⁰⁰²﹒ Como assim transferência?

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⎯⎯ P.O.V: Cassandra Teixeira.


- E agora, capitã? - O homem perguntou, enquanto me observava atentamente. Franzi a testa, olhei para ele e pela primeira vez em muito tempo, não soube formular palavras.

Senti-me mal, como mãe, imaginando o quanto os pais daquela garota ficariam desolados ao descobrir seu falecimento. Ela tinha acabado de completar 17 anos e destruiu sua vida pelo desejo de enrolar um baseado. Mantive o silêncio por alguns segundos, procurando o que dizer. Em seguida, ajustei minha postura e voltei à posição de capitã. Não era o momento de mostrar fraqueza, pelo menos não agora.

- Agora, nós seguimos o protocolo, Machado. - Finalmente respondi, tentando esconder a decepção em minha voz. - Vamos garantir que toda a documentação esteja correta e preparar a equipe para o que vem a seguir. Não podemos nos dar ao luxo de errar novamente.

Com um aceno de cabeça, Machado começou a organizar a equipe. Eu olhei uma última vez para o corpo da garota, sentindo a carga do fracasso pesar em meus ombros. Não podia deixar que isso abalasse meu comando. Precisávamos seguir em frente e fazer o que fosse necessário para assegurar que isso não se repetisse. Pouco a pouco, os oficiais que investigavam a casa saíram, restando apenas eu e o Subtenente Machado. Ele me observava o tempo todo.

- Será que vai dar muito B.O pro seu lado? Sabe, você estava na linha de frente, provavelmente vai levar esporro. - Dei de ombros e cruzei os braços, soltando um suspiro cansado, permitindo-me ser um pouco mais humana ao lado dele, já que era meu melhor amigo há anos.

- Acho que vai dar um pouco de problema, mas não tanto. Não entendo por que o deputado fala que a gente vai pagar as consequências por algo que foi culpa da filha dele. Mas o que realmente me ferra é ser mulher. Ele provavelmente vai dizer que meu cérebro é menor que o de um homem. - As últimas frases foram ditas em um tom irônico, e Machado riu baixinho, aliviando um pouco o clima. Ouvi a sirene da ambulância cada vez mais alta, sabendo que em breve a garota estaria em boas mãos.

Conversamos por mais alguns segundos e, em seguida, descemos para checar se a ambulância havia chegado. Confirmado. O corpo estava em cima de uma maca com um pano preto. Resolvi algumas burocracias, e nós, os oficiais, fomos para o veículo de apoio, entrando no mesmo e indo em direção ao nosso batalhão.

Ao sair do local, a operação continuava a ecoar em minha mente. Cada passo dado naqueles corredores apertados, cada sinal de violência que encontramos, tudo parecia conspirar para lembrar-me do quão frágil era a linha entre o sucesso e o fracasso em nossa missão. A garota estava morta, e com ela, nossa chance de uma conclusão bem-sucedida para aquela missão.

Quando finalmente estávamos fora da casa, o ar fresco não trouxe alívio. Eu sabia que havia uma tempestade se formando, e o peso da responsabilidade sobre meus ombros só aumentava. Precisamos nos reestruturar e preparar um relatório detalhado para o deputado. Havia vidas em jogo, carreiras em risco, e a integridade do BOPE estava sob escrutínio.

- Equipe, vamos nos reunir no batalhão. Precisamos discutir os próximos passos e garantir que estamos prontos para qualquer eventualidade. - Ordenei, a voz firme mas com um subtexto de urgência.

Os oficiais assentiram, e eles começaram a movimentação de retorno. Enquanto eles caminhavam de volta para a viatura, minha mente fervilhava com os próximos passos. Precisávamos ser estratégicos, precisávamos ser eficientes. Não havia mais espaço para erros. Alguns quarteirões depois, fomos surpreendidos por uma emboscada. Um grupo de criminosos, provavelmente aliados do traficante que estávamos caçando, apareceu de repente, armados até os dentes. O som dos tiros cortou o ar, e instintivamente nos abaixamos, buscando cobertura.

Dark Shades Of Passion | Capitão Nascimento.Onde histórias criam vida. Descubra agora