Chapter 2 - Two fucked up.

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Daphne Dorsey, Detroit, 1995.


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Em geral pela noite não tinha muito trabalho a ser feito, afinal o movimento era muito mais baixo, não tinha nem comparação com as manhãs e tardes lotadas.

Era bom, assim eu ganhava a mesma coisa e trabalhava bem menos.
Só acho que não nasci para lidar com o público, as pessoas me estressam bastante.

Sorte que eu sou uma pessoa educada, ou pelo menos tenho que fingir que sou.

Terminei meus afazeres, o relógio na parede marcava que já passava das 23:00, ou seja, o fim do meu turno.
Passei no banheiro dos fundos, tirando o uniforme e colocando novamente minhas roupas, dessa vez vesti o casaco porque estava começando a ficar muito frio lá fora.

Quando saí, terminei de desligar as luzes da cozinha e me despedi das outras meninas, vi Grace, parada no salão principal, com os braços cruzados e as costas apoiadas no batente da porta.

- Algum problema?... - Franzi a testa, vendo a maneira a qual me olhava tão seriamente, me aproximando a passos lentos.

Grace é basicamente a dona desse lugar.
Quer dizer, o marido dela é, mas quem manda é ela.

- É, tem um problema bem ali na mesa 6! - Quase que esbravejou, virei os olhos até a mesa...
Era onde eu tinha deixado Marshall, agora ele estava deitado sobre a madeira, chuto que cochilava.

Cocei a nuca, pensando no que dizer, sei que Grace já estava enfadada com a presença dele aqui, isso porque eu sempre dava um jeito de convencê-la a deixá-lo pagar depois.

- Ah Grace... Dá um desconto! Ele disse para mim que vai pagar tudo o que deve aqui pro restaurante, ele sente fome, poxa!... Mas está um pouco sem grana nas últimas semanas!

- É sempre a mesma história, Daphne! Ele não pode comer de graça para sempre! Isso daqui é uma lanchonete não um centro de caridade! - Quando percebeu que exaltou-se, respirou fundo, fechando os olhos ao fazê-lo. - Olha... Ele tem que pagar pelo menos a metade, ou eu não vou conseguir fechar o caixa no fim do mês. - Mirou meus olhos, um pouco mais firme que nas outras vezes.

Até poderia pedir para que ela esperasse mais alguns dias... Mas o mês já estava acabando e eu não tinha a mínima certeza de que até lá Marshall já teria conseguido uma forma de arrumar dinheiro.

- Tudo bem, quanto ele deve? - Suspirei, tateando meus bolsos de trás.

- 70 dólares! E isso é só a metade do que ele tem gastado aqui nos meses anteriores. - Me olhou um pouco desconfiada.

- 70 dólares?! - Arregalei os olhos, balançando incrédula a cabeça. - Merda, quem diria que um prato de comida todos os dias daria tudo isso no final do mês!... - Reclamei comigo mesma, mas acabei por pegar algumas notas e entregar para ela. - Ele vai pagar o resto, prometo.

Ela pegou o dinheiro, analisando a situação e estreitando um pouco os olhos, não acreditando muito.

- Tá, que seja... - Dobrou os dólares, guardando-os no sutiã. - Agora tira ele daqui! - Apontou discretamente para Marshall.

Não respondi mais nada além de um aceno positivo.
Me virei até o centro do salão, desligando algumas luzes e fechando as janelas, logo após andando até ele.

- Marshall. - Dei um tapa leve em sua cabeça, o que o fez despertar de imediato. - Vem, levanta... Eu vou te levar lá pra casa.

Era isso ou ele dormiria na rua.
E mais uma vez volto a repetir: Não consigo simplesmente ignorar os problemas das pessoas.

- Sério? - Tirou os fones de ouvido, colocando-os apoiados na nuca, e abrindo um leve sorriso. - Valeu, Daph... Amanhã eu dou um jeito de vazar para outro canto. - Bocejou, ainda sonolento e com a voz fraca.

E eu? Bem, eu sempre finjo acreditar.

- Tá, tá bom. - Afirmei desconfiada. - Agora vamos, antes que a gente perca o último ônibus! - Cortei o assunto, o puxando por um dos braços até a saída, trancando a porta e andando até o ponto.


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Era um lugar pequeno, em geral tinha 6 cômodos, o que se tornava um saco quando se era dividido com 8 pessoas.
Eu tinha meu próprio quarto, os meninos dividiam os deles e eu dormia com Lizzie, minha irmã mais nova.
Mas como ela tem apenas 3 anos e medo do escuro ela sempre corre para o quarto da minha mãe no meio da noite.

Ou seja, na maior parte do tempo o quarto é só meu.

Mas isso é meio fantasioso, já que eu quase nem fico em casa o dia inteiro.

Fui até o quarto no final do corredor, bati algumas vezes esperando resposta, até minha mãe gritar que eu podia abrir.

- Oi mãe... - Deixei apenas um pequeno espaço aberto para enxergá-la.

Quando olhei envolta notei os dois ofegantes, quando digo os dois quero me referir a ela e ao merda do meu padrasto.

Que nojo, aposto que estavam transando, a cama e os cabelos deles completamente bagunçados, e também tinha aquele sorrisinho sem graça na cara dela.

São detalhes que eu prefiro ignorar.

- Oi querida, entra! - Simpatizou, fazendo um sinal com a mão.

- Não, valeu... Eu só quero saber se tudo bem o Marshall passar a noite aqui. - Fui direto ao ponto.

O sorriso dela diminuiu, até tentou disfarçar, já Norman nem fez questão de esconder o desgosto.

- Está de brincadeira? Todo dia a gente tem que resolver um problema diferente desse cara! Essa casa mal tem espaço para nós e você fica trazendo esses vagabundos aqui pra dentro! - Norman esbravejou, encostando-se na cabeceira e buscando um cigarro na cômoda. - Não! Se você quer dar para esse idiota procure outro lugar pra isso! - Negou, cuspindo as palavras com desdém.

- O que você disse, seu filho da puta? - Franzi o cenho, agora abrindo a porta e entrando no quarto. - Essa casa é minha também, eu morava nela muito antes de você então acho melhor que me respeite! Aliás, se quer ter tanto direito assim aqui dentro deveria começar a pagar a porra das contas, seu maldito folgado de merda! - Foi minha vez de gritar.

- Eii gente! Se acalmem, tá legal? - Minha mãe interveio, se levantando do colchão e vestindo um roupão de seda, antes de caminhar até mim. - Olha, Daph... Por mim tudo bem que seu amigo durma aqui. - Colocou uma das mãos em meu ombro, o que me acalmou um pouco.

- Está de brincadeira Kristen?! - Novamente o babaca pronunciou, agora revoltado, apertando o cigarro entre os dedos.

Ela olhou para mim, logo depois para a expressão raivosa dele, dando um suspiro pesado...
Merda, ela sempre faz o que ele quer!

- É apenas por essa noite, Norman! - Tentou convencê-lo, o que o fez bufar em contrariedade. - Amanhã cedo ele tem que sair, tudo bem? - Olhou para mim, falando num sussurro pouco mais suave.

Puxei o ar, sentindo-o abrigar meus pulmões, e engoli a seco.

- Tudo bem... Obrigado, mãe. - Sorri fraco, e ela acariciou minhas costas.

- Ele vai ficar no seu quarto? - Antes que eu respondesse, Norman fez o favor de executar isso para mim.

- Onde mais ele ficaria? É óbvio que só tem um motivo para ele estar aqui e nós todos sabemos qual é! - Riu amargamente, com a voz cheia de insinuações. - Mas tudo bem, Daphne, leve ele pro seu quarto, só não façam barulho! - Provocou-me ao extremo.

Eu juro que se não fosse minha mãe para me segurar, eu teria voado no pescoço daquele nojento!

Mas tentei manter a calma, não poderia estragar tudo agora.

- Vai se foder, Norman, não vou perder meu tempo com você! - O mirei de cima abaixo, lançando-lhe o dedo do meio, antes de sair e bater a porta.


[...]
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Aimless - Eminem.Onde histórias criam vida. Descubra agora