Capítulo 1 -- Atraso.

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Satoru balançou a cabeça, tentando afastar a sonolência. Seus pés tocaram o piso frio do quarto, e ele se levantou com cuidado, como se temesse perturbar o silêncio matinal. O banheiro ficava ao lado da estante de mogno, e ele caminhou até lá, ainda meio zonzo.

A luz do banheiro era mais intensa, e Satoru piscou os olhos, ajustando-se à mudança. O espelho acima da pia refletia seu rosto sonolento, os cabelos desgrenhados e os olhos ainda meio fechados. Ele abriu a torneira e lavou o rosto, sentindo a água gelada despertá-lo aos poucos.

Enquanto escovava os dentes, Satoru olhou para o próprio reflexo. Os olhos azuis pareciam mais alertas agora, e ele sorriu de leve. O incenso ainda pairava no ar, misturando-se ao cheiro fresco do sabonete. Ele terminou suas higienes pessoais e voltou ao quarto, pronto para enfrentar o dia que se desenrolava lá fora, além das cortinas.

O espelho acima da pia era uma peça antiga, com uma moldura de madeira escura entalhada à mão. As bordas da moldura exibiam padrões intrincados de folhas e flores, desgastados pelo tempo e pelo toque constante. A superfície espelhada estava levemente embaçada, como se guardasse segredos e memórias de muitos anos.

O rosto de Satoru refletido ali era pálido, com traços suaves e regulares. A pele, ainda aquecida pelo sono, tinha uma tonalidade levemente dourada. Seus olhos azuis eram profundos e expressivos, com pequenas rugas nos cantos que denunciavam risadas e preocupações compartilhadas ao longo dos anos.

Os cabelos alvos, agora mais visíveis, caíam em mechas desordenadas sobre a testa. Alguns fios prateados se misturavam aos fios mais escuros, criando um contraste sutil. As sobrancelhas finas arqueavam-se ligeiramente, como se ele estivesse sempre em estado de curiosidade.

Os lábios de Satoru eram finos e bem desenhados, um tom natural de rosa pálido. Ele tinha um queixo firme, mas não austero, e uma pequena covinha aparecia quando sorria. As maçãs do rosto eram suaves, e as olheiras leves indicavam noites mal dormidas ou pensamentos profundos.

No geral, o reflexo no espelho revelava um homem de pouca idade, com uma beleza tranquila e uma aura de serenidade. Ele não era perfeito, mas havia uma história escrita em cada linha do rosto, uma jornada que o espelho testemunhara silenciosamente.

O contraste entre os cabelos brancos de Satoru e sua pele pálida é notável e intrigante. Os fios alvos, como flocos de neve, destacam-se contra a tez suave e quase translúcida. A palidez da pele realça ainda mais a prata dos cabelos, criando uma harmonia sutil entre os dois elementos. É como se o próprio tempo tivesse pintado essa combinação única em sua aparência, tornando-o memorável e cativante.

Satoru, com sua pele pálida e cabelos brancos, tem um gosto peculiar para a moda. Ele prefere roupas que reflitam sua personalidade tranquila e sua apreciação pela simplicidade, o que bem, sua riqueza não o deixava mostrar. Hoje, ele opta por um suéter de tricô azul-marinho, com mangas compridas e gola alta. A textura macia do tricô o envolve como um abraço acolhedor. Por baixo, uma camiseta branca básica, mas cara.

Na parte de baixo, ele escolhe calças de linho preto, confortáveis e elegantes. Os sapatos são mocassins de couro escuro, novos, mas que pareciam desgastados pelo tal usar apenas eles, e pelas caminhadas silenciosas. Satoru não se esquece de seu relógio de pulso, um modelo novo com pulseira de titanato de zirconato de chumbo, que marca o tempo com precisão.

Para completar o visual, ele coloca um cachecol de lã branco, que combina com os cabelos. O cachecol é um toque pessoal, um presente de seu melhor amigo, é ele o usa com carinho. Satoru olha para o espelho mais uma vez, satisfeito com sua escolha, e óbvio, com sua aparência.

Satoru pegou o celular ao receber uma ligação de seu melhor amigo, Suguru. O aparelho vibrava com urgência em sua mão, e ele atendeu com um misto de surpresa e apreensão.

"Satoru, onde você está?" A voz de Suguru soava furiosa do outro lado da linha. "Você não pode simplesmente sumir assim! Temos um compromisso importante hoje!"

Satoru suspirou. Ele sabia que havia esquecido algo, mas a sonolência da manhã o havia deixado desorientado. "Desculpe, Suguru. Eu... perdi a noção do tempo."

"Perdeu a noção do tempo?" A incredulidade na voz de Suguru era palpável. "Você é um advogado renomado, Satoru! Não pode se dar ao luxo de perder a noção do tempo. O cliente está esperando por você!"

Satoru passou a mão pelos cabelos brancos, sentindo-se culpado. "Eu vou me arrumar e sair imediatamente. Diga ao cliente que estou a caminho."

"Você tem dez minutos, Satoru. Dez minutos!" A ligação foi encerrada abruptamente, e Satoru olhou para o espelho mais uma vez. Seu reflexo parecia mais preocupado agora, as rugas nos cantos dos olhos mais profundas.

Ele ajustou o cachecol branco e pegou a pasta de couro que continha os documentos importantes. O relógio de pulso marcava o tempo implacável, e Satoru saiu do quarto com pressa, prometendo a si mesmo que não deixaria o tempo escapar novamente.

E assim, com os cabelos brancos voando ao vento, Satoru partiu para mais um dia de desafios e responsabilidades, enquanto o espelho antigo guardava silenciosamente sua história e suas escolhas.

Primeira pessoa

Narração: Satoru Gojo.

O motor ronca, e o volante vibra sob meus dedos. As ruas se desenrolam à minha frente, uma sucessão de asfalto e placas de trânsito borradas. Estou dirigindo apressadamente, o coração batendo no ritmo frenético das minhas preocupações.

Suguru estava furioso, e eu não podia culpá-lo. Esqueci o compromisso importante, e agora estou correndo contra o tempo para chegar lá. O trânsito parece conspirar contra mim, semáforos vermelhos piscando como advertências silenciosas. Cada segundo conta.

Os pensamentos ansiosos dançam em minha mente. O cliente espera, e minha reputação está em jogo. Como um advogado renomado, não posso me dar ao luxo de falhar. Mas o relógio implacável continua a avançar, e o suor frio escorre pela minha testa.

As ruas se tornam um borrão, e eu me pergunto se o espelho antigo no meu quarto está me observando. Será que ele testemunha minha agonia? As rugas nos cantos dos meus olhos parecem mais profundas agora, como marcas de preocupação esculpidas pelo tempo.

O cachecol branco roça meu pescoço, e eu me lembro do presente de Suguru. Ele sempre soube escolher os detalhes certos. Mas agora, o presente parece pesar sobre mim, como uma lembrança de minha falha.

A luz do semáforo muda para verde, e eu acelero. Os cabelos brancos voam ao vento, e o mundo lá fora se torna um borrão de cores e sons. O celular vibra no banco do passageiro, e eu ignoro a chamada. Não posso me distrair agora.

O espelho retrovisor reflete meu rosto pálido e determinado. Os olhos azuis estão focados na estrada, e os lábios finos estão apertados em uma linha tensa. Eu me pergunto se o reflexo no espelho aprova minhas escolhas ou se ele guarda silenciosamente minhas fraquezas.

Mais uma curva, mais uma reta. O escritório está à vista, e eu respiro fundo. Não posso mudar o passado, mas posso correr para o futuro. O tempo é implacável, mas talvez, só talvez, eu possa recuperar o que perdi.

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Revisão por: A.S.H

Escrito por: H.Y.S

Idealizado por: A.S.H and H.Y.S

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