demais esta noite para se conter. Algo precisava mudar e rápido.

De repente, Ron estava de pé, andando rapidamente sobre o pequeno tapete desbotado que cobria o chão.

— Ok, só um minuto — ele disse para si mesmo. Ele andou de um lado para o outro por mais um momento, apertando os olhos para uma distância invisível, considerando algo que Harry não conseguia ver. — É... Isso pode funcionar.

— O que poderia funcionar? — perguntou Harry.

Ron olhou para o amigo com um sorriso malicioso no rosto.

Harry sorriu nervosamente. Aquele sorriso no rosto do amigo nunca era um bom sinal.

Ron sentou-se, encarando Harry novamente.

— Você sabe que Aurores não têm permissão para usar imperdoáveis, certo?

Harry assentiu.

— Bem, você já se perguntou como realizamos interrogatórios se não podemos usar a Maldição Imperius?

Harry franziu a testa novamente.

— Bem, não. Mas espero que você não esteja realmente torturando pessoas.

Ron riu.

— É, porque eu torturaria pessoas. Vamos, Harry. Pense nisso.

Harry ficou confuso e não se importou em deixar seu amigo saber.

— Algo além da Maldição Imperius? Algo mais fraco? Não tão obscuro?

Ron sorriu.

— Exatamente. Existem alguns feitiços e poções de suscetibilidade que o público em geral não conhece e que usamos. Tudo o que você precisa fazer é colocar uma substância na água do suspeito e sugerir que ele se sentiria muito melhor com a vida em geral se contasse todos os seus segredos e bum. — Ron fez um som de palmas que assustou Harry. — Er, desculpe.

Harry acenou para ele.

— Mas você não vê? Tudo o que você tem que fazer é fazer Snape tomar a poção e então insinuar que seu... er... relacionamento só melhoraria se ele parasse de te tratar como se você fosse ter um colapso nervoso a qualquer momento.

— Certo. Obrigado, Ron — disse Harry, sarcasticamente, não apreciando a grosseria da declaração.

Ron deu de ombros e Harry sorriu um pouco. Verdade seja dita, era maravilhoso ter alguém que não falava num sussurro e observava cada palavra deles ao seu redor.

Ele fez uma pausa e considerou a proposta de Ron.

— Ele seria suscetível a qualquer um?

Ron balançou a cabeça.

— Não, apenas a pessoa que administrou a poção.

Harry ficou quieto por alguns momentos. Ele odiava a ideia de enganar Severus desse jeito. Isso estava abaixo dele. Estava abaixo deles e Severus realmente não merecia isso. Por mais que Harry reclamasse, ele percebeu que era incrivelmente sortudo por ter um homem em sua vida que o amava tanto.

De repente, o Flu ganhou vida.

— Harry, quando é que... — A cabeça escura de Severus apareceu na lareira. Seu rosto de repente pareceu horrorizado. — Você está bebendo cerveja amanteigada? Você me disse que não beberia.

Harry se encolheu. Na verdade, ele não disse nada disso.

— Eu só bebi uma. Estarei em casa logo, Severus.

Ele deu uma boa olhada no rosto de seu amante e se sentiu surpreso. Severus estava olhando para Harry como se ele fosse toda a sua existência e o mundo simplesmente não estaria certo até que ele voltasse para casa.

Harry sorriu.

— Estarei em casa logo. Prometo.

Severus assentiu e saiu das chamas.

Harry olhou para Ron, sua decisão tomada. Severus não tinha desistido de Harry. Era hora de retribuir o favor.

— Por acaso você tem alguma dessa poção com você?

Ron sorriu.

.

Harry saiu cambaleando do flu, como era seu hábito, e caiu nos braços de seu amante, que o segurou com facilidade.

— Toda a graça de um touro em uma loja de porcelanas — disse o homem mais velho, sorrindo.

Harry sorriu de volta e deu um tapinha em suas vestes, certificando-se de que a poção que Ron tinha acabado de lhe dar ainda estava intacta. Estava.

— Todos os Floos me odeiam.

Severus sorriu.

— Talvez se você não pulasse neles tão desleixadamente eles parassem de te tratar tão causticamente.

Harry revirou os olhos de brincadeira. Ele amava Severus quando ele era assim. Quando ele provocava Harry de brincadeira do jeito que Harry supunha que todos os casais provocavam um ao outro. Isso o deixava esperançoso quanto ao futuro deles.

— Cama? — perguntou o Mestre de Poções.

Harry assentiu. Ele tinha ficado na casa de Ron um pouco mais tarde do que havia planejado e estava muito cansado.

Eles caminharam em direção ao quarto, a mão de Severus nas costas de Harry. Harry tomou cuidado especial para colocar a poção ao lado da cama e repetiu as instruções para si mesmo antes de puxar as cobertas, tirar as roupas até a cueca e ir para a cama.

— Boa noite, Harry — disse Severus enquanto apagava a luz.

Harry sentiu um beijo pressionado em sua testa e respondeu com seu próprio "boa noite".

Ele ficou deitado na cama por alguns momentos depois que Severus foi dormir, pensando.

Amanhã era Dia dos Namorados. Ele nunca tinha realmente comemorado o dia do jeito que queria. Agora que ele pensava sobre isso, Harry nunca realmente quis comemorar o dia. Ele traçou levemente as maçãs do rosto afiadas do homem deitado ao lado dele e considerou o que ele sentia que precisava fazer.

Harry adormeceu, enquanto as instruções para a poção ecoavam em sua cabeça.

Nothing so gentle | SnarryOnde histórias criam vida. Descubra agora