⁰⁰¹﹒ Alicia Krist

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- Brasília - DF -

Muitas pessoas acreditam que a vida começa no momento do nascimento, mas para mim, uma a minha existência começou quando entrei para o BOPE.

Sentir o coração bater no peito, ouvir o som da minha própria respiração, espancar vagabundo que insistem em gastar o dinheiro da mãe para comprar drogas enquanto ela trabalha arduamente para dar-lhes uma boa vida, são alguns dos motivos pelos quais ingressei no BOPE. Porém, o principal motivo que me mantém até hoje é a sensação de estar viva. A sensação de saber que estou fazendo algo que amo e que, se morrer, morrerei honrando a minha farda, honrando a caveira.

A princípio, tudo parecia estar estabilizado em minha vida. Eu exercia a profissão que sempre quis, ganhava bem, tinha uma casa própria, mantinha uma boa relação com minha filha, morava em uma cidade relativamente boa em alguns aspectos e estava bem comigo mesma. Até a missão de resgate da filha do deputado, Alicia Krist.

- Eu não sei de nada, por favor, eu não sei de nada! - O garoto de cabelos cacheados implorava, repetindo a mesma frase sem parar. Suas lágrimas escorriam pelo rosto, revelando seu pavor. Meus oficiais o cercavam; um deles segurava uma sacola, enquanto outro brandia um pedaço de madeira. Eu sabia que ele tinha informações valiosas e que seu silêncio era motivado pelo medo de retaliação. Ele estava ciente de que, independentemente da escolha, seu destino estava selado, seja pelas mãos dos meus homens ou dos traficantes do morro.

Olhei para meus oficiais, sinalizando silenciosamente para que aguardassem um minuto. Precisávamos dessa informação: a filha do deputado de Brasília estava desaparecida, e ele havia mobilizado todo o BOPE para a busca. Esse garoto estava envolvido com o chefe do morro; isso já sabíamos. Aproximando-me do garoto, ajoelhei-me à sua frente, adotando um tom mais calmo e persuasivo, antes de considerar medidas mais drásticas, visto que o garoto já estava totalmente machucado.

- Escuta aqui, moleque, eu entendo o seu medo, mas a informação que você tem pode salvar muitas vidas, inclusive a sua. Aproveite que ainda estou sendo paciente. - O garoto continuava a chorar, mas algo nos seus olhos mostrava que estava começando a considerar minhas palavras. Eu sabia que era nossa melhor chance de obter a verdade. Continuei olhando nos olhos do garoto, com meus olhos semicerrados, enquanto os demais oficiais começavam a perder a paciência.

- Capitã, ele não vai falar nada, a senhora não está vendo? - Um dos oficiais comentou, e eu me levantei, dirigindo um olhar severo para o sargento.

- Não abra a boca se for pra dizer besteira, sargento. Eu sei exatamente o que estou fazendo, então não duvide do meu método. - Respondi com um tom controlado, mesmo sabendo que esse tipo de comentário era um dos que mais me irritava profundamente, pois detestava ser contrariada. Peguei o queixo do garoto à minha frente e o ergui, forçando-o a olhar-me diretamente.

- Então, qual será a sua decisão? Vai colaborar ou vamos ter que continuar brincando com você? - O cacheado continuava a tremer, e a expressão em seus olhos parecia uma mistura de desespero e uma tentativa de coragem. Eu mantive o olhar fixo nele, sabendo que o momento exigia não apenas uma firmeza de comando, mas também uma habilidade para manipular a situação com precisão.

- Você sabe que o tempo está se esgotando, não sabe? - Continuei, minha voz adquirindo um tom mais incisivo. - Cada minuto que passa é um minuto a menos para você salvar a própria pele. Pense na sua família, pense em quem pode estar esperando por você lá fora.

Os oficiais ao redor estavam em silêncio, esperando minha decisão. O garoto finalmente desviou o olhar, uma pequena quebra em sua postura, revelando que a pressão estava começando a surtir efeito.

Dark Shades Of Passion | Capitão Nascimento.Onde histórias criam vida. Descubra agora