Capítulo 5

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Harry voltou para o quarto e encontrou Severus vestindo as calças novamente.

— Hum... Severus?

O Mestre de Poções olhou para ele, com mágoa e traição nos olhos.

Merlin, pensou Harry. Se ele se sente assim agora...

— Sinto muito. Sei o que parece, mas juro que não é. Eu te amo... tanto. — O rosto de Severus suavizou-se um pouco com as palavras de Harry. O homem mais jovem beijou o rosto do amante, usando as mãos para segurar suas bochechas. — Eu te quero tanto, mas preciso te dizer uma coisa primeiro. — Harry fez uma pausa e acrescentou: — Então você pode ficar bravo.

Severus pareceu confuso, mas permaneceu em silêncio.

Harry tirou a varinha do bolso e apontou para o Mestre de Poções.

O corpo do Mestre de Poções imediatamente enrijeceu. Não importava o quanto ele confiasse em seu amante, Harry sabia que velhos hábitos são difíceis de morrer.

— Harry? — ele disse, com os olhos fixos na varinha do homem mais jovem.

Harry olhou nos olhos negros, temerosos e incertos, onde eles geralmente eram bastiões de força.

— Confia em mim? — ele implorou.

Severus parou por um momento e então assentiu.

— Voluntas Finis.

Severus engasgou, seus ombros caíram e ele parecia prestes a cair de volta na cama.

Harry agarrou-se a ele o tempo todo, murmurando "sinto muito" na jaqueta do outro homem, repetidamente.

— O que você fez?

Harry olhou para os olhos claros e furiosos de seu amante. Ele mordeu o lábio e tentou encontrar uma maneira diplomática de dizer 'Eu estava infeliz com a forma como você estava me tratando e, em vez de falar com você, traí completamente sua confiança ao encharcá-lo com uma poção usada em criminosos.'

— Você sabe como os aurores interrogam seus suspeitos?

Severus rosnou, seus olhos furiosos e seus dentes à mostra.

— Você me deu uma poção de suscetibilidade?

Harry assentiu.

Severus soltou Harry, jogando-o na cama. Ele rapidamente se levantou e seguiu o homem mais velho para fora do quarto, não querendo deixá-lo sair tão bravo.

Harry permaneceu em silêncio enquanto Severus andava de um lado para o outro na sala de estar, o rosto de seu amante mostrando um espectro de emoções. Ele podia ver raiva ali, mas a cada poucos momentos Severus olhava para Harry, abrindo a boca e fechando-a com um clique audível, como se não estivesse disposto a falar.

Harry não aceitaria nada disso. Não, se essa experiência provou alguma coisa, foi que ambos precisavam ser honestos um com o outro.

— Oh, pelo amor de Merlin, Severus — Harry implorou em suas mãos. — Eu usei uma poção de suscetibilidade em você! Você tem todo o direito de estar bravo comigo!

Severus parou de andar, finalmente se dirigindo ao seu jovem amante. Harry viu sua turbulência interior, seu desejo de gritar com Harry, mas também não querer causar outro colapso ao mesmo tempo. Finalmente, Severus pareceu se decidir.

— Por quê? Por que você faria isso comigo, conosco? Eu fui descuidado com você? Eu te tratei mal? Você está infeliz? — Sua voz caiu quando ele disse, quase baixo demais para Harry ouvir, —Você deseja ir embora? — O silencioso "eu" no final de sua declaração não foi dito, mas Harry ouviu mesmo assim.

— Não, para tudo. Você foi maravilhoso comigo, mas... Eu simplesmente não aguentava mais, Severus.

Ele se aproximou do outro homem, considerando uma vitória o fato de ele não se afastar dele.

— Não estou mais doente. Já faz um tempo que não fico, mas... Você estava me tratando como se eu fosse louco, como se eu fosse ter um colapso total a qualquer momento.

Severus zombou.

— Bobagem. Eu cuidei de você do jeito que um homem deve ser cuidado depois de tudo o que você passou.

Harry fez uma pausa, não querendo chatear Severus, mas também não querendo menosprezar a maneira como ele cuidou dele todos aqueles meses.

— Você fez. Devo minha sanidade a você. Mas estou bem há um tempo, Severus. Graças a você. — Harry entrou no espaço do outro homem, pegando as mãos de dedos longos nas suas. — Mas você me tratou do mesmo jeito depois que eu melhorei. Você não mudou quando eu mudei.

Severus baixou os olhos brevemente, cedendo ao argumento.

— Eu -

Harry colocou o dedo sobre os lábios do outro homem.

— Você me amou do único jeito que sabia, não é? Você não sabia como agir quando eu estava melhor, então você continuou fazendo o que tinha que fazer, esperando não ser descoberto.

Severus permaneceu imóvel e em silêncio.

— Eu também nunca estive em um relacionamento, sabia?

Severus zombou novamente.

— Sim, mas você tem dezoito anos e eu tenho trinta e nove. Eu sou o sócio sênior e... — Severus parou, sua dicção de marca registrada o abandonando. — Droga, eu deveria saber como fazer isso!

Harry sorriu para o Mestre de Poções, finalmente vendo o outro homem frustrado e perplexo. Imediatamente, Harry percebeu a oportunidade que estava diante dele.

Era a vez dele cuidar de Severus.

— Tudo o que preciso de você é que seja você mesmo. Eu te amo, sabia? Não uma versão diluída e molenga de você. Não vou quebrar se você me atacar. — Harry forçou Severus a encontrar seus olhos, colocando a mão gentilmente em seu queixo e atraindo o olhar do homem mais velho para baixo. — E você sabe o quanto eu tinha ciúmes de todas as outras pessoas neste castelo?

Severus levantou uma sobrancelha.

— Todos os outros ouviram sua inteligência, seu sarcasmo, sua personalidade, menos eu. Eu te amo - poções e sarcasmo incluídos.

Harry percebeu que Severus queria sorrir, mas estava se forçando a não fazê-lo.

— Você me manipulou, Harry. Eu confiei em você e você traiu essa confiança.

Foi a vez de Harry abaixar os olhos.

— Eu sei e sinto muito. Tudo o que posso dizer é que eu estava desesperado. Eu entendo se você nunca pudesse me perdoar, mas -

O discurso de Harry foi interrompido por um beijo.

— Suponho que não ajudei muito. Olhando para trás, para minhas ações, posso entender seu desespero. Você não fará isso de novo? — Era uma declaração e também uma pergunta.

Harry balançou a cabeça.

— Não, nunca. Eu prometo. — Harry abaixou a cabeça envergonhado sob o olhar escuro. Ele se sentiu péssimo pelo que tinha feito e Severus tinha todo o direito de nunca perdoá-lo. Um dedo manchado de poção levantou seu queixo para que os olhos verdes pudessem encontrar os pretos.

— Felizmente para você, eu sou do tipo que perdoa. — Severus levantou uma sobrancelha. —Mas apenas para treinadores de quadribol jovens e lindos que dizem que me amam.

Harry sorriu.

— Então estou perdoado?

Severus agarrou sua mão e o puxou para o quarto deles. Ele abriu a gaveta da mesa de cabeceira e tirou o frasco de lubrificante deles, colocando-o nas mãos de Harry.

— Não — ele disse, seus lábios se movendo sobre a orelha de Harry. — Mas você pode me compensar.

Fim.

Nothing so gentle | SnarryOnde histórias criam vida. Descubra agora