LÁGRIMAS DE TARTARUGA

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AQUAFOBIA

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AQUAFOBIA.

O medo irracional que faz a pessoa evitar lugares com água.

Praias, rios, piscinas... Não importa se a maré está baixa ou se a piscina em questão é de plástico e mal contém trinta litros. Pra minha mãe, água é sinônimo de pânico.

Seja lá o que desencadeou sua fobia, aconteceu antes de eu ter idade pra lembrar e nem ela, nem meu pai ou Alice tocam no assunto. O que faz eu me sentir pior ainda por ficar tão chateada.

Crescer sendo a única dentre meus amigos que nunca aprendeu a nadar não foi nada divertido e ser privada de ir para praia morando numa cidade rodeada delas também não... Mas com o tempo aprendi a lidar e respeitar os limites impostos pelos meus pais — e a burlá-los sem ser pega também.

Então, em teoria eu não devia estar tão ansiosa por causa de uma aula em campo na Praia do Coral e mesmo assim estou.

E muito.

Talvez porque essa seja minha primeira aula em campo ou quem sabe não foi a tapioca com queijo e leite condensado que meu pai fez pra mim? Ou então... Esse desconforto é uma paranoia causada pelo que minha mãe disse hoje mais cedo, enquanto tomávamos café da manhã.

Supostamente a cabeleireira dela, Gina, me viu na garupa de uma moto, o que minha mãe logo desconsiderou já que eu avisei que estaria na casa da minha melhor amiga, Ludmila, que não sabe pilotar moto.

E que está fingindo que morri desde que discutimos no estacionamento — vai ver esse é o motivo do meu mal estar.

Arrisco uma olhada rápida por cima do celular, só o suficiente para confirmar que meu antigo grupo de amigos está mesmo largado no chão do pátio jogando Uno e rindo sem ligar nem um pouco pra mim.

Kaique parece mesmo concentrado em vencer, mas eu reconheço a risada falsa de Ludmila e reparo quando ela se inclina sobre o ombro de Raquel para sussurrar algo maldoso que faz a outra menina virar o rosto na minha direção descaradamente.

Ok. Já chega.

Me obrigo a levantar de onde estou — um banco de pedra próximo ao auditório, que é só uma sala um pouco maior cheia de cadeiras de plástico e um data-show acoplado no teto — e ir para longe, independente da direção.

Não ligo que Lud continue agindo como se eu não existisse ou fale mal de mim, mas também não vou me torturar pensando no que elas estão conversando.

Respiro fundo, lembrando a mim mesma que por mais que ainda doa, não é o fim do mundo.

Provavelmente até tenha sido melhor cortar laços agora em vez de precisar lidar com as consequências de um afastamento conturbado no futuro, quando eu for embora de Cassiopeia para o mais longe que conseguir.

Meu estômago revira mais uma vez, quase como se concordasse comigo.

Pego o celular de novo, voltando a ler o último e-mail que Ellie me mandou.

Arco-íris Cor de RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora