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⎯⎯    P.O.V: Roberto Nascimento.

O dia no batalhão tinha sido longo e cansativo, e ainda era apenas uma terça-feira. O sol já começava a se pôr quando finalmente cheguei ao meu escritório, sentindo o peso das horas consumidas em reuniões e planejamentos de operações, além das ações diretas realizadas hoje. Bom, nada fora do habitual. Cada decisão tomada, cada plano traçado, representava um esforço para manter a ordem em meio ao caos constante do Rio de Janeiro. Sentei-me à minha mesa, ansiando por um breve momento de descanso antes de ir para casa. Fechei os olhos, sentindo minhas pálpebras arderem após horas de tensão durante a operação. Foi então que o telefone tocou e minha paz se dissipou. Abri os olhos, murmurando palavras de frustração enquanto pegava o telefone e o levava ao ouvido.

- Capitão Nascimento? - A voz firme do coronel Pereira ecoou do outro lado da linha. Estranhei a ligação, já que ele era o coronel do BOPE de Brasília, e todos sabiam da distância considerável entre as duas cidades.

- Sim, senhor. - Respondi, curioso sobre o motivo da ligação.

- Precisamos conversar. Houve uma decisão que afeta diretamente a minha e a sua unidade. - Franzi o cenho, intrigado. Quando o coronel falava dessa maneira, geralmente significava que algo significativo estava prestes a acontecer, especialmente considerando a última vez que nos falamos, quando ele mencionou uma possível reformulação no comando.

- Estou ouvindo, senhor. - Disse, aguardando sua explicação.

- Uma oficial daqui do Distrito Federal, Capitã Almeida, será transferida para o seu batalhão. Ela enfrentou uma situação delicada em uma operação recente, e precisamos que você a auxilie na transição.

Senti um peso imediato nos ombros. Transferências inesperadas sempre complicavam as coisas, especialmente quando envolviam oficiais de outros estados. Além disso, o BOPE do Rio de Janeiro tinha suas próprias dinâmicas internas, e a adaptação não era fácil para ninguém. Coloquei um braço sobre a mesa, coçando levemente a nuca. Para piorar toda a situação, era uma mulher. Não estou falando isso como se eu fosse um machista, mas alguns oficiais aqui as vezes não tinham o melhor comportamento em relação às mulheres.

- Entendo, coronel. Mas por que ela foi transferida? - Perguntei, tentando não parecer curioso, embora minha curiosidade já estivesse evidente.

- Houve um incidente envolvendo a filha de um deputado. A operação não teve um desfecho favorável, e ela está sendo enviada para sua cidade sob muitas pressões políticas. - Suspirei. Estava acostumado com a interferência política, mas isso não tornava a situação menos frustrante.

- Sim, senhor. Farei o necessário para ajudá-la na adaptação.

- Ótimo. Espero que você possa oferecer a ela o suporte necessário. Almeida é uma oficial competente e precisa de um ambiente onde possa demonstrar seu valor. Ela chegará na quinta-feira, já que precisa de um tempo para se mudar.

- Entendido, coronel.

Desliguei o telefone e fiquei em silêncio por um momento, refletindo sobre a nova responsabilidade. Sabia que, independentemente das circunstâncias, seria meu papel garantir sua rápida adaptação e integração à equipe. Contudo, sabia que mudanças repentinas sempre encontravam alguma resistência inicial, especialmente em uma unidade tão grande quanto a nossa.

O trânsito de volta para casa foi um mix de buzinas e pensamentos. A cidade pulsava como sempre, assim como minha mente. Cheguei em casa pouco tempo depois, encontrando-a em um silêncio acolhedor, o qual apreciava profundamente. Nunca me envolvi com alguma mulher no ponto de querer me casar, e como sou solteiro e sem filhos, o silêncio era meu refúgio. Terapêutico.

Dark Shades Of Passion | Capitão Nascimento.Onde histórias criam vida. Descubra agora