"O que há dentro do meu coração
Tenho guardado para te dar
E todas as horas que o tempo
Tem para me conceder
São tuas até morrerE a tua história eu não sei
Mas me diga só o que for bom
Um amor tão puro que ainda nem sabe
A força que tem
É teu e de mais ninguém."— Djavan
1997 - Rio de Janeiro.
*** Roberto Nascimento ***
Eu não sei o que me irritava mais, os traficantes fortemente armados ou a incompetência da polícia convencional. Observava de cima de uma laje com meu binóculo os PM saírem de dentro da viatura e conversarem com os traficantes, estavam fazendo uma troca.
Na minha época a PM tinha 30 mil homens, e com esse contingente dava para derrotar o tráfico. Só que os caras eram mal treinados e mal remunerados. Gente assim, não pode andar com arma na mão.— Caralho, que vontade de meter tiro nesses filho da puta. — Digo ainda os observando com o binóculo.
— Qual deles meu capitão? É só falar. — Sargento 14, que estava ao meu lado com um fuzil apontado para os nossos alvos, pergunta.
— Esse filho da puta da PM. Quatorze, deixa os caras terminarem a entrega lá, que o Renan segura eles lá embaixo.
— 01, acho que dá pra matar dois coelhos com uma porrada só aqui, hein.
— É cem por cento, 14? — Pergunto.
— Caveira, meu capitão.
— Então senta o dedo nessa porra. — Respondo retirando o binóculo e observando a olho nu, o tiro certeiro atingindo os dois. O traficante e o PM, porque para mim, quem ajuda traficante a se armar também é inimigo.
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É cara, eu tinha que admitir: Eu tava com o pavio curto. Mas quando cheguei em casa, as 3 horas da madrugada e as luzes ainda estavam acesas e dei de frente com a mesa de jantar com uma toalha bonita, velas apagadas e um jogo de jantar que foi cuidadosamente ajeitada, o peso caiu sobre meus ombros. Eu esqueci...
Vou direto para a cozinha e lá está ela, mexendo nos armários com algumas vasilhas na mão.
— Oi amor. — Digo ao entrar na cozinha. Não sabia como começar a me desculpar, talvez o pedido de desculpas não seja suficiente. Não foi a primeira vez que aconteceu. Eu não a julgaria se dissesse que sou o pior marido do mundo.
Mas quando ela me recebe com um sorriso, e não proferindo qualquer palavra raivosa. Logo aquela tensão pós uma operação saem dos meus ombros, e a sensação de paz que só encontro nela se instala em mim.
— Oi amor! — Responde com um grande sorriso, fechando a porta do armário e colocando os potes em cima do balcão, em seguida vindo até mim. — Você demorou, eu já estava ficando preocupada.
Lhe dou um selinho, em seguida a abraçando.
— Era pra você tá dormindo uma hora dessas.
— Faz três dias que eu não te vejo, Beto. — Ela diz, se afastando vagarosamente dos meus braços e me olha. — Você sempre chega quando já estou dormindo, e sai antes que eu acorde. Hoje, quer dizer, ontem foi nosso aniversário de casamento. Eu só queria comemorar com você, nem que fosse por meia hora.
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Essa tal liberdade - Capitão Nascimento
RomanceMaria Fernanda conheceu Roberto em uma roda de samba na pedra do sal, no dia do seu aniversário de 18 anos. Ele ainda estava se preparando para se tornar um capitão do BOPE, foi numa noite de descontração entre ele e seus amigos que ele a viu. Foi u...