A noite

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"E quando chega a noite
E eu não consigo dormir
Meu coração acelera e eu sozinha aqui
Eu mudo o lado da cama
Eu ligo a televisão
Olhos nos olhos no espelho
E o telefone na mão."
— Tiê.

*** Maria Fernanda ***

Acordei às 8 da manhã, e o lado da cama que foi preenchido por Roberto na madrugada agora estava vazio. Puxo o cobertor para cobrir meu próprio rosto, estava ainda com tanto sono e tão frustrada. Queria poder acordar e ele ainda estar aqui para poder abraçá-lo, não passar frio por ausência.
  Fecho os olhos e tento me forçar a dormir novamente, mas não consigo. Retiro o cobertor do rosto e me permito aceitar que era hora de se levantar. Observo o teto por uns segundos, vendo um fio de claridade que atravessa a cortina do quarto.
  Viro para a janela e vejo que o uniforme de Roberto está pendurado no cabide, logo sento na cama, a animação tomando meu corpo me fazendo levantar em seguida e sair do quarto para procurá-lo.

A casa estava vazia.

Mas se o uniforme está aqui, ele não saiu para trabalhar ainda, certo? Corro para o banheiro para escovar os dentes e tomar um banho. Logo estava pronta e fui à cozinha preparar algo para comer, estava faminta, um bom café e pães na mesa, o que faltava era apenas alguma fruta.
  Estava cortando um mamão quando escuto a porta da frente ser destrancada, e logo ele aparece na cozinha.

— Bom dia. — Diz entrando na cozinha, me dando um selinho, escondendo algo nas costas. Ele para na soleira da porta da cozinha. — Dormiu bem?

— Bom dia amor. Não dormi tão bem... poderia ter dormido mais. — Sorrio para ele. — E você?

Era perceptível que não também, suas olheiras eram tão grandes que me entristece por saber o quanto ele trabalhava.

— Comprei uma coisa pra você. — Ele diz, ignorando minha pergunta e estende uma caixa embalada de um papel presente cor de rosa. Paro o que estou fazendo, e recebo a caixa.

— Beto, não precisava! — O abraço. — Muito obrigada.

— Abre, quando eu vi isso na vitrine da loja eu só consegui lembrar de você.

Roberto falava enquanto eu rasgava o papel presente e via a imagem na capa da caixa.

— Um discman! Meu Deus, eu estava louca por um desses. — Dizia enquanto com certeza meus olhos brilhavam e eu o abraçava novamente. Não conseguia parar de sorrir.

— Eu sei disso, você vive com os fones de ouvido do seu walkman o tempo inteiro. Achei que cê gostaria de colocar seus cd's aí.

— Amor, você é o melhor homem do mundo. Não poderia ter me dado um presente melhor. Vou colocar o cd do legião urbana que eu comprei semana passada.

Desfaço o abraço tirando o discman da caixa e olhando todo os detalhes do aparelho azul e branco. Quando olho para Roberto, ele me observava com um pequeno sorriso nos lábios, seu olhar cansado não conseguia esconder que ele havia ficado satisfeito por me ver feliz.

— Amor, senta lá eu botei a mesa pra gente tomar café.

— Eu vou ter que sair agora, vou ter que chegar cedo no batalhão.

Essa tal liberdade - Capitão Nascimento Onde histórias criam vida. Descubra agora