midnight two

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— Kel? Por que você está meio avoado hoje? — perguntou Frank e Kelvin percebeu que havia pego sua comida e estava brincando com ela há um bom período de tempo, já que o restante já tinha terminado de comer. — Você está bem?

— Quem é ela, Kelvin? — perguntou Luana com um sorriso malicioso.

Frank olhou curioso para Kelvin, que apenas ficou vermelho e evitou seu olhar.

— Não é nada do tipo, estava apenas pensando. — Kelvin não queria contar que estava tentando imaginar o que Ramiro estava pensando em fazer naquela noite, não queria contar que combinou de sair por seis noites com o garoto de impulsos destrutivos a quem todos assustava.

De repente, muitas pessoas começaram a gritar do lado de fora da lanchonete e outras saíram para olhar o que estava acontecendo. Berenice ergueu uma sobrancelha e olhou para Nando, que subiu os ombros sem entender o que poderia ser. Luana foi quem se levantou primeiro, seguida de Frank e Kelvin. Os cinco foram até a porta de vidro do local e viram algumas pessoas rodeando dois adolescentes que estavam a socos.

Um deles era Ramiro.

Kelvin ficou na ponta dos pés para ver melhor por entre as cabeças que cercavam a briga. O preto estava com um corte feio que ia de cima do nariz até o começo da bochecha e um lábio roxo e inchado, ele se encontrava sentado em cima do seu adversário, que estava com uma aparência muito pior, seu rosto era uma bagunça de sangue e inchaço e Ramiro parecia não se importar com isso, já que jogava soco atrás de soco sem fazer nenhum intervalo.

Kelvin percebeu que alguém havia ligado para a polícia, que agora corria em direção a Ramiro e o algemava, o levando contra sua vontade para a viatura. Em um milésimo de segundo, Ramiro encontrou os olhos de Kelvin e sua expressão se suavizou. Era como se ele se mostrasse violento apenas para os demais. Aqueles olhos contavam muito mais do que uma rápida olhada. Foi como se Kelvin fosse sugado para o passado no momento em que o pequeno Ramiro deixou um garotinho chorando no chão e ao olhar para o pequeno Kelvin, seus olhos irritados transformavam-se em olhos calmos.

Kelvin quer perguntar sobre aquilo, quer entender.

Ele quer sair com Ramiro mais vezes, quer conhecê-lo através de pequenas coisas, de pouco em pouco, em períodos curtos de tempo, os dois mergulhados em conversas não muito profundas, mas interessantes ao mesmo tempo.

Olhou para o relógio de uma garota ao seu lado. Cinco horas e vinte e sete minutos. Ramiro provavelmente ficaria preso pelo resto do dia e provavelmente do próximo, o que significava que eles não sairiam naquela noite.

Kelvin balançou a cabeça discretamente. Ramiro acaba de quase matar alguém a base de socos, ser preso e lá estava ele se preocupando de que não teriam sua segunda noite juntos. Todos já foram embora e ele continuava parado, olhando o sangue que deixaram para trás no chão. Deveria estar assustado com o Ramiro, como todos estavam, porque ele era realmente perigoso, e era possível que tivesse acontecido um homicídio ali mesmo se a polícia não tivesse chegado a tempo.

Kelvin quer estar com medo, mas o par de olhos escuros olhando para ele com calmaria e o sorriso divertido da noite anterior lhe impediam disso.

— Eu me preocupo às vezes, quando lembro que você mora ao lado dele — disse Frank ao seu lado. — Tenho medo de acordar e descobrir que você morreu.

Kelvin não respondeu, porque se ele o fizesse, ele iria discordar, e se discordasse, seria como defender Ramiro, que é o que ele não queria, não em voz alta, não para seu melhor amigo de infância que se assustava com o mais velho tanto quanto um coelho se assustava com um cão de caça.

Midnight | KelmiroOnde histórias criam vida. Descubra agora