Caminhava cuidadosamente, esforçando-me para não fazer muito barulho. Ansiava que meus passos fossem silenciosos como se pisassem em algodões, mas quanto mais tentava ser discreto, mais desajeitado me tornava. Acabei tropeçando, causando a queda de alguns livros, e atraindo olhares para mim. Através de um gesto com as mãos, pedi desculpas, mas ninguém ali pareceu aceitar, voltaram a virar suas caras para os livros sem falar qualquer coisa. Assim, agachei-me para recolher os exemplares do chão.— Não é tão bom com o silêncio, não é? — Alys perguntou, aparecendo de supetão e auxiliando-me.— Eu venho do circo, cê sabe. — Parece que o meu sorriso bobo conseguiu convencê-la da minha desculpa.— Vem para a parte da poesia. — Ela me puxava para o lugar mais reservado. — Ninguém fica aqui.— Por quê?— 2024, Cato. — Ela justifica, apontando para as cadeiras vazias e os livros empilhados nas prateleiras. — Ou estão lendo online, ou estão na ala de fantasia lendo sobre vampiros e lobisomens. Apertei os dentes, mordendo-os internamente. Minha mandíbula parecia esticar-se, tremendo de nervosismo. Rapidamente, minhas mãos se uniram por debaixo da mesa, com as unhas raspando uma contra a outra. Ela notou meu nervosismo.— Oh... — Ela se surpreende. — Você não gosta desse tipo de história, não é?— Não, não... — Sinto-me confuso sobre o que responder, inadvertidamente trazendo um cotovelo sobre a mesa e mordendo uma das unhas. — Sim, sim, gosto. — Minto para não deixar o real motivo evidente.— E qual o seu favorito? — Ela questiona com um olhar curioso. — Crepúsculo? — Ela faz uma expressão de desgosto.— Não... — Continuo desajeitado, levando a mão para coçar o cabelo. — É aquele, sabe, com dentes grandes...— E muito sangue... — Ela complementa, de maneira irônica, me desmascarando na mentira.Caímos na risada.— Ok, eu não leio. Desculpe por mentir. — Revelo a verdade. — É que lobisomens, vampiros... — Inalo o ar mais lentamente para terminar a frase. — Me assustam.— Deveria, porque eles existem. — Ela afirma com total certeza, fazendo-me arregalar os olhos. — O mundo é enorme demais para achar que só nós, seres humanos, existimos. Em algum lugar, deve haver algo diferente por aí. — Ela se inclina sobre a mesa, olhando-me nos olhos. — Não acha?A pergunta de Alys parecia inocente, mas, agora, me pergunto se ela sabia de algo. Ela retira um livro de sua bolsa e o posiciona sobre a mesa. Parece se tratar de um bestiário, já que, à medida que folheia, diversas criaturas bizarras surgem em ilustrações.— É claro que tudo pode ser folclore, mas... Toda lenda começa a partir de uma história. — Falou misteriosamente, voltando à sua posição original na cadeira.— Mas podem ser apenas histórias. — Engoli em seco.— Não tenha medo, Cato. Se algum dia você for atacado, eu te projeto. — Ela ainda mantinha um tom misterioso.— Mesmo? — Eu estava mais confuso e descoordenado do que responder.— Claro que não! — Revelou a piada. — Eu fugiria na hora. Igual no dia que aquele bicho rugiu. — Ela lembrou-se. — Eu acho que tinha algo que você queria me mostrar aquele dia, não é? — Eu pretendia mostrá-la o pingente de Leão. Agora me restavam as dúvidas.— Sim, tinha. — Confirmei. — Você iria ao circo comigo?— Mas eu fui te ver, Cato. — Ela disse rindo.— Mas nunca teve coragem de ver... Por dentro? — Atiço sua curiosidade.— Tô dentro! — Ela topou imediatamente. — Agora eu vou ter aula de ginástica, mas às 19h?— Ótimo. — Combinamos o encontro.Ela se ergueu, esboçando um sorriso, e deixou o bestiário aberto sobre a mesa. Em um piscar de olhos, retornou. Notei que uma flor se destacava na página aberta do livro. Seria a mesma que Leoni havia mencionado? Anêmona? Infelizmente, não pude confirmar, pois ela rapidamente voltou para pegar o livro, removendo-o da mesa.— Eu quase esqueci. — Ela o pegou, fechou e guardou na bolsa.Agora, surge em mim a dúvida: Quem seria Alys Ravenclaw? Poderia ela ter algum vínculo com a minha linhagem? Ou será apenas uma jovem comum, encantada por histórias fantásticas, sem ter a menor ideia de que essas criaturas realmente povoam nosso mundo? Era a hora de fazer uma investigação. No entanto, não ali, não na biblioteca. Quem mais poderia me fornecer informações sobre ela?Tenho certeza de que Felicia não saberia. Leoni talvez tivesse uma ideia, mas não seria aconselhável nos mantermos próximos todos os dias. De algum modo, precisava obter informações sobre Alys ainda hoje, pelo menos para assegurar sua segurança.Conforme as horas avançavam, ao retornar ao circo, me deparei com o picadeiro já desmontado. Hero estava em meio a um treino na barra do trapézio, enquanto Petit cuidadosamente domesticava uma das poucas pitons remanescentes. Maya, por outro lado, realizava manobras graciosas no chão, eventualmente se deslocando para o tecido suspenso.— Copperan. — Hero me chamou enquanto saltava para o solo. — Diga. — Aproximo-me enquanto retiro minha mochila da universidade. Ele me passa o talco e eu removo meus calçados.— Está atrasado para o treino. — Chamou minha atenção de forma ignorante, alongando os braços.— Você precisa melhorar. — De maneira ágil, Hero eleva meu corpo enquanto eu limpo minhas mãos com o pó branco. — Segure o máximo que der. — Ele afirmava enquanto segurava metade do meu corpo, suspendendo-o por um tempo, apenas para soltar em seguida. — Lembre-se sempre, o segredo do trapézio está no movimento e na resistência, não na força ou técnica.Caio de pé após alguns minutos.— Seus dedos estão rígidos. — Ele argumenta e se posiciona no meu lugar. — Deixe os músculos relaxarem. Os dedos são a base. Se a base estiver rígida, tudo estará fora do lugar.Respiro fundo.O início do treinamento é abruptamente interrompido por Alys. Incerta sobre por onde adentrar, ela busca em todas as possíveis entradas. Petit, Maya e Hero voltam sua atenção para mim, notando que ela veste um uniforme similar ao meu.— Hoje não tem espetáculo, mocinha. — Hero a expulsou.— Fui eu que a chamei. — Interrompi, recebendo seu olhar negativo.— E com que autoridade, Copperan? — Questionou ele.— Você é o cara que sorri para todo mundo no circo? — Alys corrigiu a maneira arrogante com a qual ele falava.As palavras pareceram cortar a língua do homem loiro, como navalhas. Hero revirou os olhos e pegou sua garrafa de água, levando-a até a boca.— Isso aqui virou um circo mesmo. — Engoliu um pouco da água. — Pausa para descanso. — Instruiu, resmungando.— Me ajuda com elas, May? — Petit guardava as duas pitons, pedindo a ajuda da irmã.— Não dá para acreditar, é a mesma pessoa? — Alys insistia na pergunta, incrédula.— Quem é que faz o palhaço sorrir? — Eu perguntei, com um sorriso.Nós nos dirigimos até o trapézio, onde ela se acomodou como se estivesse em um balanço. Assentei-me ao seu lado, observando as pequenas covinhas que se escondiam por trás de seus cabelos encaracolados.— Você consegue subir? — Ela estava curiosa, olhando a altura do trapézio.— Agora não dá. Seria perigoso. — Alertei. — Tem toda uma equipe por trás. A gente só usa pra treinar.— Minha mãe amava circos. — Ela começou a recordar, enlaçando seu braço na barra lateral do trapézio, enquanto me olhava. — Meu pai nem tanto, mas ela tinha uma paixão, agora vejo por quê. — Ela olhava para o picadeiro como se os olhos fossem esbugalhar.— Eu não escolhi vir para cá. Mas gostei de ter sido escolhido. Apesar de ser difícil, a magia do circo é singular. — Falei. — A plateia toda te aplaudindo e a energia de todos torcendo por você é única.— Você não ficou com medo? Do público?— Não. — Afirmei. — Meu medo era de errar. — Abaixei a cabeça, envergonhado. — E foi o que aconteceu.— Eu também tenho medo de errar. — Ela confessou. — Na ginástica, um passo errado pode te levar a uma lesão que pode durar meses.— Não sabia que você treinava ginástica. — Me surpreendi.— Há muita coisa que você ainda não sabe sobre mim, Cato. — Ela ainda mantinha o sorriso no rosto.— Quer tentar uma coisa? — Saltei do meu trapézio baixo e posicionei-me atrás dela.— Dá para balançar? —Ela perguntou com um sorriso, entendendo a minha intenção.— Claro que dá. — O trapézio estava baixo, então não havia perigos.Ela iniciou um movimento de balanço com o corpo, avançando e recuando repetidas vezes. Posicionei-me atrás dela, assumindo o papel de um pai brincando com seu filho, impulsionando-a para alturas cada vez maiores. Seu riso ressoava, transformando-se em gargalhadas, até que inadvertidamente caiu, rolando pela areia da arena.— Alys! — Com desespero, corri ao seu encontro.Vi seu rosto se voltar para mim, exibindo um ferimento aberto acima da sobrancelha. Mesmo com o rosto ainda coberto de poeira, ela conseguiu esboçar um sorriso.— Como você está?— Está tudo bem. — Coloquei Gentilmente a mão em sua ferida, sentindo a umidade do sangue deslizar. Ela, portanto, ergueu a mão até alcançar meu rosto e, delicadamente, me puxou para um beijo. Naquele momento, fiquei sem reação para corresponder. O beijo, breve, mas intenso, durou menos de cinco segundos. Logo ela interrompeu, levantando-se com um ar de nervosismo.— Desculpa. — Pediu, limpando a areia do uniforme e pegou a bolsa, saindo correndo. O que eu deveria fazer?Ao vê-la correr pela porta, relembro o breve e suave toque de seus lábios nos meus, tão quentes quanto o seu corpo. Simultaneamente, o som pulsante do meu coração ecoava em meu peito, como um relógio em seu incessante tic-tac, enquanto uma chama ardente surgia dentro de mim. Esta chama crescia, revolvendo-se em meu estômago como ventanias em uma noite tempestuosa. Estaria eu apaixonado por Alys?Independentemente da resposta àquela pergunta, qualquer ação seria preferível à inércia. Decidi segui-la ao sair do circo. Embora soubesse onde Alys residia, não tinha certeza se ela retornaria para casa naquele instante. A rota que ela seguia ao caminhar pela rua escura, sugeriu que sim. De tempos em tempos, as brisas noturnas agitavam seus cabelos cacheados, ampliando seu volume.Ela não demorou para chegar em casa, seu andar ainda refletia pressa, como se estivesse fugindo de algo. Provavelmente da vergonha. Ocultei-me atrás de um arbusto, escalando-o de maneira cautelosa para tentar observar suas ações através da janela. Logo percebi que ela começava a se despir à vista da janela de seu quarto, prontamente cobri meus olhos. Aquilo não era o que eu pretendia ver. Quero dizer, de certa forma, sim, mas não naquele momento, não sem seu consentimento.O erro me levou a tropeçar, produzindo um ruído alto no gramado. Inadvertidamente, corri, amplificando o som e pude distinguir os passos do pai dela se movendo para o exterior, com um rifle apontado para qualquer direção que pudesse originar o barulho. Percebi que o homem estava insatisfeito por não encontrar nada. Ele caminhou até a garagem e a abriu.Lá, deparei-me com uma visão que meus olhos relutavam em aceitar. Um extenso arsenal de armas de diversas espécies, exibidas como se compusessem uma imponente galeria. Se Leoni acumulava jaquetas, Ryker, por sua vez, era um colecionador de armamento. No entanto, as armas não eram o único item em exibição na garagem. Também estavam presentes as cabeças de sete animais empalhados. E não pareciam ser meros adornos decorativos, pois não eram animais comuns como cervos ou elefantes. Eram felinos...Os Ravenclaws são caçadores de Gatos Pardos.
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Gatos Pardos - Leão Branco: Ascensão Felina
Hombres LoboCato Copperan, adotado por uma família circense após anos em um orfanato, descobre que é descendente de uma linhagem mística de lobisomens felinos. Ao carregar o título de Leão Branco, ele se torna alvo de clãs rivais, determinados a destruí-lo para...